Quarteto Fantástico: Primeiros Passos dá um salto ousado, mas tropeça na bilheteria americana

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Foto: Reprodução/ Internet

Desde que a Marvel anunciou Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, a expectativa era enorme. Afinal, o estúdio estava prestes a dar nova vida a uma equipe que, apesar da importância histórica, nunca teve um filme que realmente fizesse jus ao seu legado.

Com Pedro Pascal (de The Last of Us e The Mandalorian) no papel de Reed Richards, Vanessa Kirby (The Crown, Missão: Impossível – Efeito Fallout) como Sue Storm, Joseph Quinn (Stranger Things) como Johnny, e Ebon Moss-Bachrach (The Bear, Andor) como Ben Grimm, o hype estava lá em cima. E olha, a estreia até que foi animadora: o público fiel compareceu, a crítica ficou satisfeita, e as redes sociais vibraram. Só que… a empolgação durou pouco.

Logo na segunda semana, o filme viu sua bilheteria despencar quase 80% nos EUA, ligando um sinal de alerta não só para a Marvel Studios, mas para todo o setor de blockbusters de super-herói. Até agora, Primeiros Passos acumulou US$ 170 milhões no mercado doméstico e deve alcançar os US$ 200 milhões até o início da próxima semana — números bons, mas bem abaixo do esperado para um filme que deveria iniciar uma nova fase do MCU com força total. As informações são do Omelete.

A reinvenção do Quarteto

A proposta do filme é, sem dúvida, uma das mais criativas que a Marvel apresentou em anos. Ao invés de recontar pela terceira vez a origem da equipe, a trama nos joga direto em uma realidade alternativa: a Terra-828. Um universo retrofuturista, com vibes dos anos 60, cheio de tubos catódicos, carros voadores cromados e trilhas orquestradas que parecem saídas de um episódio de Jornada nas Estrelas clássico.

Nesse mundo, o Quarteto já é famoso, respeitado e amado. Reed lidera uma revolução científica global, Sue é uma diplomata poderosa e carismática, Johnny é um astro pop que voa em chamas e Ben… bem, Ben continua sendo o coração da equipe, mesmo coberto de rocha.

Tudo vai bem até que o céu literalmente começa a cair. A chegada do Surfista Prateado — aqui na versão Shalla-Bal — e a sombra devoradora de Galactus mudam o clima. A trama, então, se transforma em um drama sobre o fim iminente do mundo, a gravidez de Sue e o nascimento do filho do casal, Franklin, que parece carregar um poder cósmico capaz de desafiar até o próprio destino.

O tom mais “Marvel adulto”

A jornada até a estreia não foi fácil. Depois da saída de Jon Watts da direção, o projeto passou para as mãos de Matt Shakman, conhecido por seu trabalho em WandaVision. E a escolha fez toda a diferença. Ao invés de um filme genérico de origem, Shakman trouxe densidade, um pouco de melancolia e um olhar mais autoral.

Com um time de roteiristas quase tão numeroso quanto o próprio elenco (Jeff Kaplan, Ian Springer, Josh Friedman, Eric Pearson, entre outros), o objetivo parecia ser claro: reinventar a equipe para um novo público, mantendo a alma dos personagens, mas sem as fórmulas do passado.

A ambientação europeia das filmagens (Londres, interior da Espanha e ilhas canárias) deu uma estética única ao longa. E a trilha sonora, com toques psicodélicos e instrumentos analógicos, deixou claro: esse Quarteto Fantástico é bem diferente dos que vieram antes.

O que dizem os críticos?

No geral, a recepção da crítica foi bastante positiva, embora longe de unânime. A maioria dos elogios recaem sobre Pedro Pascal e Vanessa Kirby, que entregam performances mais maduras e emocionalmente carregadas. Kirby, especialmente, rouba a cena em momentos delicados envolvendo a gestação e a iminência do sacrifício.

Visualmente, o filme também recebeu muitos aplausos. O design de produção, com seus painéis luminosos e laboratórios dignos de ficção pulp, é um refresco em meio à estética industrial que tomou conta de tantos filmes recentes da Marvel.

Mas nem tudo é perfeito. Muitos críticos destacaram problemas de ritmo, especialmente no segundo ato, e uma dificuldade crônica do filme em decidir se quer ser uma fábula familiar, uma ficção científica filosófica ou um espetáculo de ação. A ausência de um vilão “de carne e osso” — Galactus funciona mais como um conceito do que um personagem — também deixou um vácuo dramático.

E os fãs? (SPOILERS)

Nas redes sociais, o que se vê é um misto de entusiasmo e frustração. Os fãs de longa data do Quarteto se emocionaram com momentos como o nascimento de Franklin, a suposta morte de Sue (revertida de forma quase mística) e a revelação de que Johnny ainda esconde traumas da infância — um detalhe pequeno, mas que ganha peso no contexto do filme.

A cena pós-créditos, como de praxe, causou burburinho. Franklin, agora um bebê com olhos brilhando como estrelas, é visitado por uma figura misteriosa de capa verde em um laboratório isolado. Tudo indica que se trata de Victor Von Doom — o Doutor Destino finalmente dando as caras no MCU.

Para o fandom, esses momentos foram suficientes para garantir uma aprovação emocional. Já o público geral parece ter se desconectado. O tom mais sério, a trama fragmentada e a estética retrô não agradaram a todos — especialmente quem esperava algo mais parecido com os filmes recentes dos Vingadores.

Heróis cósmicos e dilemas humanos

Um dos méritos do filme é tentar responder a uma pergunta incômoda: como ainda emocionar o público em um universo onde deuses, magos e multiversos já são lugar-comum?

A resposta do roteiro é focar no humano. Reed tem medo de perder o filho. Sue quer proteger a família a qualquer custo. Johnny busca sentido para além da fama. Ben tenta entender se ainda é uma pessoa, mesmo após tudo que perdeu.

Esses dilemas ancoram o enredo e impedem que ele se perca completamente no espetáculo. Ainda assim, há uma sensação de que o filme quis dizer muito, mas nem sempre conseguiu costurar tudo com a clareza necessária.

A Marvel já confirmou a sequência? (SPOILERS)

Apesar da bilheteria instável, a Marvel anunciou oficialmente a sequência de Primeiros Passos. A trama deve continuar explorando a Terra-828, agora com Franklin crescendo e manifestando poderes capazes de remodelar o espaço-tempo. Rumores indicam que o Doutor Destino será o antagonista central, e há até conversas sobre o surgimento de um Conselho de Reeds — versões alternativas do Sr. Fantástico, cada uma com sua própria moralidade.

Mas, internamente, o estúdio sabe que precisa repensar a forma de lançar seus filmes. Com a audiência fragmentada e o desgaste natural do gênero, talvez o futuro do MCU dependa menos de explosões e mais de histórias com coração.

No fim das contas, vale a pena?

A nova produção do universo da Marvel não é perfeita — longe disso. Mas é um filme com ambição, com identidade visual forte e com personagens que, mesmo em meio ao caos cósmico, ainda se preocupam uns com os outros. É, talvez, o longa mais humano do estúdio desde Pantera Negra. A queda na bilheteria é um alerta? Sem dúvida. Mas também pode ser um reflexo de algo mais profundo: o público está mudando. E talvez, só talvez, esteja pedindo por algo que vá além da fórmula do herói contra vilão com o mundo em jogo.

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