
Quando Arnold Schwarzenegger surgiu pela primeira vez em FUBAR, uma comédia de ação repleta de piadas familiares e cenas explosivas, não foi apenas mais uma estreia no catálogo da Netflix. Era, na verdade, um acontecimento simbólico. O eterno Exterminador estava fazendo algo inédito: sua primeira incursão como protagonista em uma série de TV roteirizada. Para os fãs de longa data, foi como rever um velho amigo em um novo contexto. Mas, agora, dois anos depois, o anúncio do cancelamento da série marca o fim precoce de uma aventura que, embora cheia de munição e carisma, falhou em manter o fôlego. As informações são do Deadline.
Na era dos algoritmos e decisões impiedosas, a série talvez tenha sido vítima de algo maior do que si própria: o esgotamento de narrativas recicladas e a dificuldade crescente em competir por atenção.
Um astro em transição
Schwarzenegger não precisava provar mais nada. Da musculatura invencível nos anos 80 à astúcia política dos anos 2000, o austríaco naturalizado americano atravessou décadas e cenários com uma carreira marcada por superações. Quando FUBAR foi anunciada, o entusiasmo foi imediato. Afinal, quem não queria ver o icônico homem de ação lidando com paternidade, terapia de casal e crises existenciais no meio de tiroteios?
A premissa era saborosa: Luke Brunner, veterano da CIA, está prestes a se aposentar quando descobre que sua filha Emma, com quem tem uma relação complicada, também é agente secreta — e que ambos foram escalados para a mesma missão. O que se seguiu foi uma comédia de ação sobre segredos, família e tentativas frustradas de reconciliação.
Só que o que começou com promessas de frescor e reinvenção, acabou se tornando um pastiche de velhas fórmulas.
Netflix e a lei do mais assistido
Desde seu lançamento, a Netflix transformou o modo como consumimos séries. Mas também impôs uma lógica cruel: a de que só sobrevive o que gera engajamento imediato. Não há espaço para crescimento orgânico. É sucesso instantâneo ou cancelamento.
A primeira temporada da produção, lançada em maio de 2023, teve um bom desempenho inicial. A nostalgia ajudou. A curiosidade também. Mas a série não sustentou a empolgação por muito tempo. Mesmo com cenas de ação bem coreografadas e tentativas de subverter o macho alfa dos anos 80 com dilemas paternos e momentos de vulnerabilidade, o texto não acompanhava a ambição. As piadas, por vezes, soavam forçadas. O drama familiar, previsível. E mesmo a performance de Schwarzenegger — carismática, mas limitada — não foi capaz de carregar tudo nas costas.
Quando a segunda temporada estreou, em junho de 2025, o desgaste já era evidente. A audiência caiu drasticamente. A série, que antes aparecia entre as mais assistidas da plataforma, rapidamente sumiu dos rankings. E assim, sem alarde, veio o veredito: cancelada.
A série era boa? Importa menos do que parece
A essa altura, talvez a pergunta que ecoe seja: A série era realmente ruim? Ou apenas mediana em uma prateleira repleta de conteúdos medíocres?
A verdade é que a série nunca se propôs a ser revolucionária. Ela era, acima de tudo, uma homenagem a um gênero que moldou gerações. O próprio título — uma gíria militar americana para algo “completamente bagunçado” — já apontava para o tom debochado. O problema é que o mundo mudou. E o que antes era charme retrô, passou a soar datado.
A Netflix, que já cancelou produções cultuadas com legiões de fãs (como The OA ou Mindhunter), não pensaria duas vezes antes de encerrar uma série que perdeu relevância. Não importa o legado de quem estrela. Importa o tempo de tela. O clique. A retenção.
O lado humano do cancelamento
Mas por trás de gráficos e métricas, existe sempre o fator humano. E talvez essa seja a maior perda com o fim de FUBAR. Porque, para muitos fãs, não se tratava apenas de uma série. Era a chance de rever Schwarzenegger em um papel inédito, mais vulnerável, mais pai do que máquina. Era a oportunidade de rir de suas limitações — físicas, emocionais, narrativas — e de reconhecer que, assim como seus personagens, ele também envelheceu. E tudo bem com isso.
E agora, Arnold?
Mesmo com o fim abrupto da série, Arnold não dá sinais de desaceleração. Nos bastidores, fala-se em novos projetos cinematográficos e documentários. Em 2023, ele já havia estrelado uma minissérie documental sobre sua própria trajetória, mostrando vulnerabilidades raramente expostas — desde sua infância na Áustria até os bastidores de sua carreira política e artística.
Um adeus em silêncio — como a CIA ensinou
Assim como o universo espião que tentava parodiar, a série estrelada pelo astro americano sai de cena sem barulho. Sem um último episódio arrebatador. Sem um cliffhanger resolvido. Apenas uma nota de rodapé em um relatório de cancelamentos da Netflix. Mas para quem acompanhou, para quem vibrou com os primeiros episódios ou se divertiu com a metalinguagem da série, fica a memória.
















