
O Globo Repórter desta sexta-feira, 24 de outubro, leva o público a uma viagem pelo coração do Brasil. A equipe do programa percorre os estados do Tocantins e do Pará para mostrar a grandiosidade da Bacia Tocantins-Araguaia — um território que abriga a maior bacia hidrográfica inteiramente brasileira e guarda histórias de fé, resistência e transformação. A reportagem inaugura uma série de quatro episódios dedicados a explorar o modo como as comunidades ribeirinhas convivem com os desafios ambientais e buscam caminhos sustentáveis para o futuro.
A Bacia Tocantins-Araguaia se estende por cinco estados e o Distrito Federal, ocupando um espaço vital para o equilíbrio ecológico e econômico do país. Suas águas alimentam cidades, irrigam plantações e mantêm vivas as tradições de milhares de famílias que vivem às margens dos rios. Mas o avanço da modernização, a construção de hidrelétricas e os efeitos cada vez mais intensos das mudanças climáticas vêm alterando profundamente esse cenário. O Globo Repórter mostra como, mesmo diante de tantas transformações, há quem resista, preserve e encontre novas formas de coexistir com a natureza.

No início da viagem, o programa chega ao Pará, mais precisamente à cidade de Mocajuba, às margens do Rio Tocantins. Ali, o ritmo de vida é guiado pelo movimento das águas e pelo som das embarcações que cruzam o rio diariamente. No Mercado Municipal, ponto de encontro de pescadores e comerciantes, a natureza e a cultura se misturam em um cotidiano que mantém viva a herança dos povos da floresta. Até pouco tempo atrás, o mercado também era palco de uma tradição: o encontro com os botos-cor-de-rosa, animais encantadores que atraíam turistas e curiosos. No entanto, a crescente aproximação humana trouxe riscos à saúde desses animais, e a interação foi suspensa. Ainda assim, o respeito e o fascínio pelos botos continuam sendo parte essencial da identidade local.
A reportagem mostra que, mesmo com a proibição, a relação dos moradores com os rios permanece marcada pelo equilíbrio e pela sabedoria ancestral. Muitos pescadores ainda utilizam técnicas tradicionais, como o uso de armadilhas conhecidas como cacuris. Construídas com materiais naturais, elas permitem capturar peixes sem prejudicar o ecossistema, um exemplo de prática sustentável que resiste à passagem do tempo. Em meio à simplicidade e à força das tradições, o Globo Repórter revela o valor simbólico e espiritual que o rio representa para as comunidades ribeirinhas — uma ligação que vai muito além do sustento material.
A bióloga Cristiane Gonçalves, que cresceu às margens do Araguaia, surge no episódio como uma das vozes da preservação. Ela dedica sua vida ao estudo dos botos do Araguaia, espécie de golfinho de rio exclusivamente brasileira e hoje ameaçada de extinção. A reportagem explica que o avanço das hidrelétricas ao longo do Tocantins provocou a fragmentação dos habitats e o isolamento de grupos de animais, reduzindo a diversidade genética e aumentando o risco de desaparecimento. O programa mostra como a ciência e o conhecimento local se unem para tentar reverter esse cenário, monitorando os animais e promovendo ações de conservação.
O impacto das transformações ambientais não se restringe à fauna. As populações humanas que vivem às margens do rio também enfrentam novos desafios. Com a escassez de peixes e as restrições impostas à pesca tradicional, muitos ribeirinhos precisaram se reinventar. O Globo Repórter apresenta histórias de adaptação e criatividade, como a de comunidades que apostaram na piscicultura e transformaram o rio em um espaço de produção sustentável. A criação de peixes em tanques-rede tem se mostrado uma alternativa capaz de garantir renda, preservar o meio ambiente e fortalecer o sentimento de pertencimento das populações locais.
Em seguida, o programa atravessa as águas do Tocantins e chega ao município de Abaetetuba, também no Pará. É ali que o miriti, uma palmeira típica da Amazônia, ganha destaque. Considerado o “isopor natural” da floresta, o miriti é leve, resistente e versátil. De suas fibras nascem os famosos brinquedos artesanais que encantam turistas e são símbolos culturais do Pará. Produzidos por famílias há gerações, esses brinquedos coloridos são mais do que peças de decoração — são expressão de fé, memória e identidade. O Globo Repórter mostra como o artesanato movimenta a economia e fortalece o senso de comunidade, unindo tradição e criatividade em um mesmo gesto.
Durante a seca, a paisagem muda completamente. O Globo Repórter acompanha o momento em que o Rio Araguaia revela suas praias temporárias — extensas faixas de areia clara que surgem quando o nível das águas diminui. Em Araguacema, no Tocantins, essas praias atraem visitantes e se transformam em refúgio para aves que escolhem o local como berçário natural. A reportagem mostra o cuidado dos moradores em equilibrar o turismo com a preservação ambiental. Ali, o espetáculo natural das águas em retirada se combina com a delicadeza das espécies que dependem desse ciclo para sobreviver.
Entre uma parada e outra, o programa se depara com o jambu, planta típica da Amazônia que tem papel fundamental na culinária local. Mais do que um ingrediente do famoso tacacá, o jambu se tornou símbolo de inovação. Agricultores e empreendedores têm explorado suas propriedades para criar novos produtos, desde bebidas artesanais até cosméticos naturais. O Globo Repórter mostra que o cultivo do jambu é um exemplo de bioeconomia, conceito que une sustentabilidade, conhecimento tradicional e geração de renda. Assim como o miriti, a planta mostra que o potencial da Amazônia vai muito além de sua biodiversidade: ele está também nas pessoas que transformam o que a natureza oferece com respeito e criatividade.
A equipe do programa segue então para o Tocantins, onde visita a Reserva Particular do Patrimônio Natural do Cantão, uma das áreas mais preservadas da Bacia Tocantins-Araguaia. O local abriga uma impressionante variedade de espécies — mais de 300 tipos de peixes e quase 400 espécies de aves, além de mamíferos como onças-pintadas, veados, antas e ariranhas. O Globo Repórter mostra o esforço diário de pesquisadores e guardas ambientais que dedicam suas vidas à proteção desse ecossistema. A reserva é um exemplo de como a conservação pode caminhar junto com o turismo ecológico e a educação ambiental, inspirando novas gerações a compreender o valor da natureza.
A última parada da jornada acontece na Reserva do Canguçu, também no Tocantins, onde cientistas da Universidade Federal do Tocantins monitoram o comportamento de tartarugas, jacarés e aves aquáticas. Os dados coletados revelam os efeitos das mudanças climáticas sobre o bioma. Alterações no regime de chuvas, aumento das temperaturas e períodos de seca prolongada têm afetado diretamente a fauna e a vegetação. O programa chama atenção para o papel da ciência na compreensão desses fenômenos e na busca por soluções que possam garantir a sobrevivência dos ecossistemas amazônicos.
Mais do que um retrato ambiental, o Globo Repórter desta sexta-feira se transforma em uma reflexão sobre o Brasil profundo — um país de contrastes, onde o progresso e a natureza ainda disputam espaço, mas onde também floresce uma consciência coletiva sobre a importância da preservação. A Bacia Tocantins-Araguaia, com seus rios majestosos e comunidades resilientes, é mostrada como um microcosmo da própria nação: diversa, desafiadora e repleta de esperança.





