
A Tela Quente desta segunda-feira, 24 de novembro, leva o público da Globo para uma história eletrizante e profundamente humana. “Desaparecida” não é apenas um thriller moderno: é um mergulho na dor e na coragem de uma filha que se vê sozinha diante do pior medo que alguém pode enfrentar — o desaparecimento de quem mais ama.
O filme acompanha June, interpretada com enorme sensibilidade por Storm Reid. Ela é jovem, esperta com tecnologia e acostumada à rotina corrida de Los Angeles. A vida parece seguir um ritmo normal até que sua mãe, Grace (Nia Long), desaparece durante uma viagem de férias na Colômbia. A partir desse momento, o que antes era cotidiano vira urgência. E o que era leve transforma-se em desespero.
Uma viagem comum que se torna motivo de angústia
Grace viaja para passar alguns dias fora com seu novo namorado, Kevin. A ideia é relaxar e viver uma fase de renovação — algo muito familiar a quem tenta reorganizar a vida depois de períodos difíceis. June, por sua vez, aproveita o fato de estar sozinha em casa para fazer o que tantos jovens fariam: ter um pouco de liberdade e descansar da vigilância materna.
Os primeiros dias seguem tranquilos, até que o silêncio começa a se repetir. Mensagens que não chegam. Ligações que não são atendidas. Fotos que não são enviadas. O que inicialmente parece distração vira alerta. E o alerta vira pânico.
A maneira como o filme retrata esse silêncio é dolorosa. Quando alguém que amamos some, o tempo cresce. Os minutos pesam. A mente cria cenários. E June se vê nesse lugar delicado: entre a razão que tenta dizer que “pode ser algo simples” e o instinto que grita que algo está errado.
A barreira dura da burocracia
Assim que percebe a gravidade da situação, June aciona as autoridades. Mas esbarra em um obstáculo familiar a qualquer pessoa que já tentou resolver algo fora do país: a burocracia. Protocolos lentos, formulários intermináveis, respostas curtas e pouco encorajadoras.
Os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) tentam ajudar, mas existe uma distância real — geográfica e institucional — que dificulta qualquer ação. June se sente presa em um território onde a urgência emocional não combina com o ritmo formal das investigações.
É um daqueles momentos em que o público reconhece a crueldade do mundo real. Quando precisamos de respostas rápidas, tudo parece andar mais devagar.
A tecnologia como último fio de esperança
Sem confiar totalmente na investigação oficial, June decide seguir seu próprio caminho. E o que ela tem à disposição? Um computador, uma internet instável e a vontade de trazer a mãe de volta. É assim que o filme encontra seu ponto mais marcante: transformar ferramentas tecnológicas em extensões das emoções da protagonista.
Cada login, cada pesquisa, cada câmera encontrada cria uma tensão nova. Não é um suspense de perseguição física; é um suspense que acontece diante de uma tela — algo muito familiar para quem vive no nosso tempo.
June começa a vasculhar tudo que pode: redes sociais, e-mails, extratos, aplicativos. Quando algo não funciona, ela improvisa. Quando uma pista aparece, ela segue. Quando outra some, ela recomeça. Há uma verdade que o filme expõe de maneira honesta: ninguém nos ensina a procurar uma pessoa desaparecida. E mesmo assim, June tenta aprender sozinha.
Ao longo da investigação, surgem informações desconfortáveis sobre Kevin e detalhes que June jamais imaginou sobre sua própria mãe. Essa mistura de medo, choque e descoberta cria os momentos mais emocionantes do longa.
A humanidade que surge no caminho
Nesse processo, um personagem se destaca: Javi, interpretado por Joaquim de Almeida. Ele não é policial, não é detetive, não é especialista em nada. É apenas um homem comum disposto a ajudar quando percebe o desespero da jovem. Javi vira os olhos e as pernas de June na Colômbia, realizando pequenas buscas, indo a lugares onde ela jamais poderia ir sozinha.
É um personagem simples, mas essencial. Ele simboliza algo bonito: mesmo em uma história cheia de tecnologia, senhas e códigos, ainda são pessoas que fazem a diferença.
Entre o mistério e o afeto
Apesar do clima de suspense, “Desaparecida” sempre volta para o mesmo lugar: a relação entre mãe e filha. É um vínculo cheio de afeto, pequenas discordâncias, lembranças guardadas e detalhes que só quem convive realmente entende. O filme usa trechos de vídeos, conversas antigas e memórias domésticas para mostrar como essa ligação é forte — mesmo quando June percebe que Grace tem partes da vida que nunca contou.
Essa dimensão emocional dá ao filme um peso muito maior que o do mistério em si. O público não torce apenas para que June descubra onde a mãe está; torce para que ela consiga se reencontrar com tudo que foi perdido no caminho — inclusive a própria história delas.
Uma narrativa construída a partir de telas
A direção de Will Merrick e Nicholas D. Johnson é segura e inteligente. Eles entendem que vivemos em uma época em que nossas histórias passam por telas, notificações e caixas de entrada. Por isso, transformam laptops, celulares e câmeras em ferramentas narrativas.
Longe de ser um truque visual, essa opção aproxima o filme da nossa vida real. Quase tudo o que June descobre poderia ser descoberto por qualquer pessoa hoje. E isso torna o longa ainda mais inquietante. Ele brinca com a nossa sensação de intimidade digital, mostrando como nossas vidas, mesmo protegidas por senhas, estão sempre mais expostas do que imaginamos.





