
Manaus se prepara para viver dias de arte, emoção e reencontros com grandes histórias brasileiras. Nos dias 9, 10, 16 e 17 de agosto, a capital do Amazonas será palco da 1ª Mostra de Teatro Águas de Manaus, um evento cultural gratuito que promete reunir nomes consagrados e talentos locais em uma celebração cênica diversa e afetiva. E nada melhor para dar o tom da abertura do que uma figura que misturava rebeldia, poesia, música e liberdade como ninguém: Rita Lee.
A estreia da mostra acontece no dia 9 de agosto, às 20h, no anfiteatro da praia da Ponta Negra, zona oeste da cidade. E o espetáculo escolhido para abrir o evento é “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”, estrelado pela atriz Mel Lisboa, que mergulha de corpo e alma na história da rainha do rock brasileiro.
Trata-se de uma produção que já emocionou mais de 90 mil pessoas pelo país e que agora chega a Manaus como uma ode viva à mulher, artista e fenômeno cultural que foi — e continua sendo — Rita Lee.
Uma história cantada e sentida
A peça é uma adaptação livre da autobiografia lançada por Rita em 2016, que se tornou um dos livros mais vendidos da década no Brasil. Mas não espere uma simples leitura dramatizada. O que o público verá no palco da Ponta Negra é um espetáculo que mistura música, teatro e emoção em uma narrativa envolvente e generosa, conduzida com humor, afeto e sem medo de encarar os fantasmas — como a própria Rita sempre fez.
Mel Lisboa dá vida a Rita com uma entrega admirável. Ela não apenas interpreta: ela incorpora o espírito da artista, caminhando com desenvoltura entre os episódios mais marcantes da sua vida. Desde a infância em uma família paulistana de classe média alta, passando pelas primeiras bandas, como Os Mutantes e Tutti-Frutti, o período de repressão e prisão durante a ditadura militar, até o reencontro com o amor ao lado de Roberto de Carvalho, os filhos, o ativismo animal e os momentos mais íntimos de vulnerabilidade e glória.
O texto costura a narrativa com canções que marcaram gerações e ainda hoje ressoam com força. Estão no repertório sucessos como “Saúde”, “Mania de Você”, “Doce Vampiro”, “Reza”, “Desculpe o Auê” e, claro, “Ovelha Negra”, uma espécie de hino libertador que embala gerações de pessoas que, como Rita, nunca se sentiram completamente encaixadas.
Mel Lisboa: a atriz que encontrou Rita dentro de si
Mel Lisboa não é uma novata quando o assunto é interpretar Rita Lee. Seu encontro com a artista começou anos atrás, quando protagonizou a peça “Rita Lee Mora ao Lado”, inspirada na biografia homônima escrita por Henrique Bartsch. Desde então, um vínculo quase espiritual se formou entre atriz e personagem. Um elo que se aprofunda neste espetáculo que mistura memória e música com emoção genuína.
Por sua atuação, Mel foi reconhecida com o Prêmio Shell de Teatro, uma das maiores honrarias da cena teatral brasileira. Mas mais do que prêmios, o que a atriz transmite em cena é o sentimento de alguém que compreendeu Rita não apenas como mito, mas como ser humano: frágil, ousada, amorosa, contraditória e absolutamente autêntica.
“Não se trata de imitar. É sobre captar a alma, a vibração, o olhar que ela lançava sobre o mundo. Rita era muitas coisas, às vezes tudo ao mesmo tempo. E é essa complexidade que a torna tão fascinante de representar”, afirmou Mel em entrevistas anteriores.
Um presente para Manaus — e um convite à memória afetiva
A escolha de abrir a Mostra de Teatro Águas de Manaus com esse espetáculo não é apenas um acerto artístico — é também uma decisão simbólica. Rita Lee representa a força da arte que dialoga com todas as gerações. Sua história se mistura com a história recente do Brasil e convida o público a olhar para si mesmo, para os próprios sonhos e rupturas.
Segundo Aline Mohamad, do Instituto Brasileiro de Teatro (iBT), a curadoria da mostra buscou obras que dialogassem com a memória coletiva e com temas universais.
“A Rita é símbolo de liberdade, irreverência, criatividade e coragem. Ela foi — e é — inspiração para artistas, mulheres, ativistas, sonhadores. Começar com esse espetáculo é também uma forma de dizer: estamos aqui para falar de arte que transforma, emociona e resgata histórias que não podem ser esquecidas”, explica Aline.
A atriz e o espetáculo são produzidos pela Turbilhão de Ideias, companhia reconhecida por apostar em narrativas biográficas que cruzam arte e identidade brasileira.
Teatro para todos: uma cidade em cena
A Mostra de Teatro Águas de Manaus vai muito além da abertura estrelada. O projeto contempla apresentações em diversos bairros da capital, com peças que abordam desde temas históricos até reflexões do cotidiano manauara. A proposta é descentralizar a produção teatral e aproximar o público de diferentes territórios à arte.
As apresentações serão realizadas nos dias 9, 10, 16 e 17 de agosto, sempre com acesso gratuito. Além do espetáculo de Mel Lisboa, a mostra contará com companhias locais, trazendo vozes potentes da cena teatral amazônica.
Simony Dias, gerente de Relações Institucionais da Águas de Manaus — empresa responsável pelo apoio à mostra — destaca a importância da democratização do acesso à cultura:
“É uma honra participar de um projeto que leva teatro para todos os cantos da cidade. Cultura é direito, é pertencimento. E com essa mostra queremos oferecer à população de Manaus a chance de assistir espetáculos de altíssima qualidade, tanto locais quanto nacionais, como é o caso da peça da Rita Lee.”
A programação completa será divulgada nos próximos dias pelas redes sociais da Águas de Manaus e do Instituto Brasileiro de Teatro.
Rita além da música
A vida de Rita Lee foi — e continua sendo — um exemplo de como arte e atitude podem caminhar juntas. Durante mais de cinco décadas de carreira, ela rompeu barreiras de gênero, desafiou padrões, lutou contra o machismo na indústria musical e usou sua voz para causas sociais, ambientais e políticas.
Mesmo depois de sua partida, em 2023, aos 75 anos, Rita deixou um legado que não se apaga. Ela segue viva nas letras que escreveu, nos discos que gravou, nas entrevistas ácidas, nas roupas coloridas, nas causas que abraçou e, agora, também nos palcos que levam sua história adiante.
Para quem cresceu ouvindo Rita ou está conhecendo sua obra agora, o espetáculo é uma oportunidade rara de vê-la sob uma nova luz — sem filtros, sem censura, com a dose certa de ironia, poesia e humanidade.
Uma chance de reencontro
Num tempo em que a pressa consome e o excesso de informação distrai, parar para ouvir uma história pode ser um gesto revolucionário. Ainda mais quando essa história é a de uma mulher que fez da própria vida uma trilha sonora de coragem e originalidade.
“Rita Lee – Uma Autobiografia Musical” é mais do que teatro. É um reencontro com o que somos, fomos e ainda podemos ser. Em Manaus, diante do pôr do sol da Ponta Negra, ao som de “Ovelha Negra”, talvez você se descubra, entre lágrimas e sorrisos, dizendo: “essa história também é um pouco minha”.
















