
Na noite de 28 de março de 2004, o bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, se tornou cenário de um dos crimes mais marcantes da crônica policial brasileira. Pouco depois das 21h30, tiros interromperam a rotina silenciosa da Rua Atibaia. Ao todo, onze disparos tiraram a vida de Luiz Carlos Rugai e de Alessandra de Fátima Troitino, respectivamente pai e madrasta de Gil Grego Rugai, então um jovem estudante de jornalismo. As informações são do G1.
O caso, carregado de reviravoltas e detalhes que beiravam o roteiro de um filme, rapidamente ganhou espaço nas manchetes, nas discussões jurídicas e, principalmente, na imaginação popular.
Na próxima segunda-feira, 11 de agosto, às 22h45, o Doc Investigação promete revisitar essa história, trazendo novas informações, entrevistas e análises que podem lançar luz sobre aspectos ainda nebulosos do processo. É uma oportunidade de revisitar não apenas os fatos, mas também o clima de uma época em que a cobertura midiática de crimes começava a ganhar formatos mais próximos das séries investigativas de hoje.
O início de um conflito familiar
Gil Rugai não era um desconhecido para o pai. Pelo contrário, trabalhava diretamente com ele na produtora Referência Filmes, empresa comandada por Luiz Carlos. Jovem, com aparência calma e estudando jornalismo na PUC-SP, Gil cuidava da contabilidade da produtora.
Mas, segundo as investigações, a relação entre os dois começou a se deteriorar quando Luiz Carlos descobriu um desfalque de mais de R$ 25 mil nos cofres da empresa. Para a promotoria, esse teria sido o estopim do conflito.
No dia 22 de março de 2004, apenas seis dias antes do crime, a tensão chegou ao ápice. Gil foi expulso da casa onde vivia com o pai e a madrasta. O rompimento foi brusco e definitivo, deixando no ar um ressentimento que, para os investigadores, se tornaria combustível para a tragédia que viria.
A noite do crime
Era um domingo. O casal Luiz Carlos e Alessandra estava em casa quando, segundo a perícia, alguém arrombou a porta. Os disparos foram rápidos e fatais. Luiz Carlos foi atingido várias vezes, e Alessandra também não teve chance de reação.
Testemunhas ouviram os tiros e chamaram a polícia, mas já era tarde. O corpo do empresário foi encontrado caído na sala, e o de Alessandra, próximo ao quarto.
No dia seguinte, o vigia da rua afirmou ter visto Gil Rugai saindo da casa do pai na noite do crime, acompanhado de outra pessoa que nunca foi identificada. O detalhe adicionava um elemento de mistério: quem seria esse possível cúmplice?
As provas que mudaram o rumo do caso
As investigações avançaram rapidamente. Uma semana após o crime, a Polícia Técnico-Científica encontrou um cartucho de bala no quarto de Gil, que teria sido disparado pela mesma arma usada no assassinato. Em 6 de abril de 2004, Gil foi preso preventivamente. Ele negava qualquer envolvimento, mas a promotoria acreditava ter um conjunto sólido de provas.
O ponto decisivo veio em 25 de junho de 2005, quando a arma do crime foi encontrada no prédio onde Gil mantinha um escritório. Além disso, uma pegada compatível com a dele foi registrada na porta arrombada da casa das vítimas.
Idas e vindas da prisão
O caso não seguiu um caminho linear. Gil Rugai passou por diferentes regimes de prisão e períodos em liberdade.
Entre 2004 e 2006, permaneceu detido, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu sua liberdade. Em 2008, foi preso novamente, acusado de violar condições judiciais ao se mudar para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, sem comunicar o juiz — segundo ele, para prestar vestibular.
Em 2010, voltou a ser solto, enquanto a defesa buscava novas perícias e questionava as provas técnicas. Essa estratégia acabou atrasando o julgamento por anos, com sucessivos pedidos de exames e esclarecimentos.
O julgamento e a condenação
Em 2013, quase nove anos após o crime, Gil Rugai foi finalmente julgado. O caso atraiu grande atenção da mídia: jornalistas, curiosos e até estudantes de direito lotaram o Fórum Criminal da Barra Funda.
O júri considerou o conjunto de provas suficiente para condená-lo a 33 anos e 9 meses de prisão em regime fechado.
A defesa, comandada pelo advogado Marcelo Feller, sustentava que havia lacunas na investigação e questionava a confiabilidade das provas periciais. Já o promotor Rogério Zagallo argumentava que a motivação, as evidências físicas e as testemunhas formavam um quadro claro de culpa.
O juiz Adilson Paukoski Simoni determinou que Gil poderia recorrer em liberdade, o que manteve o réu fora da prisão por mais algum tempo.
Recursos e progressão de pena
Mesmo após a condenação, o caso continuou a gerar movimentações jurídicas. Em agosto de 2020, o Supremo Tribunal Federal rejeitou um novo pedido da defesa e manteve a condenação.
No final de 2021, a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani autorizou que Gil passasse para o regime semiaberto. Porém, em abril de 2022, a Justiça, atendendo ao Ministério Público, cassou essa decisão e determinou a realização de um teste de Rorschach — exame psicológico famoso por usar manchas de tinta para avaliar a personalidade.
Somente em 14 de agosto de 2024 é que Gil Rugai obteve a progressão para o regime aberto, deixando a prisão para cumprir o restante da pena sob condições.
A nova abordagem do Doc Investigação
O episódio que vai ao ar nesta segunda-feira promete aprofundar pontos pouco explorados. Segundo informações de bastidores, a produção entrevistou peritos, advogados, jornalistas e pessoas próximas ao caso. Além da reconstituição da noite do crime, o programa deve trazer novos documentos e imagens de arquivo, além de discutir como a cobertura midiática influenciou a percepção do caso.
















