
A tarde desta quarta-feira, 26 de novembro, promete despertar nostalgia, risadas e até algumas surpresas emocionais para quem acompanhar a Sessão da Tarde na TV Globo. O filme escolhido foi “MIB – Homens de Preto 3”, terceiro capítulo da franquia que marcou gerações e ajudou a consolidar a imagem de Will Smith como um dos atores mais carismáticos do cinema de ação moderno. Lançado em 2012, o longa dirigido por Barry Sonnenfeld retoma o universo excêntrico e divertido da agência secreta responsável por monitorar a presença alienígena na Terra, mas desta vez a narrativa não se contenta apenas com o humor característico da série. Ela mergulha em sentimentos até então inexplorados nos filmes anteriores, especialmente a relação entre os agentes J e K.
Quem acompanha a franquia sabe que Homens de Preto sempre combinou humor inteligente com ficção científica leve, situações absurdas e uma estética visual marcante: os ternos pretos, os óculos escuros e os alienígenas escondidos em plena Nova York. Em MIB 3, porém, algo diferente acontece. Mais de uma década após o lançamento do segundo filme e com um hiato prolongado na carreira de Will Smith como protagonista, o terceiro capítulo chega com uma proposta mais sensível. Ele se distancia de um mero reencontro com personagens icônicos para entregar uma história sobre tempo, memória e laços invisíveis que moldam nossa vida. Ao revisitar a franquia, Barry Sonnenfeld não apenas resgata o que deu certo anteriormente, como amplia o universo narrativo, aprofunda personagens e coloca o coração no centro da aventura, tudo isso sem abrir mão do humor que tornou os filmes tão populares.
O enredo tem início com a fuga espetacular de Boris, o Animal, interpretado por Jemaine Clement, um dos vilões mais perigosos que já passaram pela MIB. Ele estava preso há décadas em uma colônia penal na Lua, a Lunar Max, cenário à altura de sua reputação. Boris não é apenas cruel: é inteligente, vingativo e paciente. Depois de escapar, decide voltar a 1969, ano em que foi capturado pelo Agente K, interpretado por Tommy Lee Jones. Sua intenção é impedir sua prisão e eliminar K antes que o agente ative o ArcNet, sistema que protege a Terra de uma invasão alienígena. O efeito dessa viagem temporal é imediato. De um dia para o outro, o Agente J, interpretado com o carisma de sempre por Will Smith, percebe que o amigo e parceiro simplesmente deixou de existir. Na nova linha do tempo, K morreu há mais de 40 anos e o planeta está prestes a sofrer uma invasão que ninguém mais parece capaz de deter. A partir desse ponto, o filme deixa claro que não é apenas uma nova aventura, mas uma jornada emocional que vai obrigar J a encarar não apenas o passado da MIB, mas o próprio passado.
É nesse contexto que surge a Agente O, vivida por Emma Thompson, que agora lidera a organização após a morte de Zed. É ela quem percebe que os lapsos temporais de J são sinais de uma ruptura na linha do tempo. J, impulsivo e movido pela intuição, decide que não vai aceitar um mundo sem K. Ele procura o negociante Obadias Prince para conseguir um dispositivo ilegal de viagem temporal e, em uma das cenas mais memoráveis do filme, se lança do topo do Chrysler Building para ativar o equipamento e voltar a 1969. A escolha não é apenas tática; é afetiva. J não está tentando salvar apenas um parceiro de trabalho, mas alguém que moldou sua vida de maneiras que ele ainda não compreendia.
Ao chegar ao passado, a narrativa ganha um charme especial. A Nova York de 1969 não é apenas cenário, mas personagem. Das roupas aos carros, dos diálogos aos costumes, tudo transporta o público para aquela época. É lá que J encontra a versão jovem de K, interpretada por Josh Brolin em uma performance surpreendente. Brolin não imita Tommy Lee Jones; ele absorve suas nuances, o jeito contido de falar, a postura rígida e o olhar calculado. É como ver K rejuvenescido, embora mais acessível e menos endurecido. O contraste entre J, um homem de 2012, e K, um agente novato de 1969, rende momentos divertidos e profundos. Naquele tempo, nada ainda foi perdido, inclusive segredos que J jamais imaginou.
Um dos personagens mais marcantes desta aventura é Griffin, interpretado por Michael Stuhlbarg com uma mistura de doçura e estranheza. Griffin possui a habilidade de enxergar vários futuros possíveis ao mesmo tempo. Sua presença traz ao filme uma camada inesperada de sensibilidade. Ele não é apenas uma peça-chave para recuperar o ArcNet, mas também um lembrete de que o futuro depende de pequenas escolhas. Suas falas poéticas dialogam com o tema central da narrativa: o que molda nossas vidas muitas vezes não são grandes acontecimentos, mas decisões diárias que tomamos sem perceber seu impacto. Essa filosofia permeia toda a história e faz de MIB 3 o capítulo mais reflexivo da franquia.
A reta final leva J, K e Griffin ao Cabo Canaveral, local do lançamento do Apollo 11. A trama se entrelaça à história real da chegada do homem à Lua, criando um pano de fundo grandioso para o confronto decisivo contra Boris. Ali, duas linhas temporais se chocam literalmente: J enfrenta o Boris do futuro enquanto K encara o Boris de 1969. A montagem ágil e carregada de tensão transforma essa sequência em um dos momentos mais eletrizantes da trilogia. E é nesse ponto que o filme entrega sua maior reviravolta emocional.
Após derrotar o vilão, K presencia a trágica morte de um coronel militar que parecia apenas mais um personagem secundário envolvido na missão. Quando um garoto sai de uma van procurando pelo pai, tudo se encaixa. O menino é James, a versão infantil do próprio Agente J. É nesse instante que o público e o personagem entendem algo poderoso: K estava presente no momento mais traumático da vida de J. Ele testemunhou a morte do pai do futuro agente e, para poupá-lo de carregar aquela dor, usou o neuralizador para criar uma memória mais suave. Esse gesto silencioso, guardado por mais de quatro décadas, redefine completamente a dinâmica entre os dois. O que sempre pareceu uma parceria rígida revela-se um laço profundo, quase paternal.
De volta à linha correta do tempo, J reencontra K no presente, vivo e com o mesmo semblante enigmático de sempre, mas agora existe uma compreensão diferente entre eles. A distância emocional que parecia natural começa a desaparecer. A cena em que J mostra o relógio que era de seu pai é simples, mas cheia de significado. K, por sua vez, deixa escapar uma sinceridade rara ao dizer que foi uma honra ter conhecido o pequeno James naquele dia de 1969. É um fechamento delicado para uma história que começou com ação, passou pela comédia e encontrou seu ponto mais alto na emoção.





