No “Conversa com Bial” desta quinta (24/07), Flávia Reis e Rodrigo Sant’Anna falam sobre o poder do riso e os bastidores da comédia brasileira

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Foto: Reprodução/ Internet

Na noite da próxima quinta-feira, 24 de julho de 2025, o Conversa com Bial promete uma edição repleta de riso, inteligência e muitas camadas de interpretação. O apresentador Pedro Bial receberá dois nomes que ajudaram a redefinir a comédia no Brasil com suas criações múltiplas, afiadas e profundamente conectadas à realidade brasileira: Rodrigo Sant’Anna e Flávia Reis. O programa, exibido após o Jornal da Globo, propõe uma conversa descontraída e ao mesmo tempo provocadora sobre os rumos do humor no teatro, na televisão e nas redes sociais.

Ambos estão em cartaz com seus espetáculos solo — Atazanado, de Sant’Anna, e Neurótica!, de Flávia — e usam o palco como espelho cômico da sociedade. São humoristas que não apenas arrancam risadas, mas também despertam identificação, desconforto e até alguma catarse no público. A conversa com Bial deve trazer uma mistura saborosa de bastidores, reflexões sobre o riso e os desafios contemporâneos da arte cômica.

O humor como ferramenta de escuta

É curioso como o humor, frequentemente subestimado na esfera artística, carrega uma potência que vai além da simples distração. Bial, experiente em extrair nuances de seus entrevistados, conduz a conversa como quem abre caminho para que o riso se revele em sua plenitude: como linguagem, resistência, crítica e, muitas vezes, salvação. Rodrigo e Flávia se abrem sobre suas trajetórias, suas dores transformadas em piadas, e os personagens que criaram e que hoje os definem no imaginário popular.

“Rir é uma forma de sobreviver”, diz Rodrigo Sant’Anna em um trecho da conversa. Nascido no subúrbio carioca, ele encontrou no humor um meio de comunicar as tensões sociais que atravessava. Desde os tempos de Os Suburbanos e Zorra Total, Rodrigo ampliou seu repertório de tipos populares — que vão do motoboy fofoqueiro à madame esnobe — sempre com um olhar que mistura caricatura e empatia.

Já Flávia Reis, atriz formada e com forte presença no teatro, traz para o palco uma comédia que não tem medo de ser feminina, descontrolada e, sim, neurótica. Em Neurótica!, seu espetáculo atual, ela interpreta 11 mulheres em situações-limite, mas absolutamente reconhecíveis: uma mãe sobrecarregada, uma senhora hipocondríaca, uma cerimonialista desorientada por múltiplas notificações. Tudo isso costurado com ironia e crítica social.

O espetáculo da vida: “Neurótica!”, com Flávia Reis

Na entrevista com Bial, Flávia compartilha bastidores e motivações por trás de Neurótica!, espetáculo em cartaz aos sábados e domingos no Rio de Janeiro, com direção de Márcio Trigo e roteiro de Henrique Tavares. Com mais de 15 anos de dedicação ao humor feminino, a atriz constrói tipos que oscilam entre o absurdo e a realidade cotidiana. O espetáculo é conduzido por uma terapeuta (também interpretada por Flávia), que apresenta uma “palestra equivocada” sobre neuroses femininas.

“Eu nunca quis rir da mulher, mas com a mulher. Me interessa o humor que denuncia a carga que jogam em cima da gente — ser mãe, ser profissional, ser sensual, ser calma, ser tudo”, comenta Flávia no programa. Com um talento cênico admirável, ela transita entre personagens como quem muda de pele, revelando facetas do feminino que raramente ganham voz nos grandes palcos.

A montagem é uma sátira feroz, mas doce, da vida como ela é. E mais do que dar conta de 11 personagens, Flávia mostra como o humor pode ser libertador. Sua atuação coloca em evidência temas como saúde mental, desigualdade de gênero, pressão estética e relações familiares, tudo isso filtrado pelo riso.

“Atazanado”: o mundo caótico de Rodrigo Sant’Anna

Rodrigo, por sua vez, está em turnê com Atazanado, espetáculo que é um verdadeiro caleidoscópio de personagens e neuroses urbanas. Em cena, ele interpreta cinco figuras completamente distintas, entre elas uma mãe rica que se vê obrigada a cuidar dos próprios filhos quando a babá entra de férias, além de outros tipos que enfrentam situações absurdas em um mundo cada vez mais acelerado.

“É um espetáculo para falar sobre esse nosso tempo maluco, em que a gente tem que dar conta de tudo, fingir que tá bem e ainda sorrir no Instagram”, diz Rodrigo a Bial. Com uma construção cômica precisa, ele transforma as angústias cotidianas — do trânsito ao trabalho remoto, da paternidade à solidão — em material cênico.

Rodrigo se mostra generoso ao falar das dificuldades que enfrentou até conquistar o espaço que tem hoje. “Fui office-boy, trabalhei como camelô, morei em comunidade. Isso me deu o olhar que tenho hoje. Os meus personagens nascem de pessoas que conheci, da minha mãe, das vizinhas, dos ônibus que eu pegava”, relembra, emocionado.

Humor como crítica social (e sobrevivência)

Durante a conversa, os três também abordam os desafios de fazer humor em tempos polarizados e de redes sociais vigilantes. “A gente vive hoje num momento em que tudo pode ser ofensivo. É preciso sensibilidade, mas também coragem. Não dá pra engessar a comédia, senão ela morre”, afirma Flávia.

Rodrigo concorda, mas pontua que o humor precisa evoluir junto com a sociedade. “Tem piadas que eu fazia anos atrás e que hoje eu não faria mais. A gente aprende, escuta, revê. Isso não significa censura. Significa maturidade”, opina.

O programa também mergulha na questão da representatividade. Flávia, como mulher, e Rodrigo, como homem gay e negro, falam sobre os espaços que tiveram que ocupar “à força”, por mérito, insistência e também por quebra de paradigmas. Ambos são hoje referências para novas gerações de comediantes que querem falar de si sem pedir licença.

Bastidores, improviso e memórias

Entre risadas, os artistas compartilham histórias dos bastidores. Rodrigo relembra os tempos em que fazia shows de humor em barzinhos na zona norte do Rio e, às vezes, tinha que interromper uma piada porque alguém pedia “mais uma cerveja”. Flávia recorda uma apresentação em que seu microfone falhou, e ela teve que improvisar os 80 minutos do espetáculo no grito — arrancando aplausos de pé da plateia.

Ambos valorizam o improviso, a escuta e a conexão com o público. “Cada plateia é diferente. Tem noite que o público ri da piada que você nem apostava, e fica sério na hora que você achava que ia arrasar”, diz Flávia. Rodrigo complementa: “É isso que torna o teatro vivo. A gente nunca sabe se vai dar certo. E é por isso que vicia.”

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