Foto: Reprodução/ Internet

O Profissão Repórter desta terça-feira, 7 de outubro de 2025, mergulha em uma das investigações mais alarmantes do jornalismo recente: o avanço do tráfico humano digital, uma modalidade de crime que mistura exploração laboral, coerção psicológica e cativeiro tecnológico. A equipe comandada por Caco Barcellos mostra como uma rede internacional de recrutadores vem aliciando brasileiros para trabalhar em supostas empresas de tecnologia e marketing digital no exterior — mas que, na prática, operam esquemas de golpes virtuais milionários.

Com depoimentos exclusivos e histórias reais, o programa expõe o drama de homens e mulheres que saíram do país acreditando em promessas de estabilidade financeira e acabaram presos em países asiáticos, forçados a cometer crimes sob ameaça. Uma engrenagem global de aliciamento, manipulação e medo, que agora tem o Brasil como um de seus principais alvos.

Do sonho de um emprego no exterior ao pesadelo da exploração

A reportagem traz o relato de Júlio, um jovem de 26 anos do interior de Goiás, que viu em um anúncio de redes sociais a chance de mudar de vida. “Diziam que era uma vaga em uma empresa de tecnologia na Ásia. Prometeram salário alto e visto de trabalho. Quando cheguei lá, tomaram meu passaporte e me colocaram em um prédio cheio de gente na mesma situação. A gente era obrigado a aplicar golpes em pessoas do Brasil. Se recusasse, apanhava”, conta.

Casos como o de Júlio se multiplicam. Segundo dados obtidos pelo programa junto ao Itamaraty, o número de brasileiros resgatados de situações de tráfico humano ligadas a fraudes online cresceu nos últimos dois anos. As vítimas são mantidas em locais isolados, têm os documentos confiscados e são obrigadas a cumprir metas de fraude impostas pelos criminosos.

Golpistas e vítimas: os dois lados da mesma moeda

O “Profissão Repórter” mostra o paradoxo cruel dessas redes: quem aplica os golpes também é uma vítima. Muitos brasileiros aliciados acabam sendo coagidos a cometer crimes virtuais, como falsificação de perfis, clonagem de cartões e transferências ilegais.

As investigações apontam que as quadrilhas atuam a partir de centros de cibercrime instalados em países como Camboja, Laos, Mianmar e Tailândia, onde operam verdadeiros “call centers do golpe”. Brasileiros, nigerianos, chineses e filipinos são explorados por organizações que movimentam milhões de dólares em fraudes digitais contra pessoas no mundo todo.

A repórter Tainá Falcão, que assina uma das reportagens da edição, viajou para conversar com famílias brasileiras que tentam desesperadamente trazer seus parentes de volta. “É devastador ouvir mães que passam noites sem dormir, recebendo ligações pedindo dinheiro para o resgate de seus filhos”, conta.

Recrutamento pelas redes sociais e o disfarce do marketing digital

O programa também revela como as redes sociais se tornaram o principal campo de atuação dos aliciadores. Anúncios em plataformas de emprego e mensagens enviadas por supostos “consultores de RH internacionais” são a porta de entrada para o golpe.

Essas ofertas usam linguagem profissional e contratos aparentemente legítimos, oferecendo passagens aéreas, hospedagem e promessas de regularização de visto. Em muitos casos, o próprio criminoso cobre os custos da viagem — o que gera uma dívida simbólica que as vítimas são obrigadas a “pagar” com trabalho forçado.

O resultado é devastador: uma nova geração de brasileiros vivendo o drama da escravidão digital, em que o corpo pode estar livre, mas o acesso ao mundo exterior é controlado, monitorado e punido com violência física.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

COMENTE

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui