
Depois do fenômeno cinematográfico que foi a Parte 1, o segundo capítulo da adaptação dirigida por Jon M. Chu chega aos cinemas sob expectativas quase míticas — e sem a mesma capacidade de sustentá-las. Se o primeiro filme conquistou o público pela força emocional, pelo apuro estético e pela fidelidade arrebatadora ao musical da Broadway, Wicked: Parte 2 tenta expandir o universo de Oz e concluir a jornada de Elphaba e Glinda com espetáculo, cor e densidade dramática. No entanto, o que deveria ser um desfecho épico assume um caráter mais irregular: visualmente exuberante, narrativamente relevante, mas dramaticamente menos necessário do que se imaginava.
Um espetáculo maior e paradoxalmente mais frágil
O novo longa é maior, mais ambicioso e, curiosamente, mais frágil. É inegável que esta Parte 2 é mais segura de si do que seu antecessor. Chu dirige com firmeza o gigantesco aparato visual, construindo cenários grandiosos, figurinos elaborados e efeitos digitais mais polidos, que ajudam a moldar uma Oz ainda mais viva — e mais ameaçada pela tirania, pelo medo e pelos jogos políticos do Mágico.
Porém, apesar desse rigor estético, a narrativa se esvazia em vários momentos, transmitindo a sensação de uma trama secundária, quase protocolar, como se existisse apenas para conectar o fim da Parte 1 ao arco clássico já conhecido de O Mágico de Oz. Com isso, o impacto dramático se dilui, e a transformação de Elphaba na temida “Bruxa Má” frequentemente parece mais uma sequência de episódios do que um clímax emocional genuíno.

A trilha sonora perde vibração e derruba parte da magia
A trilha sonora representa o primeiro grande tropeço. Se na Parte 1 as canções eram memoráveis e emocionalmente carregadas, aqui elas soam menos marcantes e, em muitos momentos, burocráticas. A montagem musical raramente alcança o mesmo vigor; números que deveriam ser catárticos acabam em técnica sem transcendência. É uma perda sentida, sobretudo considerando a potência vocal de Cynthia Erivo e o salto impressionante de Ariana Grande desde o filme anterior.
Grandes momentos icônicos, mas tratados como notas de rodapé
Ainda assim, Wicked: Parte 2 entrega algumas das passagens mais icônicas do universo da franquia. A falsa morte de Elphaba é construída com força visual e tensão legítima. A transformação de Boq no Homem de Lata ganha contornos sombrios e finalmente confere ao personagem uma importância que sempre lhe faltou. A introdução de Dorothy, Espantalho e Totó funciona como ponte eficiente para o mito original — embora a aparição seja mais apressada do que o ideal.
O problema é que todas essas tramas parecem existir mais para cumprir o destino já conhecido de Elphaba do que para impulsionar a narrativa, funcionando como pequenos marcadores obrigatórios, não como motores dramáticos de fato.

O Mágico perde força e a crítica política também
Outro ponto frágil é a figura do Mágico. Embora a obra sempre o tenha retratado como manipulador, aqui o personagem surge diminuído, quase irrelevante. Falta presença, falta ameaça, falta convicção. Para um antagonista que deveria simbolizar o colapso moral de Oz, a construção é tímida e superficial. É uma escolha que enfraquece a crítica ao autoritarismo — um dos pilares ideológicos que sustentam o universo Wicked.
Ariana Grande dá um show e carrega o filme nas costas
Se há, porém, um elemento que realmente eleva este segundo filme, esse elemento é Ariana Grande. Sua Glinda surge mais contraditória, vulnerável e politizada, ganhando profundidade que ultrapassa a versão tradicionalmente dócil do musical. Grande entrega uma performance madura, tecnicamente precisa e emocionalmente consistente, transformando diálogos simples em momentos de impacto.
A queda de relevância de Madame Morrible — reduzida quase a um adereço — abre espaço para que Glinda se torne protagonista de fato no destino político e afetivo de Oz. Se a indicação ao Oscar era apenas uma possibilidade na Parte 1, aqui se torna uma expectativa real.

Cynthia Erivo mantém a intensidade — mas recebe menos do que merece
Cynthia Erivo, por sua vez, mantém a força interpretativa que a consagrou, oferecendo uma Elphaba intensa, ferida e politicamente marcada. No entanto, o roteiro limita seu alcance emocional. Falta densidade interna, falta conflito, falta a queda dramática que deveria sustentar a mitologia da personagem. A produção confia demais no conhecimento prévio do público — recurso sempre perigoso — e entrega menos do que Erivo tem potencial para realizar.
Um final grandioso, mas com gosto de “poderia ser mais”
No desfecho, Wicked: Parte 2 é grandioso e emocional, honra a mitologia criada há décadas e entrega o espetáculo que os fãs esperam. Mas também deixa uma sensação persistente de frustração. É um filme lindamente filmado, tecnicamente impecável, cheio de momentos poderosos, mas que não sustenta por si só a própria importância. Depende demais da Parte 1, e ainda mais do imaginário coletivo moldado por O Mágico de Oz.





