
Na televisão, o Brasil já viu Isis Valverde viver de tudo um pouco: mocinhas românticas, mulheres ousadas, figuras misteriosas e até uma sereia apaixonada. Mas, nesta sexta-feira, 1º de agosto, no Conversa com Bial, o público é convidado a conhecer uma outra Isis — aquela que escreve, que sangra em palavras, que revisita memórias para transformar dor em poesia.
Durante o bate-papo com Pedro Bial, Isis apresenta seu segundo livro, Vermelho Rubro, uma coletânea de poemas que nasceu de vivências intensas, afetos antigos, despedidas dolorosas e novas descobertas. É a voz de uma mulher que se permite sentir — e que agora escolhe compartilhar o que antes ficava guardado nos bastidores da alma.
“Vermelho Rubro” — Um livro para dizer o indizível
Na conversa, Isis fala sobre como a escrita virou uma extensão de sua arte. Diferente dos personagens que interpreta nas telas, seus versos são pessoais, íntimos, quase confissões. “Não é um livro para ser perfeito, é um livro para ser verdadeiro”, ela resume, com os olhos brilhando.
Vermelho Rubro reúne textos que falam de amor, luto, maternidade, corpo, silêncio e desejo. Há em cada página uma Isis que poucas pessoas conhecem: sensível, crua, intensa — e ao mesmo tempo em paz com suas imperfeições. “Eu escrevo porque preciso organizar o caos. E às vezes, só a palavra salva.”
Entre as montanhas de Minas e os palcos da vida
Isis nasceu em Aiuruoca, no interior de Minas Gerais, uma cidade pequena, cercada por montanhas, que ela carrega no coração até hoje. Foi ali, no meio do mato, ouvindo as histórias da avó, sentindo o cheiro do café fresco e vendo o tempo passar devagar, que ela aprendeu a observar. “Acho que o artista nasce quando aprende a olhar. E Aiuruoca me ensinou a ver o que o mundo tem de mais bonito e mais triste também.”
Aos 15 anos, mudou-se para Belo Horizonte. Com 18, desembarcou no Rio de Janeiro com a coragem de quem sonha alto. Estudou teatro, fez trabalhos como modelo, correu atrás de testes — até conseguir seu primeiro papel na televisão, como Ana do Véu, no remake de Sinhá Moça. Desde então, a carreira deslanchou: Beleza Pura, Avenida Brasil, Amores Roubados, A Força do Querer, Amor de Mãe… Isis virou rosto conhecido e querida do público brasileiro.
Mas, como ela mesma contou a Bial, nem sempre o brilho das câmeras é suficiente para iluminar os cantos escuros da vida. “A arte me salva desde sempre. Quando a atuação não bastava, eu escrevia. A poesia foi me puxando de volta pra mim.”
Da dor à escrita: poesia como processo de cura
Um dos momentos mais tocantes da entrevista é quando Isis fala sobre o impacto da perda de seu pai, em 2020. Sebastião Rubens Valverde morreu de forma repentina, após um mal súbito durante um passeio de moto. Pouco tempo depois, a atriz também perdeu a avó paterna, com quem era muito apegada.
“Foi um período muito duro. Eu não sabia como lidar. Tudo parecia desmoronar. Escrevi muito nessa época. Não porque queria escrever um livro, mas porque precisava colocar pra fora o que me sufocava.”
Isis compartilha com Bial que foi nesse período, de reclusão, luto e silêncio, que muitos dos poemas de Vermelho Rubro surgiram. Palavras como “ausência”, “raiz”, “tempo” e “mãe” aparecem com frequência nos textos — não como enfeite, mas como âncoras.
Maternidade e renascimentos
Outro ponto que transformou sua vida — e sua escrita — foi o nascimento de seu filho, Rael, em 2018. A maternidade, segundo ela, escancarou emoções novas e profundas. “Ser mãe é renascer e, ao mesmo tempo, se perder um pouco. Você não volta a ser a mesma pessoa nunca mais.”
Os versos de Vermelho Rubro tocam essa experiência com delicadeza e crueza. Falam sobre noites em claro, sobre medo, sobre o corpo que muda, sobre o amor que tudo ocupa. “Eu escrevia de madrugada, entre uma mamada e outra. Às vezes com raiva, às vezes chorando, mas sempre com verdade.”
No programa, Bial lê trechos do livro em voz alta. Isis escuta atenta, emocionada, como se ouvisse suas próprias cicatrizes sendo traduzidas por outro alguém. “É estranho, mas bonito. A poesia é isso: a gente entrega uma parte da gente, e o outro se reconhece ali.”
Fim de ciclos e novas escolhas
Em 2022, após 17 anos de contrato com a TV Globo, Isis decidiu encerrar sua parceria fixa com a emissora. A decisão, segundo ela, foi difícil, mas necessária. “Senti que precisava respirar outros ares. Não era só uma questão profissional, era pessoal também. Eu queria me ouvir.”
Na mesma época, chegou ao fim seu casamento com André Resende, pai de seu filho. Isis se recolheu, viajou, passou um tempo longe dos holofotes. Estudou, escreveu, reencontrou amigos e, como ela diz, se reencontrou consigo mesma.
“Às vezes, a gente precisa se perder um pouco para achar um caminho novo. E esse caminho, pra mim, estava nas palavras.”
Em 2023, a atriz assumiu seu relacionamento com o empresário Marcus Buaiz. Em dezembro de 2024, eles se casaram no civil, e a cerimônia oficial da união aconteceu em maio de 2025. Segundo ela, foi um casamento tranquilo, íntimo, cheio de afeto. “Foi tudo como eu queria: simples, leve, verdadeiro.”
Um futuro aberto — e escrito à mão
Hoje, aos 38 anos, Isis parece viver sua fase mais autoral. Não só nos livros, mas também nas escolhas profissionais e pessoais. Está envolvida em projetos de cinema, fala sobre a possibilidade de dirigir, quer viajar mais, e não descarta voltar às novelas — desde que o papel faça sentido.
















