
Um escritório de advocacia administrado por uma família disfuncional, onde os processos mais complicados são, na verdade, os internos. É com essa mistura de afeto mal resolvido, ressentimentos acumulados e laços inquebrantáveis que Family Law retorna para sua aguardada quarta temporada. A série canadense, criada por Susin Nielsen, volta ao ar em 6 de agosto no Universal+ com 10 episódios inéditos que prometem levar os personagens — e o público — a um novo patamar de emoção.
Mas o que torna a série diferente de tantos outros dramas jurídicos disponíveis no streaming? Talvez a resposta esteja no fato de que, antes de qualquer audiência no tribunal, as batalhas mais intensas acontecem entre quatro paredes, nas conversas atravessadas entre pai e filha, nas decisões impensadas entre irmãos, nos olhares que carregam décadas de mágoas e, principalmente, na difícil arte de se perdoar.
Abigail Bianchi: uma mulher tentando reconstruir a vida — e a confiança
Interpretada com vulnerabilidade e força por Jewel Staite (Firefly, The Killing), Abigail Bianchi não é apenas uma advogada talentosa. Ela é uma mulher em reconstrução. Sua jornada começou lá na primeira temporada, quando, após ser flagrada em uma situação comprometida por conta de seu vício em álcool, sua carreira desmoronou. A saída? Voltar às origens, ainda que essas origens significassem trabalhar no escritório do pai com dois irmãos que ela mal conhecia.
Na quarta temporada, Abigail está mais centrada — ou tenta estar. Ainda em processo de recuperação e buscando manter sua sobriedade, ela se vê diante de novos dilemas: um namorado que recai no álcool, uma filha adolescente que cobra atitudes e uma rotina de trabalho que exige equilíbrio emocional que nem sempre ela tem.
O arco de Abigail é dolorosamente humano. Não se trata apenas de recomeçar, mas de encarar os próprios erros e tentar, todos os dias, ser alguém melhor — por si mesma e por quem ama. Em tempos de séries com protagonistas perfeitos ou completamente autodestrutivos, é revigorante acompanhar alguém real, cheia de nuances, tropeços e coragem.
Os Svensson: onde amor e tensão dividem a mesma sala
Victor Garber (Alias, Titanic) vive Harry Svensson, o patriarca da família e figura central dessa trama. Dono do escritório de advocacia e de uma visão pragmática do mundo, Harry não é o tipo de pai que oferece abraços, mas o tipo que cobra resultados. Ainda assim, ao longo das temporadas, ele se mostra vulnerável, especialmente quando confrontado com as fragilidades dos filhos e os próprios limites.
Na nova temporada, Harry arrisca tudo em uma tentativa de fusão com um escritório rival. É um movimento ousado, que promete estabilidade financeira, mas que esconde armadilhas emocionais e profissionais. Afinal, será que vale a pena perder o controle em nome do crescimento?
Enquanto isso, Daniel (Zach Smadu), o irmão mais racional, e Lucy (Genelle Williams), a irmã mais empática, tentam encontrar seu lugar dentro da família e do escritório. E o que antes parecia apenas uma história sobre advogados se torna, episódio a episódio, uma saga sobre identidade, pertencimento e cicatrizes.
Rir também é preciso: o humor que emerge do caos
Apesar da carga emocional densa, a produção não se leva excessivamente a sério. É justamente nos momentos de alívio cômico que a série encontra sua humanidade. Uma piada dita fora de hora, um olhar cúmplice entre irmãos, um silêncio constrangedor na sala de reuniões — todos esses elementos constroem uma atmosfera que flerta com o drama, mas também acolhe a leveza.
Victor Garber ressalta esse equilíbrio como um dos maiores trunfos da série. “O que me encantou em Family Law desde o início foi a chance de interpretar alguém que pode ser sério e engraçado ao mesmo tempo. A vida é assim, não é? Rimos no meio do caos, fazemos piada para não chorar. E a série capta isso muito bem”, disse o ator ao Universal+.
Família é tribunal sem juiz
Family Law funciona porque, no fundo, todos nós já estivemos ali — em maior ou menor escala. Quem nunca enfrentou uma conversa difícil com os pais? Quem nunca sentiu que era o elo frágil de uma relação? A série mostra que não existe tribunal mais complexo do que uma mesa de jantar com segredos guardados por anos. O roteiro de Susin Nielsen evita soluções fáceis. A cada temporada, as reconciliações são construídas com cuidado, com tropeços e recaídas, com tentativas falhas e acertos inesperados. Não há vilões nem heróis — só pessoas tentando fazer o melhor com o que têm.
O que esperar da nova temporada?
A quarta temporada promete ser a mais intensa até agora. Além da tensão familiar, novos casos jurídicos colocam à prova a ética dos personagens, seu senso de justiça e, claro, os limites do amor fraternal. Abigail viverá um triângulo amoroso inesperado e terá que rever suas prioridades afetivas. Lucy enfrentará dilemas sobre maternidade e identidade. E Daniel será desafiado a sair da zona de conforto e rever sua postura dentro da empresa — e da família. O escritório dos Svensson, sempre à beira de um colapso, também enfrentará momentos decisivos. A possível fusão com o escritório rival abrirá velhas feridas e trará novas rivalidades. É o tipo de temporada que promete transformar a série — e seus personagens — de forma definitiva.
















