O Píer | Netflix cancela série de Kevin Williamson após apenas uma temporada, apesar da boa audiência

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O mundo do streaming vive de promessas, apostas ousadas e, muitas vezes, de cortes que surpreendem até os fãs mais atentos. Foi o que aconteceu com O Píer, série criada por Kevin Williamson, conhecido por clássicos da TV como Dawson’s Creek e pelo roteiro de Pânico (1996), que acaba de ser cancelada pela Netflix após apenas uma temporada.

A decisão chamou a atenção por não ser motivada por baixa audiência, como costuma acontecer. Pelo contrário: a produção chegou a liderar o ranking de séries mais assistidas da plataforma em sua semana de estreia e manteve-se por cinco semanas consecutivas no Top 10 Global de séries em língua inglesa. Ainda assim, os executivos da gigante do streaming optaram por não dar continuidade ao projeto, encerrando precocemente a história da família Buckley e deixando os fãs sem uma conclusão.

Foto: Reprodução/ Internet

Uma estreia promissora que virou frustração

Lançada com expectativa de ser uma das grandes novidades dramáticas de 2024 no catálogo da Netflix, a série tinha uma combinação que costuma chamar público: um enredo familiar cheio de tensões, a atmosfera costeira da Carolina do Norte e a assinatura de um criador de prestígio em Hollywood.

A trama girava em torno da família Buckley, dona de um império pesqueiro em Havenport, uma pequena cidade fictícia na costa leste dos Estados Unidos. Comandados pelo patriarca Harlan Buckley (interpretado por Holt McCallany), os Buckley enfrentavam o declínio de sua soberania comercial e precisavam lidar com vícios, segredos e alianças perigosas para manter o legado.

Apesar da boa recepção inicial, a notícia do cancelamento caiu como uma bomba para os fãs. Muitos esperavam uma renovação automática, já que a série conseguiu números superiores a produções que receberam sinal verde para novas temporadas.

Os números que intrigam

Segundo dados divulgados pelo site Deadline, O Píer acumulou 11,6 milhões de visualizações em sua primeira semana. Isso a colocou à frente de séries como Ransom Canyon, também de temática familiar e renovada pela Netflix após boa performance, mas que estreou com 9,4 milhões de visualizações.

O desempenho de O Píer também superou outras produções da própria plataforma, como Assassinato na Casa Branca e Pulse, ambas canceladas, mas com índices de audiência mais modestos.

A pergunta que surge é: se a audiência foi satisfatória, por que a série não ganhou uma segunda temporada? A resposta pode estar em fatores que vão além do número de espectadores.

O peso das parcerias externas

Um dos principais elementos que ajudam a entender a decisão está no fato de que O Píer não é uma produção original da Netflix. A série pertence à Universal Television, que licenciou os direitos de exibição para a plataforma.

Historicamente, a Netflix tem dado prioridade às produções desenvolvidas internamente, que além de gerarem menos custos com licenciamento, permanecem como exclusividade no catálogo da empresa. No caso de séries externas, muitas vezes o investimento não se justifica, mesmo que a audiência seja positiva.

O contraste fica ainda mais evidente quando se observa que a própria Universal conseguiu renovações rápidas na Netflix para outras produções, como Um Espião Infiltrado e As Quatro Estações. Isso mostra que a questão pode envolver negociações contratuais e prioridades estratégicas de catálogo, e não necessariamente uma avaliação artística ou de audiência.

O enredo: dramas familiares, vícios e alianças perigosas

Parte da força de O Píer (The Waterfront) estava em seu enredo carregado de emoção e cheio de dilemas morais. A série mergulhava no cotidiano da família Buckley, tradicionalmente respeitada em Havenport, mas que escondia segredos sombrios por trás da fachada de sucesso.

O patriarca Harlan Buckley era o centro dessa teia de conflitos. Depois de sofrer dois ataques cardíacos, ele se via cada vez mais distante do comando do império pesqueiro que construiu com tanto esforço. A saúde debilitada o forçava a delegar responsabilidades, abrindo espaço para disputas internas entre os membros da família.

Sua filha, Bree Buckley, lutava contra fantasmas do passado. Em processo de reabilitação após o vício em drogas, ela tentava reconstruir sua vida e recuperar a guarda do filho. A personagem representava o drama da queda e da tentativa de redenção, trazendo uma das tramas mais humanas da narrativa.

Já o filho, Cane Buckley, vivia sob a pressão de provar seu valor diante do legado do pai. Ambicioso e impetuoso, ele se envolvia em decisões arriscadas que colocavam a família em rota de colisão com inimigos poderosos.

No centro da família, estava também Belle Buckley, esposa de Harlan e mãe dos filhos, que assumia as rédeas dos negócios enquanto tentava manter os Buckley unidos. Em meio à crise, Belle se via obrigada a tomar decisões duras, revelando até onde uma mãe pode ir para proteger o nome da família.

À medida que os Buckley se afundavam em dificuldades financeiras e em crises pessoais, surgia um dilema ainda maior: para manter sua soberania em Havenport, precisariam se aproximar de um lorde das drogas local. Essa aliança perigosa transformava um drama familiar em um thriller cheio de suspense, levantando a pergunta: até onde alguém vai para salvar o próprio legado?

O elenco: rostos conhecidos e atuações marcantes

O elenco da série é formado por Holt McCallany (Mindhunter, Clube da Luta), Melissa Benoist (Supergirl, Whiplash: Em Busca da Perfeição), Jake Weary (Animal Kingdom, It Follows), Maria Bello (A História de uma Família, Um Crime de Mestre, NCIS), Rafael Silva (9-1-1: Lone Star), Humberly González (Ginny & Georgia, Utopia Falls), Danielle Campbell (The Originals, Tell Me a Story) e Brady Hepner (The Black Phone).

O legado de uma única temporada

Embora tenha durado apenas uma temporada, a trama deixou sua marca. A série conseguiu atrair audiência global, gerou discussões em fóruns de fãs e mostrou que ainda há espaço para dramas familiares densos no universo do streaming. Se por um lado o cancelamento gera frustração, por outro, há quem acredite que a produção possa encontrar uma segunda vida em outro serviço. Como pertence à Universal Television, não seria impossível que outra plataforma manifestasse interesse em continuar a história dos Buckley.

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