
Estreia em 13 de novembro nos cinemas brasileiros o longa-metragem “Sombras no Deserto”, uma das produções mais ousadas e debatidas do ano. Distribuído pela Imagem Filmes, o título marca uma nova fase na carreira de Nicolas Cage, que assume um papel intenso e carregado de simbolismo ao lado de FKA Twigs e Noah Jupe. A direção é de Lotfy Nathan, cineasta que imprime ao projeto uma visão autoral e inquietante sobre fé, destino e a natureza do poder.
Ambientado no Egito Antigo, o filme apresenta uma leitura radicalmente inédita sobre um tema raramente explorado: a adolescência de Jesus Cristo. A trama é inspirada no Evangelho apócrifo de Pseudo-Tomé, um texto que descreve os chamados “anos perdidos” da vida do messias, ausentes nos evangelhos oficiais. Nessa versão, o jovem Jesus manifesta dons sobrenaturais que ainda não compreende, tornando-se um ser dividido entre o sagrado e o humano, entre o milagre e o medo.
Para Lotfy Nathan, o projeto nunca teve como propósito provocar a fé, mas sim investigar o mistério da formação de um mito. “Eu não pretendia fazer um filme religioso”, afirma o diretor. “Mas conforme mergulhei nessa história, percebi que ela fala sobre o que é ser parte de uma família — sobre amor, temor e sobrecarregar alguém com expectativas impossíveis.” Essa perspectiva íntima e emocional transforma o longa em um drama sobrenatural de forte impacto psicológico, em que a tensão cresce à medida que o poder do garoto ameaça desestabilizar todos ao seu redor.
No papel do pai, chamado apenas de O Carpinteiro, Nicolas Cage entrega uma das atuações mais vigorosas de sua carreira recente. Seu personagem é um homem simples que vê sua fé e sua sanidade abaladas diante do inexplicável. Ao seu lado, FKA Twigs vive a mãe do menino, uma mulher que tenta proteger o filho e preservar a unidade da família mesmo quando a presença dele passa a ser vista como uma maldição. O jovem Noah Jupe completa o trio principal com uma performance densa e misteriosa, capturando a inocência e a perturbação de um ser que carrega o divino sem compreender o que isso significa.
A direção de Nathan aposta em uma estética austera e hipnótica. As paisagens áridas, o silêncio opressivo e a fotografia em tons terrosos evocam um clima de solidão e reverência, enquanto a câmera acompanha de perto os gestos e olhares dos personagens, ampliando o desconforto e a sensação de isolamento. Essa atmosfera reforça a dualidade do filme: o deserto físico reflete o deserto interior de seus protagonistas — um lugar onde fé e medo coexistem.
O resultado é uma obra que desafia classificações fáceis. Nem uma cinebiografia religiosa, nem um terror convencional, “Sombras no Deserto” é uma meditação cinematográfica sobre a origem da fé e o preço da diferença. Cada cena parece construída para provocar desconforto e reflexão, conduzindo o espectador a um terreno onde o sagrado se confunde com o humano e onde a inocência pode se transformar em poder destrutivo.
Em festivais internacionais, o longa já vem sendo descrito como “uma experiência espiritual perturbadora”, elogiado pela coragem estética e pela profundidade de suas interpretações. Críticos destacam a performance contida e magnética de Nicolas Cage, a entrega emocional de FKA Twigs e a sensibilidade de Nathan ao tratar temas teológicos sob um olhar humano e contemporâneo.
















