Há séries que impressionam pelo impacto, pelo choque ou pela grandiosidade. “Segunda Chance”, disponível no Viki, escolhe um caminho diferente e, talvez por isso mesmo, mais honesto: o da delicadeza. É uma história que não grita suas emoções, mas as sussurra. E, nesse sussurro, encontra uma força rara ao falar de luto, amizade, amor e da coragem silenciosa de continuar vivendo quando algo essencial se perde.

A jornada de Sky é o ponto de partida emocional da série. A morte do pai não é apenas um evento do passado, mas uma ausência que atravessa cada gesto, cada silêncio e cada tentativa de seguir em frente. Sky não está “quebrado” de forma espetacular; ele está cansado, sensível, vulnerável. É nesse estado que Paper surge não como um salvador, mas como alguém que simplesmente fica. E talvez seja aí que “Segunda Chance” mais acerta: o amor nasce da presença constante, do cuidado diário, da escuta atenta.

A relação entre Sky e Paper é construída com uma naturalidade comovente. Eles começam como amigos, mas a série permite que o espectador perceba antes mesmo dos personagens que há algo diferente ali. O ciúme aparece sem alarde, o toque dura um segundo a mais do que deveria, o olhar carrega perguntas que ninguém ousa formular. O que poderia ser tratado como confusão adolescente ganha aqui um peso emocional verdadeiro. Não é apenas o medo de amar, mas o medo de perder aquilo que já é tão importante: a amizade.

Quando o sentimento deixa de ser apenas insinuado e passa a ser reconhecido, a série evita o clichê da revelação explosiva. O estranhamento inicial dá lugar a uma aproximação cuidadosa, quase tímida, como se ambos precisassem reaprender a se mover um em torno do outro. É um amor que cresce com hesitação, mas também com ternura. E isso torna tudo mais real, mais humano.

No outro eixo da narrativa está Jeno, um personagem fechado pelas marcas de uma traição que o fez desacreditar nas pessoas e nos afetos. Sua dor é mais silenciosa, quase invisível, mas igualmente profunda. Chris entra em sua vida como alguém disposto a ficar mesmo sem garantias. A relação entre os dois é menos imediata e mais resistente. Não se trata de “curar” Jeno, mas de mostrar que confiar novamente é possível, mesmo quando o passado insiste em machucar.

O que une esses quatro personagens é a sensação de estarem todos tentando sobreviver às próprias feridas. “Segunda Chance” entende que cada pessoa carrega seu tempo, seu ritmo e seus limites. Não há soluções fáceis nem promessas vazias. O amor, aqui, não apaga a dor, mas ajuda a torná-la suportável.

Visualmente, a série acompanha essa proposta com uma estética discreta e acolhedora. A fotografia suave, os enquadramentos próximos e a trilha sonora contida reforçam a intimidade da narrativa. As atuações apostam no não dito, nos silêncios que dizem mais do que longos discursos. É um tipo de drama que exige atenção e entrega do espectador, mas que recompensa com emoção genuína.

Avaliação geral
Nota do crítico
Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.
critica-segunda-chance-e-um-retrato-sensivel-sobre-aprender-a-amar-de-novo-quando-o-coracao-ainda-esta-em-pedacos“Segunda Chance” é uma série dramática romântica sul-coreana de 2021 que acompanha quatro jovens marcados por perdas, traumas e sentimentos não resolvidos. Após a morte do pai, Sky enfrenta o luto com o apoio constante de Paper, seu melhor amigo. A proximidade entre os dois se intensifica aos poucos, revelando ciúmes, afeto e sentimentos que vão além da amizade, até que ambos precisam encarar a descoberta de um amor genuíno.

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