Na noite de hoje, 12 de outubro, o Domingo Maior da TV Globo apresenta um dos filmes mais intensos e surpreendentes do cinema sul-coreano contemporâneo: A Vilã (The Villainess). Lançado em 2017 e dirigido por Jung Byung-gil, o longa-metragem estrelado por Kim Ok-bin combina ação visceral, drama psicológico e uma estética cinematográfica inovadora. Mais do que um simples filme de ação, A Vilã é uma jornada de vingança, dor e autoconhecimento, conduzida por uma protagonista que luta para se libertar das correntes de um passado marcado pela violência.

Um início explosivo: a cena que entrou para a história

Desde os primeiros minutos, A Vilã mostra ao público que não pretende seguir fórmulas convencionais. A sequência inicial é uma das mais marcantes do cinema recente: filmada em plano subjetivo, a cena coloca o espectador dentro da ação, acompanhando o olhar e os movimentos de Sook-hee, uma assassina profissional que invade um prédio repleto de inimigos. Em uma coreografia perfeita de tiros, golpes e caos, a câmera se move como se fosse uma extensão da personagem, criando uma imersão total.

Ao final da sequência, quando Sook-hee é finalmente cercada e a câmera se afasta de seu ponto de vista, revela-se o rosto da protagonista — uma mulher ensanguentada, de olhar vazio e alma ferida. É o primeiro contato do público com a personagem que guiará toda a narrativa. Essa abertura eletrizante é um manifesto visual do diretor Jung Byung-gil, que demonstra desde o início o domínio técnico e a ousadia estética que caracterizam sua obra.

Sook-hee: uma mulher forjada pela dor

A protagonista, vivida por Kim Ok-bin, é uma das figuras femininas mais complexas do cinema recente. Órfã desde pequena, Sook-hee foi sequestrada por uma organização criminosa e treinada para se tornar uma assassina letal. Sua vida inteira foi moldada pela violência, e sua identidade foi construída em torno da obediência e da sobrevivência.

Após a morte de seu mentor, ela é recrutada por uma agência secreta do governo coreano, que lhe oferece uma promessa tentadora: trabalhar como agente por dez anos e, em troca, conquistar liberdade total. Sook-hee aceita o acordo e assume uma nova identidade, passando a viver como Chae Yeon-soo, uma atriz de teatro em Seul. Aos poucos, ela tenta se adaptar a uma rotina “normal”, mas o passado não demora a reaparecer.

Dois homens entram em sua vida e despertam lembranças dolorosas: Joong-sang, um amor antigo que esconde segredos sombrios, e Hyun-soo, um agente infiltrado designado para observá-la. A partir desse ponto, o filme mergulha em uma teia de traições, segredos e revelações que desafiam a percepção da protagonista sobre quem ela realmente é.

A direção que mudou o cinema de ação sul-coreano

Jung Byung-gil, o diretor de A Vilã, transformou o gênero de ação com uma abordagem inovadora e visceral. Conhecido anteriormente pelo filme Confession of Murder, Byung-gil usa a câmera de forma livre e fluida, criando uma experiência cinematográfica quase sensorial. A ação em A Vilã não é apenas um espetáculo visual, mas também uma linguagem emocional. Cada golpe e cada disparo são extensões da dor e da raiva reprimidas de Sook-hee.

O diretor mistura recursos de videogame, técnicas de filmagem em primeira pessoa e planos-sequência de tirar o fôlego. A fotografia aposta em tons metálicos e sombrios para refletir a solidão da protagonista, enquanto a trilha sonora, com elementos eletrônicos e orquestrais, intensifica o clima de tensão e tragédia. O resultado é um filme que redefine o modo de contar histórias de vingança, aproximando o público da mente e das emoções da personagem principal.

Um thriller psicológico disfarçado de filme de ação

Embora seja lembrado por suas cenas de luta e perseguição, A Vilã vai além do simples entretenimento de ação. Trata-se de um thriller psicológico que discute identidade, manipulação e perda. Sook-hee é uma marionete controlada por diferentes forças — primeiro pelos criminosos que a treinaram, depois pelo governo que a usa como arma e, por fim, pelos próprios traumas que a impedem de viver plenamente.

O roteiro, escrito por Jung Byung-gil e Jung Byeong-sik, aposta em uma estrutura não linear, alternando entre passado e presente. Essa construção fragmentada reflete a mente confusa e atormentada da protagonista, que tenta reconstruir sua história enquanto descobre mentiras e manipulações que a cercam desde a infância.

Há momentos de pausa que contrastam com a brutalidade das cenas de ação, como os instantes em que Sook-hee ensaia no teatro ou interage com sua filha. Nessas cenas, o filme revela uma humanidade que parece impossível em meio à violência, reforçando que por trás da assassina existe uma mulher que deseja apenas paz.

Amor, maternidade e a busca por redenção

Um dos elementos mais surpreendentes de A Vilã é a presença da maternidade como força motriz da narrativa. Sook-hee torna-se mãe durante sua nova vida e, por meio da relação com a filha, redescobre sua humanidade. É esse amor que a impulsiona a enfrentar seu passado e desafiar aqueles que a manipularam.

A maternidade, no entanto, não é retratada de forma idealizada. É uma experiência dolorosa e arriscada, marcada por medo e sacrifício. Ser mãe, para Sook-hee, é resistir a um sistema que a desumanizou. É lutar para quebrar o ciclo de violência e oferecer à filha um futuro que ela nunca teve.

A interpretação de Kim Ok-bin é o coração do filme. Sua atuação combina força física e vulnerabilidade emocional, transmitindo o peso de uma vida marcada por dor e solidão. Ela consegue transformar uma assassina fria em uma personagem profundamente humana e comovente.

O elenco e a força das interpretações

Além de Kim Ok-bin, o elenco de A Vilã é composto por grandes nomes do cinema coreano. Shin Ha-kyun interpreta Joong-sang, o homem que marcou o passado da protagonista e cujo retorno desencadeia uma série de reviravoltas. Sung Joon, no papel de Hyun-soo, traz sensibilidade ao agente encarregado de vigiá-la, que acaba se apaixonando por ela. Kim Seo-hyung, por sua vez, dá vida a Kwon-sook, a comandante do serviço secreto que controla a vida de Sook-hee com frieza e manipulação.

Esses personagens funcionam como reflexos da protagonista, representando diferentes aspectos de sua personalidade e de seu conflito interno. Cada um deles adiciona uma camada emocional à história, tornando o filme mais denso e imprevisível.

Um fenômeno internacional

A Vilã estreou mundialmente no Festival de Cannes de 2017, onde foi aplaudido de pé por quatro minutos. O longa consolidou Jung Byung-gil como um dos diretores mais inovadores de sua geração e reafirmou o prestígio do cinema sul-coreano no cenário internacional.

O filme foi vendido para 136 países, incluindo Estados Unidos, França, Alemanha, Japão e Brasil. Essa distribuição ampla demonstra o impacto global da produção, que conquistou tanto fãs de filmes de ação quanto admiradores de cinema autoral. Nos Estados Unidos, foi comparado a obras como Nikita: Criada para Matar, de Luc Besson, e Kill Bill, de Quentin Tarantino, embora possua uma identidade própria e um tom mais sombrio e emocional.

O sucesso de A Vilã ajudou a impulsionar a presença do cinema coreano no mercado ocidental, abrindo caminho para produções posteriores como Parasita e Round 6.

O impacto no público brasileiro

A exibição de A Vilã no Domingo Maior representa um marco importante na programação da TV aberta brasileira. O público nacional, que tem se mostrado cada vez mais receptivo a produções asiáticas, terá a oportunidade de conhecer uma obra que une emoção e intensidade.

A dublagem brasileira, com vozes de Beatriz Villa, Gabriel Noya, Luciana Baroli, Teca Pinkovai e Vii Zedek, preserva o tom sombrio e dramático da versão original, tornando a experiência acessível sem perder a carga emocional. É um exemplo de como o cinema internacional pode dialogar com diferentes culturas e públicos.

A estética da violência e a poesia do caos

O grande diferencial de A Vilã está na maneira como trata a violência. As cenas de luta não são meros espetáculos de sangue, mas expressões da alma da protagonista. A coreografia dos combates é milimetricamente pensada, transformando cada confronto em uma dança trágica entre vida e morte.

O contraste entre a brutalidade das cenas de ação e a delicadeza dos momentos íntimos cria uma atmosfera poética e sombria. Jung Byung-gil transforma o caos em arte, revelando a beleza escondida na destruição. Essa dualidade é o que torna o filme tão marcante e emocionalmente poderoso.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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