
Nesta quinta-feira, 9 de outubro de 2025, o The Noite com Danilo Gentili recebe um convidado que é sinônimo de credibilidade, elegância e história: Celso Freitas, um dos maiores ícones da comunicação brasileira. Com 55 anos de carreira, o jornalista revisita no programa sua trajetória marcada por profissionalismo e emoção — dos primeiros passos no rádio à consolidação na televisão, passando pelos bastidores das grandes coberturas que moldaram o noticiário do país. Em um bate-papo leve, nostálgico e inspirador, Celso fala sobre o início de sua jornada, as transformações do jornalismo e a importância de manter a ética em um tempo em que a informação é instantânea.
Natural de Criciúma, em Santa Catarina, Celso Freitas começou a trabalhar muito cedo e teve sua vida transformada pelo acaso. Aos 16 anos, sonhava em se tornar piloto de avião, mas um convite inesperado de um parente — dono de uma emissora de rádio — mudou o rumo de sua história. “Fui fazer um teste só por curiosidade. Entrei no estúdio, ligaram o microfone, e eu nunca mais saí de lá”, relembra, entre risadas.
O que era apenas uma experiência virou paixão. Em pouco tempo, o jovem locutor conquistou ouvintes pela voz imponente, dicção impecável e naturalidade ao comunicar. De Criciúma a Florianópolis, e depois ao Rio de Janeiro, Celso foi trilhando um caminho de disciplina e talento que o levaria, ainda nos anos 1970, ao centro do jornalismo televisivo. O rádio, como ele mesmo diz, foi sua “escola emocional”, o lugar onde aprendeu o poder da palavra e o respeito pela audiência — valores que o acompanhariam por toda a vida.

A ascensão na TV e o nascimento de uma referência nacional
Com a chegada à TV Globo, Celso passou a integrar o time de profissionais que marcariam época no telejornalismo brasileiro. Seu estilo sóbrio, aliado a uma postura sempre firme e ponderada, o transformou rapidamente em um símbolo de credibilidade. Nos anos seguintes, seu nome estaria ligado a momentos emblemáticos da televisão, conduzindo transmissões que uniram o país diante da tela.
Anos depois, já na Record TV, Celso consolidou sua imagem como um dos grandes âncoras do país. À frente do Jornal da Record e de programas investigativos, ele se destacou pelo equilíbrio na condução de notícias, pela serenidade em situações de crise e pela relação de confiança que construiu com o público. “Olho para trás e vejo uma história de muita entrega. Foram anos de plantões, madrugadas, viagens e coberturas intensas. Mas o jornalismo me deu tudo: aprendizado, amigos e um propósito de vida”, resume.
Danilo Gentili, que o recebe no The Noite, não esconde a admiração. “O Celso é mais do que um jornalista — ele é uma instituição. Sua voz é parte da memória afetiva de todos nós”, comenta o apresentador, em tom de homenagem.
Os grandes momentos da história sob sua voz
Ao longo de cinco décadas, Celso Freitas testemunhou acontecimentos que definiram a história recente do Brasil e do mundo. Esteve no ar durante coberturas que exigiam equilíbrio e sensibilidade — como o acidente com o Césio 137, o falecimento do presidente Tancredo Neves e a morte trágica de Ayrton Senna, em 1994.
“Foi um dia muito difícil. O Senna era um herói nacional, alguém que representava a superação e o orgulho do brasileiro. Dar aquela notícia foi devastador”, relembra, com emoção. Para ele, a missão do jornalista nesses momentos é ser firme, humano e empático ao mesmo tempo — traduzindo o sentimento coletivo sem perder a clareza dos fatos.
Essas experiências, segundo Celso, moldaram seu estilo e seu compromisso com a verdade. “O jornalismo não é sobre quem chega primeiro, mas sobre quem chega certo. A pressa pode roubar a precisão, e a emoção, quando mal conduzida, pode distorcer a notícia. É preciso equilíbrio”, reflete.
Curiosidade e inovação: o jornalista que olhava para o futuro
Além da voz marcante e da presença inconfundível na tela, Celso Freitas sempre foi movido pela curiosidade. Fascinado por eletrônica desde jovem, ele foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a se interessar pelo impacto da tecnologia no modo de informar.
Nos anos 1990, quando a internet ainda engatinhava, Celso já discutia a convergência entre TV e informática. Foi pioneiro no uso do termo “hipermídia” no Brasil, antecipando um cenário de interatividade e velocidade informativa que hoje é parte da rotina de qualquer redação. “Eu sempre quis entender o que estava por trás das máquinas. Enquanto muitos viam os computadores com receio, eu via com entusiasmo. O futuro da comunicação estava ali, pulsando”, conta.
Essa inquietação o levou a participar de experiências pioneiras em jornalismo digital, acompanhando de perto as transformações que hoje dominam o setor — do streaming à inteligência artificial. Para Celso, o desafio atual é manter a essência da profissão diante da avalanche de dados. “A tecnologia é fantástica, mas ela precisa servir ao jornalismo, e não o contrário. Ética e apuração continuam sendo insubstituíveis”, defende.
Uma pausa necessária e um novo olhar sobre a vida
Após 55 anos de rotina intensa, Celso decidiu se conceder um “ano sabático”. Longe das câmeras, o jornalista busca um ritmo mais tranquilo, voltado à família, à leitura e à observação do mundo fora das redações.
“Eu precisava respirar. Foram muitos anos de adrenalina, de notícias urgentes, de emoções diárias. Agora quero olhar o mundo com calma, refletir e talvez contar histórias de outra forma”, afirma. Apesar da pausa, ele faz questão de destacar que não se considera aposentado. “Jornalista nunca para de ser jornalista. Apenas muda a maneira de exercer o ofício.”
Celso planeja novos projetos ligados à comunicação, possivelmente na internet e em plataformas de conteúdo independente. “Quero experimentar a liberdade criativa, sem o peso da rotina diária. A notícia continua viva em mim, só que agora ela vem acompanhada de silêncio, reflexão e tempo.”
O jornalismo em tempos de velocidade e opinião
Com a autoridade de quem viveu diferentes eras da mídia, Celso Freitas faz uma análise lúcida sobre o cenário atual. Ele acredita que o maior desafio do jornalismo contemporâneo é equilibrar a velocidade das redes sociais com a responsabilidade de informar.
“O mundo mudou, mas a essência da notícia é a mesma: checar, apurar, confirmar. A pressa é o maior inimigo da verdade. E a imparcialidade, que muitos tratam como algo ultrapassado, continua sendo o alicerce da credibilidade. O telespectador — ou o internauta — é quem deve formar sua opinião, não o repórter”, explica.
Para Celso, o bom jornalismo é aquele que resiste às modas e preserva seus fundamentos. “Informar é um ato de respeito. A gente entra na casa das pessoas todos os dias, seja pela TV ou pelo celular. É uma responsabilidade enorme.”




