
A tarde deste domingo, 16 de novembro, promete ser daquelas em que a gente se acomoda no sofá, deixa a luz entrar pela janela e simplesmente se deixa levar por uma boa história. A Globo exibe Resistência na Temperatura Máxima, um filme que, desde seu lançamento, vem chamando atenção não só pelo visual impressionante, mas principalmente pela maneira como mistura ação futurista com sentimentos muito humanos. Gareth Edwards, conhecido por criar mundos grandiosos sem perder de vista a emoção, constrói aqui um futuro devastado pela guerra entre humanos e inteligências artificiais — um cenário gigante que, aos poucos, se revela palco de uma história íntima sobre dor, memória e reconciliação.
De acordo com a sinopse do AdoroCinema, no centro desse mundo em colapso está Joshua, interpretado por John David Washington. Ele é um ex-agente das forças especiais que tenta respirar em meio ao luto, depois que sua esposa desaparece sem explicação. A ausência de Maya é o tipo de dor que não grita, mas pesa. Ela ocupa o silêncio das madrugadas, o espaço vazio do lado da cama, os detalhes que só quem perdeu alguém importante reconhece. É nesse estado de suspensão emocional que Joshua é convocado para uma última missão: localizar e eliminar o Criador, o cientista por trás de uma arma que poderia definir o fim da guerra. Só que nada, absolutamente nada, sai como ele espera.
Quando Joshua descobre que “a arma” é, na verdade, Alfie — uma criança-simulante que pensa, sente e teme como qualquer pessoa — a narrativa muda de eixo. De repente, ele se vê confrontado não apenas com inimigos, mas com suas próprias convicções e feridas. A relação entre os dois é o fio que costura o filme, revelando camadas de ternura e conflito que tornam impossível para o espectador não se envolver.
John David Washington conduz essa jornada com uma entrega emocional rara. Há força em seu olhar, mas também uma vulnerabilidade que escapa nos momentos de silêncio. Ele não interpreta apenas um soldado; interpreta um homem tentando sobreviver às próprias perdas. Gemma Chan, como Maya, aparece de forma decisiva nesse processo. Mesmo quando surge por meio de memórias, sua presença é tão sensível e cheia de mistério que se torna o eixo emocional que empurra Joshua para frente. Cada flash de lembrança dela parece carregar o perfume do que foi vivido — e do que foi arrancado dele.
Ken Watanabe também deixa sua marca como Harun, uma figura que oferece uma visão mais humana sobre a guerra e seus paradoxos. Sua presença serena ajuda a tirar a narrativa do terreno da ação pura, abrindo espaço para reflexões sobre convivência, ética e sobrevivência. Mas quem realmente surpreende é Madeleine Yuna Voyles, intérprete de Alfie. Mesmo tão jovem, ela sustenta cenas carregadas de emoção com uma naturalidade impressionante. Alfie é o coração vivo dessa história, e a atriz consegue transmitir, com pequenos gestos, a mistura de inocência e potência que define sua personagem.
O filme ainda se fortalece graças ao elenco de apoio, que preenche o universo criado por Edwards com figuras que fazem o espectador sentir, de verdade, o peso daquela guerra. Allison Janney entrega uma comandante militar dura, quase inflexível, representando o lado mais sombrio dessa disputa. Sturgill Simpson traz uma delicadeza inesperada ao papel de Shipley, enquanto Ralph Ineson e Marc Menchaca ajudam a manter vivo o clima de tensão constante. Veronica Ngo, por sua vez, adiciona energia e presença ao interpretar Kami, colaborando para ampliar a sensação de mundo vivo que permeia a produção.
A construção desse universo começou em 2020, quando Gareth Edwards uniu forças com a New Regency para desenvolver um projeto de ficção científica que fugisse do lugar-comum. O roteiro, inicialmente chamado True Love, evoluiu até alcançar o equilíbrio entre grandiosidade e intimidade que vemos na tela. As filmagens, realizadas na Tailândia, deram ao filme uma textura real, mesclando paisagens naturais com tecnologia de forma quase orgânica. A fotografia de Greig Fraser e Oren Soffer é um espetáculo à parte: cada enquadramento carrega uma beleza melancólica que parece refletir o próprio coração da história.
O longa-metragem chegou aos cinemas americanos em 29 de setembro de 2023, cercado de expectativa e curiosidade. Sua recepção calorosa na CinemaCon já antecipava o impacto que o filme teria. Mas mais do que efeitos especiais ou cenas de batalha, o que ficou evidente para quem assistiu foi sua capacidade de fazer perguntas — perguntas que, muitas vezes, apontam mais para o que sentimos do que para o que vemos. É um filme que fala sobre o medo do desconhecido, sobre o luto que não cicatriza e sobre a possibilidade de encontrar humanidade até onde menos se espera.





