Foto: Reprodução/ Internet

Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, o renomado autor Silvio de Abreu compartilhou suas opiniões contundentes sobre o cenário atual das telenovelas brasileiras. Apesar de sua longa e bem-sucedida carreira na TV Globo, Abreu revelou que não assiste mais novelas e se posicionou de forma crítica em relação à recente onda de remakes que tem tomado conta da programação da emissora. Um exemplo claro é “Renascer“, que segue no ar no horário das 21h, da emissora da família Marinho.

Considerado um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Abreu não poupou palavras ao comentar sobre a prática de refilmar antigas produções. “Sou contra remake, porque fiz um de ‘Guerra dos Sexos’ e foi uma porcaria. Não deu certo”, afirmou, referindo-se à nova versão de sua novela de 1983, que foi exibida em 2012. Segundo o autor, o fracasso não foi apenas uma questão de roteiro, mas de uma combinação de fatores que são essenciais para o sucesso de uma novela.

“A novela não faz sucesso só pelo texto, mas pelo todo. São os atores, o período, a maneira de dirigir, o momento em que ela é relevante, e que dali a dois anos pode não ser”, explicou Abreu, destacando que o contexto sociocultural e a direção também desempenham papéis cruciais no resultado final de uma produção. Ele ainda lamentou não ter realizado mudanças significativas na versão de 2012, uma decisão que, segundo ele, comprometeu o desempenho da obra. “Eu gostava tanto da novela que não quis mudar muita coisa. Foi um erro. Quando você refaz, você perde esse processo. Se eu mudasse uma coisa, teria que mudar outras 30”, completou.

Fim do ciclo como diretor da TV Globo

Após 42 anos de uma carreira brilhante e inovadora, Silvio, um dos mais respeitados autores e diretores da televisão brasileira, se despediu da TV Globo, marcando o fim de uma era. Desde que ingressou no canal em 1978, Abreu não só escreveu roteiros inesquecíveis, mas também moldou o cenário das telenovelas brasileiras. Com um talento ímpar para misturar comédia e drama, ele criou histórias que tocaram o coração de milhões de brasileiros, deixando um legado inquestionável. Até o final de 2020, o autor ocupava o posto de Diretor de Dramaturgia, liderando projetos que definiram a identidade da emissora, sempre com seu olhar cuidadoso e inovador. Hoje, seu lugar é ocupado por José Luiz Villamarim, que enfrenta o desafio de manter a excelência na teledramaturgia da Globo.

Desde que Villamarim assumiu o cargo de diretor de teledramaturgia em 2020, o cenário das novelas da Globo passou por mudanças notáveis. A missão de manter a emissora no topo da preferência do público brasileiro é árdua, e embora ele tenha conseguido alguns sucessos, o caminho não tem sido fácil. Produções inéditas como Mar do Sertão (2022), Amor Perfeito (2023) e Vai na Fé (2023) conquistaram certo destaque, mas o desempenho geral da teledramaturgia tem gerado questionamentos sobre uma possível crise criativa. Um exemplo desse desafio é a regravação da novela Elas por Elas, uma aposta que parecia promissora, mas que acabou se tornando o maior fracasso no horário das seis nos últimos anos. A dificuldade em cativar o público e trazer algo realmente novo à mesa tornou-se evidente.

Conheça mais sobre a trajetória do autor

Silvio Eduardo de Abreu, nascido em 20 de dezembro de 1942, em São Paulo, é um daqueles nomes que se confundem com a própria história da televisão brasileira. Mais do que um roteirista e diretor, ele se tornou uma referência, uma figura que moldou o que conhecemos como a telenovela brasileira. Sua trajetória é um exemplo de como o talento, aliado à paixão e ao trabalho árduo, pode transformar o panorama cultural de um país.

Formado em cenografia pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP), Silvio iniciou sua carreira como ator. Foi nos palcos do teatro que ele começou a construir sua identidade artística. Em peças como “Tchin Tchin”, ao lado de gigantes como Cleyde Yáconis e Stênio Garcia, ele demonstrava uma versatilidade que mais tarde definiria seu trabalho como escritor. No entanto, mesmo participando de novelas como “A Muralha” e “Os Estranhos”, Silvio sentia que sua verdadeira paixão estava em outro lugar – nos bastidores.

A década de 1970 trouxe para Silvio um desafio que mudaria sua carreira: o cinema. Ele se aventurou na direção de filmes do gênero pornochanchada, uma tendência da época, com títulos como “A Árvore dos Sexos” (1977) e “Mulher Objeto” (1980). Embora esses filmes tenham sido populares, o cinema não era seu destino final. O verdadeiro chamado veio quando ele se voltou para a televisão, mais especificamente, para a criação de telenovelas.

Sua estreia na TV Globo foi um marco. Com uma capacidade inata de contar histórias que dialogavam com o público, Silvio de Abreu rapidamente se destacou. O que o diferenciava era sua habilidade de mesclar gêneros – humor, drama e suspense – de uma forma que parecia natural e envolvente. Suas tramas, muitas vezes ambientadas em sua cidade natal, São Paulo, tornaram-se retratos de uma sociedade em constante transformação.

Um de seus primeiros grandes sucessos foi “Guerra dos Sexos” (1983), uma comédia que, além de entreter, fazia uma crítica social ao explorar as dinâmicas de poder entre homens e mulheres. O humor ácido e os diálogos afiados conquistaram o público. Já em “Cambalacho” (1986), Silvio demonstrou sua capacidade de rir dos comportamentos humanos, satirizando-os de maneira leve, mas nunca superficial. E em “Sassaricando” (1987), ele entregou uma das tramas mais alegres e coloridas dos anos 80.

Mas não foi apenas o humor que consagrou autor. Ele também ousou em novelas de grande impacto social, como “A Próxima Vítima” (1995), que trouxe o suspense policial para a teledramaturgia, um gênero até então pouco explorado no Brasil. A novela, com suas reviravoltas e mistérios, mantinha o país inteiro preso à TV, tentando adivinhar quem seria a próxima vítima.

Outro momento memorável de sua carreira foi “Torre de Babel” (1998), que abordou temas delicados como homofobia e intolerância. Silvio não teve medo de desafiar o público, criando debates que ultrapassavam a ficção e se estendiam para a vida real. E em 2010, com “Passione”, ele mais uma vez mostrou sua maestria ao combinar drama familiar e suspense, mantendo os telespectadores envolvidos do início ao fim.

O autor é um mestre em capturar a essência humana em suas tramas, criando personagens que, mesmo em suas exageradas idiossincrasias, refletem a realidade de muitos brasileiros. Sua capacidade de contar histórias que atravessam gerações, envolvendo e emocionando, o coloca no panteão dos grandes da televisão brasileira. E mesmo depois de tantos anos, sua influência permanece forte, sendo um exemplo para novos roteiristas e diretores que desejam seguir seus passos.

Hoje, ao olhar para trás, a trajetória de Silvio não é apenas a história de um homem que se destacou no que fazia. É a história de alguém que ajudou a construir a cultura de um país, influenciando não só a televisão, mas também o imaginário de milhões de brasileiros.

Comente a sua opinião