Crítica – Superman de James Gunn recupera a essência do herói com emoção e humanidade

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Foto: Reprodução/ Internet

Após meses de antecipação, teorias e imagens de bastidores que incendiaram as redes sociais, Superman — primeiro capítulo oficial do novo DCU sob a liderança criativa de James Gunn — finalmente chega às telonas com a difícil missão de reintroduzir o herói mais icônico da cultura pop. O filme não reinventa a roda nem estabelece um novo padrão técnico ou estético para o gênero de super-heróis. Mas talvez isso nem fosse necessário. Em vez de buscar grandiosidade ou rupturas, Superman acerta justamente ao olhar para trás com sensibilidade e seguir em frente com o coração.

James Gunn, conhecido por sua estética irreverente e personagens excêntricos, entrega aqui um trabalho mais contido e respeitoso. Ele compreende o que o Superman representa — não apenas como símbolo de poder, mas como arquétipo de esperança, de nobreza moral e de humanidade em tempos sombrios. Sua abordagem não é cínica nem revisionista. Pelo contrário, o diretor opta por uma leitura clássica e idealista do personagem, ainda que ancorada nas ansiedades do presente: desinformação, crises institucionais, tensões geopolíticas e um mundo cada vez mais cético.

Um Superman de carne, osso e compaixão

No papel do novo Clark Kent, David Corenswet se destaca por uma entrega honesta, que foge da grandiloquência tradicional dos super-heróis. Seu Superman é gentil, vulnerável e, sobretudo, movido por empatia. É um homem que sente antes de agir, que se deixa afetar pelas dores do mundo e que, mesmo com todos os poderes, continua buscando seu lugar entre os humanos.

Sua atuação resgata o espírito de Christopher Reeve, mas com um toque mais introspectivo. Não é apenas um herói solar — é alguém que hesita, que se questiona, que erra. E é nesse espaço entre o mito e o homem que o filme encontra sua força emocional mais genuína.

A força simbólica diante do caos

Gunn acerta ao reposicionar o Superman em um contexto mais turbulento e ético. Os obstáculos que Clark enfrenta não são apenas físicos ou intergalácticos — são morais. Como agir diante da complexidade de um mundo que já não acredita em figuras puras ou verdades absolutas? Como ser um símbolo de esperança sem cair no messianismo ou na ingenuidade?

O roteiro evita o didatismo, apostando numa construção equilibrada entre ação, introspecção e dilemas sociais. Ainda assim, não escapa de algumas armadilhas.

Quando o universo se impõe sobre o protagonista

O maior problema de Superman é estrutural: a tentativa de introduzir um leque extenso de personagens e subtramas que acabam diluindo a jornada do protagonista. Presenças como a Mulher-Gavião e o Lanterna Verde — por mais interessantes que sejam em conceito — pouco acrescentam à trama central e funcionam mais como acenos ao futuro do DCU do que como elementos orgânicos do filme.

Essa pulverização narrativa também afeta a relação entre Superman e seu principal antagonista, Lex Luthor. [Nome do ator], em um desempenho contido e gelado, oferece um vilão que funciona em termos de ameaça, mas não em profundidade emocional. A rivalidade entre os dois, que deveria carregar o peso dramático da história, carece de camadas e conflito interno. O embate se torna quase burocrático, o que destoa da densidade emocional construída ao redor do protagonista.

Gunn mais maduro — e mais contido

Para os que esperavam o tom debochado e colorido de Guardiões da Galáxia ou O Esquadrão Suicida, o novo Superman pode soar surpreendentemente sóbrio. James Gunn demonstra aqui uma faceta menos espalhafatosa e mais madura, claramente ciente da responsabilidade simbólica de dirigir um personagem com tanta bagagem cultural e emocional.

Há espaço para humor e leveza — elementos que humanizam o longa sem comprometer seu coração dramático. Mas a grande virtude do filme está na sua modéstia emocional: ao evitar a tentação de fazer do longa uma vitrine para o novo universo compartilhado, Gunn opta por construir algo mais íntimo e centrado.

Veredito

Superman não é um divisor de águas no gênero nem o blockbuster definitivo que alguns talvez esperassem. Mas é, com todas as letras, um acerto. Um filme que entende a alma de seu personagem, que não tem medo de ser sincero em sua mensagem e que valoriza aquilo que tornou o Superman eterno: sua fé inabalável nas pessoas.

Talvez estejamos tão acostumados à ironia, à violência e ao cinismo, que ver um herói agir com genuína compaixão pareça revolucionário. Mas Superman não tenta ser revolucionário — ele só quer nos lembrar que ser bom ainda é uma escolha possível. E necessária.

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