
Quem vê Rodrigo Pimentel sentado no sofá do The Noite com Danilo Gentili pode até esquecer, por alguns segundos, que está diante de um homem que já viveu o inferno das ruas do Rio de Janeiro de perto. Ex-capitão do BOPE, roteirista, palestrante, escritor e hoje uma das vozes mais respeitadas quando o assunto é segurança pública, ele chega ao programa desta terça-feira (11) para falar — sem rodeios — sobre o que está acontecendo nas ruas, nas comunidades e também nos bastidores do cinema que o eternizou.
Direto e carismático, Pimentel promete uma conversa intensa sobre o cenário atual da segurança no Brasil, as operações recentes no Rio de Janeiro e o avanço das facções criminosas. Mas quem conhece suas entrevistas sabe: com ele, o papo nunca fica preso à pauta policial. Há sempre espaço para refletir sobre política, desigualdade, comportamento e até sobre o papel da mídia em um país que, muitas vezes, naturaliza a violência.
Do BOPE às câmeras de cinema
Pouca gente tem um currículo tão improvável quanto o de Rodrigo Pimentel. Nascido no Rio em 2 de março de 1971, ele entrou para a Polícia Militar aos 19 anos e, em pouco tempo, já fazia parte do grupo mais temido — e mais respeitado — da corporação: o BOPE. Entre 1994 e 2000, ele atuou nas operações mais intensas do batalhão, vivendo o cotidiano que mais tarde inspiraria seu trabalho como roteirista e autor.
Mas o que transforma a trajetória de Pimentel em algo singular é sua capacidade de traduzir a realidade da guerra urbana para a linguagem das pessoas comuns. Pós-graduado em Sociologia Urbana pela UERJ, ele sempre foi um policial que pensava além do gatilho — e talvez por isso tenha conseguido, anos depois, dar vida a uma das obras mais impactantes do cinema nacional.
“Tropa de Elite” nasceu da vida real
A semente de Tropa de Elite foi plantada quando Pimentel participou de documentários como Notícias de uma Guerra Particular e Ônibus 174. Durante as filmagens, ele percebeu que havia uma história a ser contada — não de heróis ou vilões, mas de seres humanos presos em um sistema onde todos perdem.
Essa inquietação virou o livro “Elite da Tropa”, lançado em 2005 em parceria com Luiz Eduardo Soares e André Batista. O sucesso foi imediato. Pouco tempo depois, o texto se transformou no filme Tropa de Elite, dirigido por José Padilha e estrelado por Wagner Moura.
O resto é história: o longa conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, virou fenômeno de bilheteria, virou meme, virou debate em escolas, bares e universidades — e colocou de vez o nome de Rodrigo Pimentel no mapa cultural do país.
Em 2010, veio a sequência Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, ainda mais política e contundente, mostrando que o verdadeiro inimigo nem sempre está nas favelas.
“O Capitão Nascimento é ficção — mas nasceu da verdade”
Ao longo dos anos, Pimentel viu muita gente confundir sua figura com a do icônico Capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura. E embora ele reconheça que o personagem tenha sido inspirado em experiências suas e de colegas de farda, sempre deixa claro: “Nascimento é uma síntese de muitos homens — e também de muitas dores.”
Essa distinção entre ficção e realidade é algo que ele deve abordar também no The Noite. A criação de Nascimento, afinal, fala menos sobre um homem e mais sobre um país dividido entre o medo e a busca por justiça.
Da Globo ao YouTube: o novo palco do capitão
Depois do sucesso no cinema, Rodrigo Pimentel trocou os becos por estúdios e começou a atuar como comentarista de segurança na Rede Globo, onde participou de programas e noticiários até 2015. Sua fala firme, sem floreios, o transformou em uma das vozes mais reconhecidas do telejornalismo brasileiro naquele período.
Em 2023, ele decidiu dar um novo passo e criou seu canal no YouTube, um espaço onde fala com liberdade sobre segurança, política e comportamento — sempre com um olhar técnico, mas acessível. Em dois anos, o canal ultrapassou 450 mil inscritos, com mais de 370 milhões de visualizações e mil vídeos publicados.
No digital, Pimentel mostra uma faceta mais próxima e bem-humorada, comentando desde estratégias policiais até bastidores de produções audiovisuais. É o tipo de mistura que só alguém com o pé no asfalto e a mente aberta poderia entregar.
E como o The Noite nunca termina sem música, o episódio também conta com a presença do músico italiano Alborosie, que traz seu reggae vibrante para o palco e fecha a noite em grande estilo.




