
No litoral norte de São Paulo, onde a Mata Atlântica se encontra com o oceano Atlântico, surge uma história de transformação silenciosa. Ilhabela e o arquipélago de Alcatrazes não são apenas paraísos naturais; eles se tornaram exemplos vivos de como a proteção ambiental pode regenerar a vida marinha e trazer prosperidade às pessoas que dependem do mar para viver. É essa realidade que o Globo Repórter apresenta nesta sexta-feira, 5 de setembro, conduzindo o público por uma jornada de descobertas, beleza e ciência.
Para Tiago Eltz, que comanda a reportagem, a experiência foi inesquecível: “Cada ilha é uma surpresa. A riqueza da vida marinha é impressionante, e conhecer as pessoas que vivem aqui — de pesquisadores a pescadores tradicionais — foi fascinante. Acompanhar o cerco, técnica de pesca centenária, foi um momento único. Ilhabela mistura praias isoladas, cachoeiras exuberantes, áreas de Mata Atlântica preservada e santuários de aves. É emocionante mostrar isso ao público.”
Baleias-jubarte: gigantes que escolheram novas águas
Durante décadas, as baleias-jubarte migravam principalmente para Abrolhos, na Bahia, para reprodução e descanso. Nos últimos anos, porém, o litoral paulista tem se tornado uma parada cada vez mais frequente. Em 2025, mais de 695 indivíduos foram registrados na região de Ilhabela — um número histórico.
“Estar em alto mar, vendo esses gigantes saltarem e espirrar água, é uma experiência emocionante. Cada movimento transmite força, elegância e liberdade”, descreve Eltz. O litoral de São Paulo abriga cerca de 15 espécies de baleias, o que representa aproximadamente 15% de toda a diversidade mundial. A população global de jubartes já ultrapassa os 30 mil indivíduos, um salto notável se comparado aos cerca de mil registrados em 1988, resultado de décadas de esforço em conservação.
A recuperação dessas espécies, no entanto, traz desafios. O canal de Ilhabela é rota tradicional de embarcações pesqueiras e comerciais, exigindo monitoramento constante e ajustes nas rotas para garantir a segurança das baleias. Cada ação reforça a importância da convivência entre humanos e fauna marinha baseada em respeito e planejamento.
Pesca sustentável: tradição e modernidade lado a lado
O impacto da preservação ambiental vai além da vida marinha. Em Ilhabela, o método de pesca conhecido como cerco — usado há mais de um século — combina tradição e sustentabilidade. Consiste em cercar cardumes com redes estratégicas, evitando desperdício e respeitando a reprodução dos peixes.
Além disso, técnicas modernas como o Ikejime, de origem japonesa, vêm sendo adotadas. Elas permitem capturar peixes de maneira a reduzir sofrimento e preservar a qualidade da carne, tornando o pescado mais valorizado internacionalmente, especialmente para a culinária japonesa. O resultado é claro: mais renda para as famílias e incentivo à conservação do ecossistema.
“Antes, os pescadores precisavam escolher entre sustento e preservação. Hoje, eles perceberam que é possível ter ambos. Peixes saudáveis, oceanos protegidos e melhores rendimentos caminham juntos”, explica Tiago Eltz.
Alcatrazes: santuário de aves e tubarões
Enquanto Ilhabela encanta pelo encontro com as baleias, Alcatrazes, a cerca de 35 quilômetros da costa de São Sebastião, impressiona pela diversidade de aves e pelo retorno de espécies marinhas antes ameaçadas. O arquipélago abriga o maior ninhal de fragatas do Atlântico Sul, além de atobás e corvos-marinhos. Durante a reprodução, o local se transforma em um verdadeiro refúgio: fragatas inflando seus papos vermelhos, filhotes aprendendo a voar e aves cuidando de ninhos delicados.
A criação do Refúgio de Vida Silvestre de Alcatrazes trouxe também o retorno de tubarões ameaçados. Áreas de proteção com pesca restrita e navegação controlada garantiram a segurança desses predadores, fortalecendo o equilíbrio ecológico da região.
Moradores locais, incluindo pescadores, atuam como guardiões da fauna, monitorando ninhos, evitando a captura ilegal e apoiando pesquisas de campo. Esse engajamento demonstra que conservação não depende apenas de governos ou ONGs, mas de um esforço comunitário contínuo.
Ciência, pesquisa e educação ambiental
Pesquisadores desempenham papel central na preservação de Ilhabela e Alcatrazes. Eles estudam migração de baleias, monitoram aves e mapeiam tubarões e peixes, gerando dados fundamentais para políticas públicas e projetos de educação ambiental.
“Cada estudo é uma peça do quebra-cabeça da conservação. Conhecer os trajetos das baleias, áreas vulneráveis ou comportamento dos tubarões é essencial para proteger o oceano e sustentar quem dele depende”, afirma Eltz.
O turismo sustentável também tem papel importante. Passeios de observação de baleias, mergulhos educativos e visitas a áreas protegidas permitem que visitantes aprendam sobre pesca sustentável e conservação, ao mesmo tempo em que movimentam a economia local.
Um modelo de esperança e equilíbrio
A transformação de Ilhabela e Alcatrazes é uma história de otimismo. Mostra que políticas públicas eficazes, engajamento comunitário e respeito às tradições podem gerar um ciclo virtuoso: preservação ambiental aliada à prosperidade.
Cada baleia que retorna, cada fragata que inflama seu papo vermelho ou cada tubarão que nada livre é prova de que os esforços valem a pena. Para pesquisadores, cada dado reforça a importância de investir em ciência e monitoramento. E para o público do Globo Repórter, a experiência é uma oportunidade de se encantar, refletir e compreender a responsabilidade de proteger o planeta.
Ilhabela e Alcatrazes provam que a convivência entre humanos e natureza não é apenas possível, mas enriquecedora. O programa convida os espectadores a mergulhar nesse universo, aprender sobre a biodiversidade e perceber que a preservação ambiental é essencial — para a vida marinha, para as comunidades e para o futuro do planeta.
“É inspirador ver que, tão perto de grandes cidades, a vida marinha floresce e as pessoas prosperam. O que acontece aqui é um verdadeiro modelo de conservação, que merece ser conhecido e replicado”, conclui Tiago Eltz.
















