Crítica | Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda traz de volta o charme do clássico em sequência divertida e nostálgica

Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan retornam com química afiada em uma comédia que equilibra emoção, humor e o charme do original.

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Foto: Reprodução/ Internet

Duas décadas após conquistarem o público com a comédia adolescente Sexta-Feira Muito Louca (2003), Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan estão de volta em Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, a sequência que resgata não apenas os personagens icônicos Tess e Anna, mas também a magia da fórmula corpo-trocado com uma nova roupagem emocional, atualizada e surpreendentemente madura. Dirigido por Nisha Ganatra e escrito por Jordan Weiss, o filme entrega uma comédia sensível e espirituosa, que respeita o legado do original sem deixar de se reinventar.

Na nova trama, reencontramos Anna Coleman (Lohan), agora adulta, mãe de uma pré-adolescente e prestes a se tornar madrasta. Tess (Curtis), por sua vez, vive uma fase consagrada: avó dedicada, vencedora do Oscar e com a mesma energia controladora de sempre. Quando as engrenagens da vida — e uma nova onda sobrenatural — as colocam de volta no corpo uma da outra, mãe e filha precisam, mais uma vez, se reconectar e repensar suas trajetórias. Só que agora há mais em jogo: duas famílias, gerações diferentes, responsabilidades complexas e um mundo que também mudou.

Ganatra, que tem experiência em projetos sensíveis com apelo cômico (The High Note, Late Night), acerta ao equilibrar o humor característico do primeiro filme com o peso emocional de duas mulheres que se amam profundamente, mas vivem em tempos e papéis distintos. A nova troca de corpos não é apenas um recurso narrativo repetido, mas um espelho para refletir sobre envelhecer, maternar, amar de novo e (re)aprender com o outro.

O carisma que atravessa o tempo

O maior trunfo do filme é, sem dúvida, a química intacta entre Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan. Se, em 2003, ambas entregaram performances hilárias e inesperadamente comoventes, em 2025 elas exibem um entrosamento ainda mais afiado, agora temperado com a bagagem da maturidade — delas enquanto atrizes e das personagens enquanto mulheres.

Curtis continua dominando com facilidade cada nuance cômica, e se diverte ao interpretar uma avó no corpo da filha adulta, enquanto Lohan, em um de seus retornos mais celebrados ao cinema, exibe uma delicadeza que não anula sua veia cômica. Seu timing permanece afiado, e há um brilho nostálgico em vê-la retornar ao papel que ajudou a eternizá-la como uma estrela da geração millennial.

Julia Butters, a jovem atriz revelada em “Era Uma Vez em… Hollywood”, também brilha como a filha de Anna. Ela oferece o contraponto de uma nova geração que assiste ao caos intergeracional com perplexidade, sarcasmo e, claro, uma dose de sabedoria precoce.

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Humor com coração

O roteiro de Jordan Weiss — criadora da série Dollface — opta por não reinventar completamente a roda. A estrutura segue familiar: as protagonistas trocam de corpos, enfrentam situações inusitadas no cotidiano da outra, criam embaraços públicos e finalmente descobrem, através dessa experiência, algo profundo sobre si mesmas. No entanto, o charme do filme está em como essa estrutura é revestida por novos temas.

Questões como envelhecimento, maternidade, luto, reconstrução familiar e até menopausa ganham espaço em meio ao riso fácil. Ao tratar dessas pautas sem perder o humor leve, o filme respeita sua audiência mais velha — aquela que cresceu com o original — ao mesmo tempo que oferece uma porta de entrada acolhedora para o público jovem.

Há cenas memoráveis: um jantar de noivado que descamba em caos corporal e emocional; um momento constrangedor (e hilário) de Tess, no corpo de Anna, tentando usar redes sociais; e uma tocante conversa entre as duas personagens num quarto de hotel, que remete diretamente ao clímax emocional do primeiro filme.

Nostalgia sem ser refém

A nostalgia é um ingrediente inevitável, mas felizmente Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda não se rende ao fan service fácil. As referências ao primeiro longa existem — uma menção ao show de rock adolescente, um flashback discreto, uma piadinha interna sobre a banda Pink Slip — mas funcionam como camadas adicionais e não como muletas narrativas.

Há, inclusive, um mérito na maneira como o filme se posiciona no universo da Disney sem precisar se tornar uma sequência “infantilizada”. Ele é mais maduro, mais introspectivo em certos momentos, e mais emocionalmente ambicioso do que se esperaria de uma comédia familiar padrão. Ainda assim, continua acessível, engraçado e encantador.

O peso da continuidade

Ganatra também acerta ao construir um universo visual que espelha o crescimento das personagens. A casa de Tess é agora mais elegante, mas ainda tem resquícios de sua personalidade controladora. Anna vive em um espaço mais orgânico e desorganizado, refletindo sua nova identidade como mãe e profissional. As escolhas estéticas — desde o figurino até a direção de arte — ajudam a contar a história com riqueza de detalhes, mesmo nos momentos mais caricatos.

A trilha sonora mistura canções atuais com músicas que evocam os anos 2000, criando uma ponte afetiva com o passado, mas sem parecer datada. A montagem tem ritmo ágil e preciso, fazendo com que mesmo os momentos mais absurdos pareçam verossímeis dentro da lógica do filme.

Foto: Reprodução/ Internet

Uma comédia com identidade própria

Ao final, o longa-metragem entrega exatamente o que promete — e mais um pouco. É um filme sobre família, sobre crescer e reaprender, sobre ceder espaço e retomar a escuta. Faz rir com sinceridade, emociona com suavidade e, principalmente, reafirma o poder do cinema de ser um reencontro: entre mãe e filha, entre gerações, entre atores e suas plateias.

Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan provam, mais uma vez, que carisma não tem prazo de validade. E que, sim, às vezes o raio cai duas vezes no mesmo lugar — e quando isso acontece com talento, empatia e propósito, só nos resta agradecer.

Avaliação geral
Nota do crítico
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Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.
critica-uma-sexta-feira-mais-louca-ainda-traz-de-volta-o-charme-do-classico-em-sequencia-divertida-e-nostalgicaA sequência de Sexta-Feira Muito Louca acerta ao combinar humor leve, emoção sincera e uma dose certeira de nostalgia. Com direção de Nisha Ganatra e roteiro de Jordan Weiss, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda traz de volta Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan em uma nova troca de corpos que reflete os desafios da vida adulta, da maternidade e das relações intergeracionais. A química entre as protagonistas continua irresistível, sustentando uma narrativa que respeita o legado do original enquanto apresenta novas camadas emocionais. O filme diverte, emociona e atualiza o clássico teen com charme e maturidade.

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