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Nesta quinta-feira, 19 de setembro, o filme “Prisão nos Andes”, dirigido pelo cineasta chileno Felipe Carmona, faz sua estreia nos cinemas brasileiros com uma distribuição pela Retrato Filmes. O longa-metragem será exibido em diversas capitais, como Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Maceió, Porto Alegre, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e São Paulo. Marcando a primeira incursão de Carmona no cinema de longa-metragem, o filme já é aguardado com grande expectativa por sua abordagem ousada e crítica sobre um dos capítulos mais sombrios da história do Chile.

A trama é inspirada em uma história real que teve grande repercussão no país de origem do diretor. A narrativa se passa em uma prisão luxuosa, localizada aos pés da imponente Cordilheira dos Andes, onde cinco ex-militares condenados por crimes cometidos durante a ditadura de Augusto Pinochet cumprem suas penas em um ambiente repleto de confortos impensáveis para a maioria da população carcerária. A prisão conta com piscina, jardins e até aviários, sendo guardada por funcionários que, em vez de vigilantes, mais se assemelham a empregados. A rotina dos presos segue tranquila, até que uma equipe de televisão chega para entrevistar um dos internos.

As declarações dadas à imprensa por um dos militares condenados criam uma série de consequências inesperadas, abalando a aparente paz no local. Temendo serem transferidos para prisões comuns, onde perderiam seus privilégios, os presos entram em um ciclo de paranoia e violência, enquanto a paisagem montanhosa, que deveria transmitir serenidade, intensifica a claustrofobia psicológica que domina o enredo.

O filme levanta questões contundentes sobre o sistema prisional e a impunidade, ao destacar como figuras poderosas podem escapar de uma verdadeira punição mesmo após cometerem crimes contra a humanidade. Carmona utiliza a premissa para refletir sobre a herança deixada pela ditadura de Pinochet e sobre o impacto duradouro desse período na sociedade chilena.

Em entrevista, o diretor comentou que a ideia do filme surgiu de sua curiosidade em entender as emoções e pensamentos dos responsáveis por algumas das maiores atrocidades da história chilena enquanto vivem em prisões que pouco se assemelham ao conceito comum de punição. Segundo Carmona, o filme também busca questionar a identidade chilena contemporânea e como o passado ainda influencia as divisões sociais e políticas no país.

O elenco é composto por alguns dos mais renomados atores do cinema chileno, incluindo Andrew Bargsted, Hugo Medina, Bastián Bodenhöfer, Mauricio Pešutić, Alejandro Trejo, Óscar Hernández e Daniel Alcaíno. No entanto, o destaque vai para Hugo Medina, que não apenas interpreta um dos torturadores, mas também traz uma experiência pessoal intensa para o filme. Medina foi ele próprio vítima da ditadura de Pinochet, tendo sido preso, torturado e exilado em Londres por muitos anos. Sua trajetória de vida, marcada pela brutalidade do regime, adiciona uma camada de autenticidade e profundidade à sua interpretação, o que promete emocionar e impactar os espectadores.

Felipe fez questão de trabalhar com atores que possuíam conexões pessoais com o período retratado, o que trouxe um nível de realismo raro para as cenas do filme. “Queria que o filme não fosse apenas uma reflexão histórica, mas também um testemunho vivo do que foi aquele período”, comentou o diretor.

O impacto do filme não se limita à história do Chile. Ao abordar questões universais como a impunidade de figuras poderosas, o filme convida o público internacional a refletir sobre como as sociedades lidam com o legado de regimes autoritários e até que ponto é possível alcançar justiça. Além disso, Carmona traça paralelos entre os acontecimentos retratados no filme, que se passam em 2013, e o Chile contemporâneo, destacando como as ideias políticas que sustentaram a ditadura de Pinochet ainda persistem no cenário atual.

“O filme é uma oportunidade para pensarmos não só no que aconteceu, mas no que ainda acontece. As desigualdades sociais e o autoritarismo não são coisas do passado”, afirmou Carmona em uma coletiva de imprensa antes da estreia.

Com sua estreia marcada para esta semana, “Prisão nos Andes” já atrai olhares atentos da crítica, que antecipa o filme como uma obra de grande relevância política e artística. Além disso, a trajetória de Carmona, que já recebeu elogios por seus curtas “William Shakespeare’s Dream in Constantinople” e “Los Camarones Tienen el Corazón en la Cabeza”, aumentou as expectativas para este primeiro longa.

O filme também tem sido discutido por sua estética visual. A prisão luxuosa, cercada pela imponência da Cordilheira dos Andes, foi concebida como um símbolo visual da discrepância entre a realidade vivida pelos presos de elite e a brutalidade dos crimes cometidos por eles. Segundo Carmona, a escolha do cenário foi estratégica para amplificar a sensação de isolamento psicológico e moral dos personagens.

Ao abordar com ousadia e sensibilidade as consequências duradouras da ditadura de Pinochet, o longa-metragem desponta como um dos filmes mais importantes do cinema latino-americano contemporâneo. A obra de Carmona não apenas remonta uma história que precisa ser lembrada, como também abre espaço para uma reflexão urgente sobre a fragilidade das democracias e o perigo do autoritarismo.

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