
Há artistas que atravessam o tempo com a mesma leveza com que sobem ao palco — e Rosi Campos é um desses raros casos. Aos 71 anos de idade e sete décadas dedicadas à arte, a atriz, que marcou gerações com a inesquecível bruxa Morgana de Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura, 1994–1997), ainda fala sobre sua carreira com o entusiasmo de quem está começando.
Convidada do programa Companhia Certa, apresentado por Ronnie Von (Todo Seu, A Praça É Nossa), que vai ao ar na madrugada de sábado, 8 de novembro, às 0h30, na RedeTV!, Rosi abriu o coração sobre suas lembranças, conquistas e sonhos que continuam vivos. Entre eles, um desejo que surpreende o público: “Gostaria de ser vilã! Acho que tem um fascínio nessa energia mais densa, um poder de transformação que eu ainda não explorei. É um lado da atuação que me encanta.”
“Morgana é um presente eterno”
Mesmo querendo experimentar novos caminhos, Rosi fala com brilho nos olhos sobre o papel que a eternizou na televisão. “Morgana é o grande personagem da minha vida. Tenho um carinho imenso por ela. Na época, a gente não fazia ideia da dimensão que Castelo Rá-Tim-Bum teria. Era um trabalho feito com amor, e o público sentiu isso”, relembra.
A série, exibida pela TV Cultura entre 1994 e 1997, virou um marco da programação infantil e permanece viva no imaginário popular. “Até hoje, adultos vêm me agradecer por eu ter feito parte da infância deles. Isso é de uma beleza enorme. O tempo passa, mas o afeto das pessoas não muda.”
Recentemente, Rosi voltou a encantar o público infantil na novela A Caverna Encantada (SBT, 2024), provando que sua conexão com os pequenos — e com os adultos nostálgicos — segue intacta.
Entre o riso e o drama: uma atriz completa
Com uma trajetória marcada pela versatilidade, Rosi nunca se limitou a um só gênero. Do humor às emoções mais profundas, a atriz coleciona personagens memoráveis em produções como Da Cor do Pecado (TV Globo, 2004), onde interpretou a divertida Mamuska, matriarca amorosa e superprotetora da família Sardinha, e Êta Mundo Bom! (2016), na qual deu vida à espirituosa Eponina, sob a direção de Walcyr Carrasco (A Dona do Pedaço, Verdades Secretas).
“Eu amo fazer comédia. É um tipo de arte que exige ritmo, entrega e sensibilidade. Mas, no fundo, todo ator sonha em se desafiar. E fazer uma vilã seria isso: um desafio delicioso”, confessa.
Rosi também foi destaque em novelas como América (2005), A Favorita (2008), Babilônia (2015) e O Tempo Não Para (2018), sempre com atuações que equilibravam humor, emoção e humanidade.
Um nome que o teatro abraçou cedo
Antes de se tornar um rosto conhecido da TV, Rosi construiu uma sólida carreira no teatro. Formada em Jornalismo, ela descobriu nos palcos o lugar onde sua alma se expressa com liberdade.
Nos anos 1980, integrou o grupo Ornitorrinco, um dos mais importantes da cena teatral paulistana, e depois fundou o Circo Grafiti, voltado a musicais e espetáculos de humor. Com o grupo, venceu 17 prêmios teatrais pela peça Você Vai Ver o Que Você Vai Ver, além de produzir montagens como Almanaque Brasil e Gato Preto.
Do “Castelo” ao horário nobre
A virada definitiva na carreira veio com Castelo Rá-Tim-Bum, mas Rosi nunca deixou de explorar novos papéis. Na TV Globo, ela viveu personagens marcantes em Cara & Coroa (1995), Salsa e Merengue (1996), Meu Bem Querer (1998), Cama de Gato (2009) e A Dona do Pedaço (2019), onde contracenou com Marco Nanini (A Grande Família) e Betty Faria (Tieta).
“Cada papel é uma escola. E o mais bonito da minha profissão é que nunca é igual. Mesmo quando é comédia, cada riso vem de um lugar diferente”, reflete.
No cinema, Rosi também deixou sua marca em títulos como Castelo Rá-Tim-Bum – O Filme (1999), O Menino da Porteira (2009), Chico Xavier (2010) e Crô em Família (2018). “O cinema me deu uma outra perspectiva da atuação. É mais contido, mais silencioso. É olhar com o coração.”
A força das mulheres no humor
Durante a entrevista com Ronnie, Rosi fala com orgulho sobre a presença feminina na comédia. “Tem muita mulher talentosa fazendo humor no Brasil. A gente abriu caminhos, e hoje vemos nomes como Heloísa Perissé (Escolinha do Professor Raimundo), Ingrid Guimarães (De Pernas pro Ar) e Andréa Beltrão (Os Normais, A Grande Família) brilhando. O humor é essencial — ele cura, aproxima e transforma.”
Para ela, ser mulher nesse meio também é um ato de resistência. “A gente teve que provar que podia ser engraçada, inteligente e protagonista ao mesmo tempo. Hoje, isso é mais natural, mas foi uma conquista construída aos poucos.”





