Foto: Reprodução/ Internet

Com metáforas delicadas e reflexões profundas, o terceiro episódio da antologia ‘Histórias Impossíveis’ promete cativar o público em sua exibição no programa Falas de Orgulho, previsto para ser transmitido pela TV Globo no dia 26 de junho de 2023, durante a semana em que se celebra o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+. Intitulado ‘Sísmicas’, o episódio único de amor na série de ficção, criada por Renata Martins, Jaqueline Souza e Grace Passô, coloca em destaque o casal formado por Lena (Ana Flavia Cavalcanti), uma mulher cisgênero, e sua namorada Kátia (Kika Sena), uma mulher transgênero. Ao decidirem morar juntas na casa que Lena herdou da avó, elas terão que enfrentar ameaças que colocam o relacionamento em xeque.

‘Histórias Impossíveis’ apresenta narrativas ficcionais que abordam os medos femininos a partir de diversas perspectivas de mulheres contemporâneas, sempre relacionadas às efemérides do ano. Nessa trama centrada nas questões LGBTQIAPN+, Lena e Kátia embarcam em uma fase mais sólida de seu relacionamento, mas precisam lidar com “fantasmas” internos e externos que abalam a estrutura do que estão construindo.

“Cada episódio da série possui um tom diferente, uma abordagem única para tratar de um assunto fundamental do nosso realismo social, a partir do gênero. Queríamos abordar o tema de um relacionamento entre duas mulheres de uma maneira que aproximasse o público, mostrando os movimentos comuns e universais de uma história de amor, com seus encontros, desencontros, medos, desavenças e reconciliações, para que todos pudessem se reconhecer e sentir empatia”, conceitua a diretora artística Luisa Lima, que assina a direção do episódio juntamente com Thereza de Medicis e Graciela Guarani.

A falta de um lar ou a possibilidade de perdê-lo, um tema frequente entre o grupo identitário, devido aos conflitos que muitas vezes surgem em cada realidade familiar, é abordada em paralelo à especulação imobiliária crescente nas grandes cidades. A construtora que adquiriu várias residências no bairro de Lena faz uma oferta pela casa que pertencia à sua avó, o que abala Kátia. Relembrando episódios de violência e intolerância, a personagem expressa o desejo de ter seu próprio lugar no mundo, enquanto ameaças reais se misturam com fantasias e invadem o espaço privado da casa. Juntas, Kátia e Lena tentam descobrir como enfrentar as dificuldades e superar toda a turbulência do mundo exterior, que insiste em invadir o espaço privado e abalar o relacionamento delas. No entanto, ao se depararem com uma figura desconhecida (interpretada por Nena Inoue), as duas vislumbram a força necessária para seguir em frente.

“O episódio traz atrizes que protagonizam pela primeira vez uma história na TV. Kika Sena e Nena Inoue foram indicações da preparadora de elenco Letícia Naveira. Fiquei maravilhada com a atuação da Kika em ‘Paloma’, do Marcelo Gomes. Já a Ana Flávia Cavalcanti estava escalada para esse papel desde a escrita do roteiro. Ela foi uma atriz colaboradora do projeto desde o início”, apresenta Luísa.

“Lena é uma mulher muito íntegra, que expressa seu amor através das mãos. Ela prepara refeições e faz entregas, é uma mulher que vive nos subúrbios e luta pela sobrevivência de forma digna. Ela ama Kátia e está muito feliz com a chegada dela em sua casa. Aprendi com Lena a delicadeza nos gestos e nas palavras, ela é muito mais paciente do que eu”, analisa a atriz Ana Flavia Cavalcanti.

“Kátia tem muito de mim e eu tenho muito dela, uma vez que somos atravessadas por um relacionamento lésbico afrocentrado e estamos sempre lidando com as opressões que nos afetam. Durante as gravações, um momento marcante foi quando me encantei com a atriz Nena Inoue interpretando Xica em uma cena em que ela conta uma memória sobre como foi pedida em casamento. ‘Sísmicas’ trata das rachaduras que uma cultura LGBTfóbica pode causar em nós e em nossos relacionamentos, mas, além disso, nos ensina como as relações afetivas LGBTQIAPN+ são fortalecidas pelas lutas e conquistas ancestrais que compartilhamos”, reflete Kika Sena, que faz sua estreia na televisão.

Em sua primeira incursão no audiovisual, a roteirista Hela Santana ressalta que o sentimento de estranhamento vivenciado por Kátia é uma experiência comum entre pessoas transgênero. “A série inteira apresenta situações que poderiam ter acontecido na televisão horas antes, sabe? São temas muito atuais. Quando pensamos em mulheres trans negras, em particular, elas são os corpos mais vulneráveis dentro da comunidade. Mais de 80% dos casos de violência e assassinato, geralmente acompanhados de tortura, que ocorrem no Brasil são cometidos contra mulheres trans e travestis negras. E as pessoas transmasculinas são as que mais sofrem suicídios”, ressalta. “Trazer esse olhar para esses terrores femininos em sua multiplicidade e explorar a diversidade em um contexto que não é estranho para os consumidores de séries e filmes, mas que é inovador na TV aberta, é algo a ser celebrado”, comemora.

Para as criadoras e roteiristas da antologia, o episódio carrega uma mensagem especial. Jaqueline Souza compartilha sua expectativa: “Esperamos que as pessoas da comunidade LGBTQIAP+ se sintam representadas de diversas formas pelas questões abordadas nessa história, e que o grande público se sinta inspirado pelo relacionamento de Lena e Kátia. Em meio a todo o terror do mundo lá fora, essa é uma história sobre o mundo interior e como o amor e o afeto são fundamentais em nossas vidas. É o nosso episódio mais melodramático, intenso e vibrante, assim como é o amor”.

“A comunidade LGBTQIAPN+ tem muito a ensinar à nossa sociedade sobre o amor. Como conseguimos amar tanto diante de tantos desafios?”, questiona Grace Passô.

Renata Martins vai além: “Segundo a filósofa bell hooks, ‘para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes – carinho, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso, confiança, honestidade e comunicação aberta’. ‘Sísmicas’ é um convite das personagens para que o público reflita sobre a construção de seus próprios relacionamentos amorosos: os desafios e até mesmo a ausência desse amor ao longo da vida. Que ingrediente da quentinha de Lena está faltando em sua vida para fortalecer um relacionamento amoroso saudável e duradouro?”.

A antologia “Histórias Impossíveis” é uma obra singular e inovadora, que ganhou destaque nos especiais “Falas” deste ano. Idealizada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, a coletânea conta ainda com a colaboração literária de Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. Trazendo uma abordagem multifacetada, a direção artística é assinada por Luísa Lima, enquanto as direções ficam a cargo de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fábio Rodrigo, e a produção é coordenada por Leilanie Silva.

O projeto “Histórias Impossíveis” alinha-se perfeitamente à jornada ESG (Environmental, Social and Governance) da Globo, incorporando aspectos de sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa em sua concepção. Com uma visão inclusiva e empoderadora, a antologia busca promover a diversidade e dar voz a narrativas muitas vezes negligenciadas.

A direção executiva de produção fica a cargo de Simone Lamosa, profissional experiente e dedicada, que garante a eficiência e a qualidade do projeto como um todo. E para complementar, a direção de gênero é conduzida por José Luiz Villamarim, que traz sua expertise e sensibilidade para garantir uma abordagem autêntica e impactante.

“Histórias Impossíveis” representa um marco na produção artística contemporânea, apresentando uma coletânea de relatos que desafiam os limites da realidade e exploram o inexplorado. Com um elenco talentoso e uma equipe criativa excepcional, a antologia promete envolver e inspirar o público, abrindo portas para reflexões profundas e instigantes sobre o mundo em que vivemos.

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