
Doze meses se passaram desde que o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores catástrofes naturais da sua história. Mas para quem perdeu tudo, o tempo não passa tão rápido assim. Casas foram levadas, histórias interrompidas, vidas perdidas. Foram 184 mortes, 25 desaparecidos, 478 municípios atingidos e praticamente todo o estado marcado por uma dor coletiva que ainda pulsa. E é com esse olhar humano, atento e solidário que o ‘Profissão Repórter’ retorna ao estado, nesta terça-feira, 29 de abril de 2025, para mostrar como estão as pessoas que tiveram suas rotinas viradas de cabeça para baixo — e também reencontrar quem esteve na linha de frente do resgate.
O reencontro com quem não virou as costas
No auge do caos, voluntários, socorristas, médicos, vizinhos e até desconhecidos estenderam a mão. Agora, um ano depois, a equipe de Caco Barcellos volta para encontrar esses mesmos rostos — gente que não virou as costas diante do sofrimento alheio. Eles contam como seguiram a vida depois da tragédia e o que ainda carregam da experiência de ter enfrentado a destruição lado a lado com outras vítimas.
Encantado e os módulos apertados que viraram casa
A repórter Esther Radaelli e o cinegrafista Francisco Gomes estiveram no Vale do Taquari, região que foi atingida mais de uma vez, entre setembro e novembro de 2023. Lá, em Encantado, muitas famílias vivem hoje em módulos de emergência, com pouco mais de 27 metros quadrados. É pequeno, apertado e longe da antiga casa, mas é o que há. Fabiana de Paula, uma das moradoras, tenta reorganizar a vida dentro desse espaço limitado, enquanto espera uma solução definitiva que parece nunca chegar.
E tem gente que preferiu voltar para o que restou do lar. Caso da aposentada Nodila da Silva, que retornou para o bairro Navegantes, mesmo tendo perdido tudo. “Voltei em novembro. O que eu tenho foi meu braço que trouxe pra dentro de casa. Estou devendo a geladeira, o fogão… mas aqui é meu cantinho”, desabafa. O cenário é duro, mas a coragem é maior.
Muçum ainda carrega feridas abertas
Na cidade de Muçum, uma das mais atingidas, o morador Mauro Cipriani conversou com Esther e relembrou os dias de desespero — e o silêncio que ficou depois da enchente. Para ele, a reconstrução é mais que material: é emocional. E o tempo, mesmo que passe, não apaga os sons da água invadindo a casa ou a dor de ter que recomeçar do zero.
Quando a ciência tenta evitar que a história se repita
Em Nova Petrópolis, a tragédia serviu de alerta. Depois de 17 mil deslizamentos de terra registrados no estado em maio do ano passado, um projeto piloto foi criado no distrito de Boêmios, onde 562 propriedades rurais foram atingidas. Com o apoio da UFRGS e da comunidade local, o geólogo Peter Klaus Hillebrand ajudou a instalar um sistema de monitoramento com sensores de solo e pluviômetros que avisam, em tempo real, quando há risco. É tecnologia usada a favor da vida — e da prevenção.
E Porto Alegre? Ainda tentando se levantar
Na capital gaúcha, os desafios seguem enormes. O repórter Thiago Jock voltou a Porto Alegre para mostrar uma cidade que tenta se reconstruir, mas ainda tropeça em promessas não cumpridas. Na região metropolitana, moradores de Canoas vivem com medo constante das chuvas. As ajudas emergenciais, quando chegam, são lentas e cheias de burocracia. A dor da espera é mais uma camada de sofrimento.
As ilhas do Guaíba: beleza natural, risco constante
Nas ilhas do Lago Guaíba, que ficam bem em frente à orla da capital, o cenário é ainda mais complicado. A paisagem, antes bucólica e tranquila, virou uma área de risco real. Os moradores, em sua maioria pescadores, não querem sair dali. É onde tiram seu sustento, onde têm suas raízes. Mas vivem com o coração na mão, temendo que a água volte — e leve o pouco que restou.
Muito além das estatísticas
O ‘Profissão Repórter’ desta terça-feira, dia 29, mostra um Brasil que nem sempre aparece nos grandes discursos, mas que sobrevive, resiste e reconstrói. São vozes que merecem ser ouvidas, olhares que pedem empatia. É jornalismo que não passa por cima da dor, que para, ouve, acolhe.
Prepare o coração, porque as histórias são fortes. Mas também são cheias de esperança.
🕙 Vai ao ar logo depois da série ‘Os Outros’, na Globo.