O palco do The Noite com Danilo Gentili promete muita energia e boas histórias nesta quarta-feira (22). O convidado da vez é ninguém menos que Igor Kannário, o irreverente cantor e compositor baiano conhecido como “Príncipe do Gueto” e “Rei da Pipoca”. Com uma trajetória marcada por autenticidade, superação e paixão pela música, o artista relembra no programa os primeiros passos da carreira, as dificuldades da infância e a consolidação como um dos nomes mais emblemáticos do Carnaval de Salvador.

Fenômeno da música baiana, Kannário comanda há mais de uma década a Pipoca do Kannário, um dos blocos mais tradicionais do circuito Barra-Ondina. Sem cordas, sem abadá e com uma legião de fãs fiéis, ele leva alegria e representatividade às ruas, atraindo multidões que seguem o trio elétrico em uma verdadeira celebração da cultura popular.

Do bairro à fama: as raízes de um artista do povo

Durante o bate-papo com Danilo Gentili, Igor Kannário relembra com emoção o início da carreira, quando ainda era uma criança que sonhava em viver da música. “Com 9 anos de idade, eu já fazia shows profissionais para levar sustento para casa”, contou o cantor, destacando que precisou até de autorização judicial para se apresentar à noite por ser menor de idade.

Natural de Salvador, Kannário começou como baterista e, segundo ele, tornou-se vocalista quase por acaso. “Um dia, o cantor principal da banda faltou e eu tive que substituir. Foi assim que tudo começou. A música me escolheu.” Esse episódio marcou o início de uma jornada que o transformaria em um dos maiores representantes da cena musical da Bahia.

Um nome inspirado no canto dos pássaros

No programa, o artista também contou uma curiosa história sobre a origem de seu nome artístico, que surgiu de um encontro inesperado com o cantor Belo, ídolo do pagode romântico. “Ele estava ouvindo uma entrevista minha em uma rádio de São Paulo e disse: ‘Gostei da voz desse moleque, parece um canário, um pássaro. Qual o seu nome?’. Eu disse que era Igor, e ele mandou colocar Igor Kannário”, relembra o artista, rindo.

Anos depois, os dois se reencontraram, e Belo ficou surpreso com o sucesso do apelido. “Ele me falou: ‘Nem eu sabia que ia dar tão certo’. E deu mesmo. O nome virou minha marca.”

O título de “Príncipe do Gueto”, outro símbolo da identidade de Kannário, também nasceu do carinho do público. “Foi um presente dado pelo povo. As pessoas começaram a me chamar assim, e aí ficou. Hoje, é mais do que um apelido — é um símbolo de respeito e amor por onde eu passo”, afirmou o cantor.

Ícone do Carnaval e da cultura popular

O sucesso da Pipoca do Kannário vai muito além da música. O artista se tornou um símbolo de resistência e representatividade para os moradores das comunidades e favelas de Salvador, levando sua arte a todos os cantos sem distinção. Sua energia contagiante e seu estilo inconfundível transformaram o bloco em um dos momentos mais aguardados do Carnaval baiano.

A proposta da pipoca — o desfile gratuito, sem abadá, em que todos podem participar — reflete a filosofia de vida do cantor: “a rua é do povo”. Para Kannário, o Carnaval é mais do que uma festa: é uma expressão de liberdade e inclusão. “Meu trio é o espaço do amor, da alegria e da união. A gente canta, dança e mostra que o gueto também brilha.”

Nos últimos anos, Kannário consolidou-se como um dos artistas mais queridos do público, com um repertório que mistura pagode, swing e arrocha, em canções que exaltam o amor, a fé e a vivência do cotidiano. Seu carisma, aliado ao discurso de valorização da periferia, faz dele uma voz autêntica e necessária na música brasileira.

Tatuagens, personalidade e arte no corpo

Além das histórias de bastidores, o cantor revelou durante o programa seu fascínio por tatuagens, outro traço marcante de sua personalidade. Com o corpo completamente coberto por desenhos e símbolos que representam momentos da vida, Kannário impressiona ao contar que já fechou o corpo em uma única sessão.

“Foram oito horas seguidas, com seis tatuadores trabalhando ao mesmo tempo”, recorda. “Foi uma experiência intensa, mas cada traço tem um significado. Meu corpo é meu diário, minha história está toda nele.”

O cantor explicou que muitas de suas tatuagens são homenagens a pessoas importantes, conquistas e até lições aprendidas. “A arte me salvou e continua me guiando. Tudo o que eu sou está gravado aqui.”

Entre a música e a superação

Durante a entrevista, Igor Kannário também falou sobre os desafios que enfrentou ao longo da carreira — tanto na vida pessoal quanto profissional. Ele relembrou momentos de preconceito e julgamento, mas fez questão de destacar a força que vem do público. “O amor das pessoas me mantém firme. Eu canto para elas, para o povo que me abraçou quando ninguém acreditava em mim.”

Com uma trajetória marcada por altos e baixos, Kannário mostra que sua história é feita de resiliência e fé. “Já errei, já caí, mas nunca deixei de acreditar em mim. O gueto me ensinou que a gente pode cair dez vezes e levantar onze”, disse, emocionado.

Essa conexão com o povo é o que mantém o artista no topo há tantos anos. Em cada apresentação, seja no Carnaval ou em shows pelo Brasil, ele faz questão de agradecer o carinho do público que o transformou em um ícone.

Um futuro de novos projetos e gratidão

Ao ser questionado sobre o futuro, Kannário revelou que tem trabalhado em novos projetos musicais, com foco em parcerias e sonoridades diferentes. “A música está sempre mudando, e eu gosto de me reinventar. Quero misturar ritmos, trazer novas ideias e continuar levando alegria para as pessoas.”

O artista também ressaltou o desejo de usar sua visibilidade para inspirar jovens das comunidades, mostrando que o sucesso é possível mesmo diante das dificuldades. “Eu sou prova viva de que dá pra vencer. Acredite no seu talento, no seu dom, e nunca esqueça de onde você veio.”

Para o cantor, cada conquista é resultado da fé e da persistência. “Tudo o que tenho veio de muito trabalho e oração. Se hoje eu sou o Príncipe do Gueto, é porque o povo me escolheu, e eu nunca vou deixar de ser do povo.”

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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