As últimas semanas foram marcantes para fãs de cultura pop, videogames e grandes produções hollywoodianas. Depois de mais de três décadas tentando encontrar o equilíbrio certo entre fidelidade ao material original e ambição cinematográfica, Street Fighter finalmente encerrou suas filmagens principais. O novo longa, produzido pela Legendary Entertainment em parceria direta com a Capcom, promete não apenas resgatar a essência da franquia, mas também reinventá-la para uma nova geração — agora com tecnologia, elenco e visão criativa que nunca estiveram disponíveis nas adaptações anteriores.

O encerramento das filmagens foi celebrado com entusiasmo pelo diretor Kitao Sakurai, que publicou uma foto dos bastidores em suas redes sociais, marcando o fim da etapa mais desafiadora do projeto. E se o entusiasmo da equipe é um indicador do que está por vir, o público pode esperar um filme que faz jus ao legado de um dos jogos de luta mais influentes de todos os tempos.

A produção, que começou em agosto de 2025 na Austrália, encerra um ciclo que passou por trocas de direção, longas negociações e expectativas altíssimas desde sua concepção, em 2023. Agora, com o longa oficialmente em fase de pós-produção, o próximo capítulo dessa história se aproxima: o lançamento, previsto nos Estados Unidos para 16 de outubro de 2026, pela Paramount Pictures.

A história por trás da nova adaptação

Em abril de 2023, quando a Legendary Entertainment adquiriu os direitos de adaptação cinematográfica de Street Fighter, a notícia tomou conta das redes sociais. A ideia de uma nova versão live-action sempre provocou curiosidade — e preocupação — entre os fãs. Afinal, as adaptações anteriores deixaram memórias conflitantes: o filme de 1994 virou cult, mas não exatamente pelas razões que seus produtores imaginavam. Já A Lenda de Chun-Li (2009) se tornou sinônimo de decepção, quase um alerta permanente de como a franquia deveria ser tratada com mais cuidado.

A Legendary, porém, parecia determinada a mudar essa narrativa. Desde o início, decidiu construir o reboot ao lado da Capcom, envolvida como co-produtora. A estratégia era clara: respeitar o DNA dos jogos. Não apenas em termos visuais, mas principalmente na essência dos personagens e na filosofia por trás do Torneio Mundial de Guerreiros.

Originalmente, o projeto seria dirigido pelos irmãos Danny e Michael Philippou, conhecidos pelo terror criativo Talk to Me. A escolha surpreendeu, mas também empolgou, principalmente pela estética crua e visceral que os diretores poderiam trazer ao universo de Street Fighter. Entretanto, em junho de 2024, ambos deixaram o projeto, priorizando o filme Bring Her Back. A saída gerou incertezas — até que, em fevereiro de 2025, uma nova peça se encaixou no tabuleiro.

Kitao Sakurai, conhecido pela direção do irreverente Bad Trip e por sua habilidade em mesclar humor, ação e narrativa visual inventiva, assumiu o comando. A escolha trouxe um frescor inesperado: Sakurai tem olhar artístico singular e habilidade para dar vida a personagens excêntricos, elementos essenciais em um universo tão estilizado quanto o de Street Fighter. E, acima de tudo, trazia consigo uma postura colaborativa que facilitou a sintonia entre direção, elenco e consultores da Capcom.

De volta a 1993, ao espírito do arcade

Uma das maiores surpresas reveladas pela Paramount foi a ambientação do longa em 1993, bem no auge da febre dos fliperamas. Ao situar a história no início dos anos 90, o filme busca capturar a estética e a energia da época que fez Street Fighter se tornar um fenômeno mundial. Não é apenas nostalgia: essa ambientação é fundamental para criar um choque dramático entre tradição, honra, rivalidade e os dilemas pessoais dos protagonistas.

Na narrativa, acompanhamos Ryu (vivido por Andrew Koji, conhecido por Warrior) e Ken Masters (interpretado por Noah Centineo, que aqui mergulha em sua versão mais madura e física). A dupla, afastada dos ringues por motivos ainda mantidos em segredo, é surpreendida pela misteriosa Chun-Li (Callina Liang), que os traz de volta ao cenário das lutas ao convocá-los para o lendário Torneio Mundial de Guerreiros.

O torneio, inicialmente apresentado como um espetáculo brutal de disputa, honra e redenção, revela-se apenas a superfície de uma conspiração muito maior. O trio descobre que forças ocultas manipulam os rumos da competição — e que o destino do mundo pode estar mais entrelaçado ao torneio do que eles imaginam. Entre intrigas, segredos enterrados e lutas explosivas, Ryu e Ken serão obrigados não apenas a enfrentar inimigos formidáveis, mas a revisitar seus próprios demônios internos.

A frase usada pelo estúdio na divulgação é clara:
“E se eles não fizerem isso… é FIM DE JOGO!”

Um mosaico de talentos, presença física e carisma

A escalação do elenco foi um dos pontos mais comentados pelos fãs desde o início de 2025. E com razão: o filme reúne uma mistura ousada de atores consagrados, estrelas de ação, humoristas, lutadores profissionais e talentos emergentes. Tudo isso para trazer à vida personagens que marcaram gerações.

Em um dos papéis centrais, Noah Centineo encara o desafio de interpretar Ken Masters, um personagem que exige equilíbrio perfeito entre arrogância charmosa, habilidade marcial e camaradagem intensa com Ryu. Centineo, que vem expandindo sua carreira para papéis mais físicos, surge aqui com seu trabalho mais exigente e transformador.

Já Andrew Koji, amplamente respeitado por sua performance corporal e precisão marcial, parece ter nascido para viver Ryu. Koji tem a rara habilidade de transmitir conflito interno mesmo em cenas silenciosas, algo essencial para o protagonista mais introspectivo da franquia.

Jason Momoa, numa jogada ousada e surpreendente, assume o papel de Blanka. A curiosidade dos fãs é enorme — principalmente sobre como o visual do personagem será tratado, considerando sua mistura entre humanidade e ferocidade selvagem. Momoa já adiantou, em entrevistas, que representa “uma versão emocionalmente complexa e inesperada” do ícone brasileiro.

Outro destaque é Roman Reigns, astro da WWE, escalado como o temido Akuma. Sua presença física promete dar vida a um dos vilões mais imponentes da franquia, com um toque mais sombrio, fiel à lore dos jogos.

A chegada de Callina Liang como Chun-Li também foi celebrada. A personagem sempre exigiu um equilíbrio delicado entre força, elegância e determinação — e Liang parece ter abraçado esse espírito com profundidade emocional e desempenho atlético impressionante.

A lista continua com nomes de peso como Curtis “50 Cent” Jackson, interpretando o boxeador brutal Balrog, e David Dastmalchian, ator de versatilidade incomparável, no papel do icônico vilão M. Bison. Dastmalchian, acostumado a personagens sombrios e perturbadores, promete entregar uma versão mais calculada e assustadora do ditador psíquico.

Além deles, Cody Rhodes surge como Guile, trazendo sua experiência no ringue para um dos personagens mais patrióticos dos videogames. O lutador e ator indiano Vidyut Jammwal, especialista em artes marciais, encarna Dhalsim, enquanto Eric André dá vida ao exótico Dom Sauvage, em uma escolha que deve adicionar humor e imprevisibilidade ao elenco.

A produção ainda conta com Orville Peck como o misterioso Vega, Olivier Richters como o gigante Zangief, Hirooki Goto como E. Honda, Mel Jarnson como Cammy, Rayna Vallandingham como Juli, Alexander Volkanovski como Joe e Kyle Mooney como Marvin — reforçando a diversidade estilística e estética necessária para representar o universo plural de Street Fighter.

Desafios, trocas e um renascimento criativo

Produzir um reboot de um dos maiores fenômenos dos videogames não é tarefa simples. Mas o caminho até aqui revela uma produção determinada a acertar onde as adaptações anteriores falharam.

A parceria entre a Legendary e a Capcom foi essencial. Criadores originais da saga, roteiristas, consultores de combate e artistas visuais trabalharam lado a lado com o diretor Kitao Sakurai e o roteirista Dalan Musson. Os campos de treinamento dos atores envolveram diferentes disciplinas: muay thai, karatê, boxe, capoeira, grappling e movimentos inspirados nas animações clássicas do jogo. A preparação física foi tão intensa que alguns atores até compartilharam hematomas e rotinas exaustivas nas redes sociais.

Sakurai também enfrentou o desafio de traduzir os elementos exagerados e fantásticos do jogo para um formato live-action sem perder credibilidade. A equipe utilizou captura de movimento, efeitos práticos e CGI de última geração para criar movimentos icônicos como o Hadouken, o Sonic Boom e o Psycho Crusher. Mas a prioridade sempre foi a fisicalidade dos atores, evitando depender exclusivamente da pós-produção.

As filmagens na Austrália trouxeram cenários naturais grandiosos, ao mesmo tempo em que estúdios locais foram transformados em arenas de combate, templos místicos e laboratórios secretos. A produção ainda utilizou locações urbanas para criar uma estética suja e caótica, remetendo às fases clássicas dos jogos.

As expectativas dos fãs e o espírito do arcade

É impossível ignorar a enorme responsabilidade emocional que o filme carrega. Street Fighter não é apenas um jogo — é uma parte da história de milhares de pessoas. Crescer nos fliperamas dos anos 90 envolvia duelos improvisados, desafios entre desconhecidos, movimentos secretos descobertos entre amigos e rivalidades eternas criadas com controle em mãos.

O filme, ao se ambientar em 1993, não quer apenas contar uma história de luta. Quer reacender o espírito competitivo, a estética neon, o suor das batalhas improvisadas e o calor de uma época em que vencer uma partida significava deixar seu nome com três iniciais brilhando em uma máquina arcade.

E essa conexão emocional pode ser a chave para o sucesso.

O longa-metragem chega aos cinemas norte-americanos em 16 de outubro de 2026. Até lá, resta aos fãs preparar seus controles, revisitar golpes clássicos e torcer para que, dessa vez, o cinema faça justiça ao legado do Hadouken.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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