“Max Oliver: O Protetor da Galáxia” apresenta um herói adolescente em meio a multiversos, desigualdade social e os dilemas da juventude

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Foto: Reprodução/ Internet

Entre universos paralelos, guerras cósmicas e um adolescente em formação, a literatura nacional ganha um novo representante da ficção científica voltada ao público jovem: Max Oliver: o Protetor da Galáxia. Escrito por Jonatas Aragão, o livro narra a jornada de um adolescente humilde que se vê, de forma inesperada, no centro de uma batalha interdimensional com consequências catastróficas. Mas, mais do que uma aventura espacial, a obra se propõe a discutir identidade, amadurecimento, desigualdade social e a busca por pertencimento em um mundo onde tudo parece estar fora do controle.

Inspirado em clássicos dos anos 1990 e 2000, como X-Men: Evolution, Ben 10, Batman do Futuro e Dragon Ball, o romance não esconde suas raízes nostálgicas, mas também não se limita a elas. Ao contrário: mistura ação, tecnologia, inteligência artificial e drama humano numa história que dialoga com questões contemporâneas — especialmente com o público jovem brasileiro.

A origem de um herói improvável

O protagonista, Max Oliver, é um adolescente comum. Vive em uma realidade marcada pela desigualdade social e pela invisibilidade, mas carrega dentro de si um sentimento que muitos jovens compartilham: o desejo de fazer a diferença. Essa aspiração ganha uma nova dimensão após o encontro com criaturas alienígenas e sua fusão com Megatriz, uma entidade de inteligência artificial com poderes metamórficos.

A partir desse momento, Max adquire habilidades sobre-humanas, como força, resistência e regeneração, e é convocado a impedir os planos de Táramos, um ditador intergaláctico disposto a conquistar todos os planetas e destruir a estrutura do multiverso para alcançar a Matrix da Criação — um artefato de energia vital capaz de reescrever as leis da existência.

O cenário é ambicioso, mas o foco está na jornada íntima do personagem. O autor utiliza a ficção científica como um recurso narrativo para tratar de questões muito humanas: responsabilidade, medo, sacrifício, empatia e transformação.

Uma narrativa de camadas e conexões emocionais

A história é dividida em momentos de ação e introspecção. Em trechos como o da página 58 — onde Max tenta controlar seu corpo possuído por Megatriz, enquanto o caos se espalha ao seu redor — é possível identificar o conflito simbólico entre razão e emoção, juventude e responsabilidade. É a representação literal de um corpo adolescente tentando se adaptar às mudanças repentinas, muitas vezes fora de seu controle.

O trecho evidencia a complexidade emocional da narrativa:

“Faltava pouco para o Titã de Pedra iniciar um terremoto capaz de destruir tudo ao seu redor, e Max pressionou Megatriz para ajudá-lo, sem se importar com o que poderia acontecer, pois estava determinado a proteger Sarah.”

Relações humanas em meio ao caos

Um dos pontos centrais da obra está nos vínculos afetivos que Max constrói ao longo da trama. Sarah Medellín Blake, por exemplo, é filha de uma das famílias mais ricas do mundo, e se conecta a Max por laços que desafiam não só as diferenças sociais, mas também os paradigmas de poder, afeto e pertencimento.

A personagem representa um contraponto importante: vinda de um universo privilegiado, ela se recusa a se acomodar. É através dela que o livro propõe discussões sobre empatia, privilégio e a construção de pontes entre realidades distintas.

Já Jonathan Christopher Blake, pai de Sarah, é um cientista brilhante marcado por erros do passado. Ele funciona como uma espécie de mentor às avessas, cuja história mostra os perigos da ciência usada sem ética e as consequências emocionais de escolhas mal calculadas. Sua presença adiciona um tom mais maduro à narrativa, sugerindo que o peso das decisões acompanha os personagens, independentemente da idade.

O multiverso como metáfora da juventude

A aposta de Aragão no conceito de multiverso não é apenas uma escolha estética ou de tendência do gênero. O multiverso, aqui, serve também como metáfora para os inúmeros caminhos que se apresentam na adolescência. Cada decisão de Max, cada dilema enfrentado, tem potencial de abrir novas realidades — assim como acontece na vida de qualquer jovem tentando encontrar seu lugar no mundo.

O recurso narrativo de viagens no tempo, realidades alternativas e colapsos dimensionais é bem utilizado para sustentar a ideia de que crescer é, muitas vezes, navegar por um caos que não se entende completamente — mas que precisa ser enfrentado com coragem.

Um retrato crítico da realidade através da ficção

Apesar de seu enredo fantástico, Max Oliver: o Protetor da Galáxia traz uma crítica contundente às desigualdades sociais. A ambientação de origem do personagem principal — em contraste com os cenários luxuosos de Sarah — explicita as barreiras sociais que ainda definem relações, oportunidades e afetos.

Aragão não faz disso uma simples oposição binária entre “rico e pobre”. Em vez disso, constrói um mosaico de experiências que mostram como a desigualdade atravessa emoções, vínculos e escolhas. A ficção científica, nesse contexto, torna-se uma ferramenta poderosa de crítica e reflexão.

Entre o épico e o emocional: para quem é esse livro?

O romance de Jonatas Aragão dialoga com diferentes públicos. Jovens leitores encontrarão uma história envolvente, acessível e cheia de reviravoltas. Já os adultos que cresceram imersos no universo geek poderão revisitar elementos nostálgicos com uma nova perspectiva — mais crítica, emocional e política.

Ao unir ação e sensibilidade, Aragão faz de Max Oliver uma obra híbrida: ao mesmo tempo escapista e profundamente conectada à realidade. A presença de personagens adolescentes com dilemas existenciais, relações construídas com base no afeto, e vilões que simbolizam sistemas de opressão transforma o livro em uma ferramenta de reflexão, mesmo para além de seu público-alvo.

Um passo para a valorização da ficção científica nacional

A publicação de Max Oliver: o Protetor da Galáxia também representa um movimento importante dentro da literatura nacional. A ficção científica, por muito tempo marginalizada ou considerada de nicho, tem ganhado espaço com autores brasileiros que se apropriam do gênero para contar histórias enraizadas em nossa realidade.

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