The Noite com Danilo Gentili desta terça (30/09) recebe o jornalista e roteirista Diogo Mainardi

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O The Noite com Danilo Gentili recebe, nesta terça-feira, 30 de setembro, o escritor, jornalista, comentarista e roteirista Diogo Mainardi, em um dos encontros mais aguardados da temporada. A conversa vai muito além de uma simples entrevista: o programa mergulha na trajetória multifacetada de Mainardi, explorando as experiências pessoais e reflexões que moldam sua obra mais recente, Meus Mortos. Definido pelo autor como uma fotonovela, o livro mistura narrativa visual, história da arte e memórias pessoais, conectando a vida de grandes mestres da pintura com perdas e lembranças profundamente humanas.

Para Diogo, Meus Mortos não é apenas um livro; é um refúgio e um processo de compreensão. “É uma fotonovela. Uso o meio narrativo mais primário da história, anterior às palavras. As imagens me guiam”, explica. Ele conta que, inicialmente, a obra seria diferente. “Em 2013, apresentei a ideia para uma editora e recebi um adiantamento considerável, mas não cheguei a escrever. O projeto perdeu sentido. Era só cumprir um contrato; não havia entusiasmo verdadeiro. Engavetei o livro.”

A pandemia transformou completamente sua visão sobre a obra e a vida. Entre perdas e dor, Mainardi precisou reorganizar-se diante da morte. “Durante a Covid, perdi meu pai, minha mãe e meu irmão em um curto espaço de tempo. Foi um período em que tudo se intensificou de forma abrupta. Antes, eu escrevia sobre colecionadores de arte, grandes compradores de Ticiano. De repente, a narrativa ganhou um sentido muito mais profundo e pessoal”, compartilha.

A experiência trágica se mistura com fatos históricos e artísticos. Na primeira versão do livro, Mainardi conta a história de um indiano que compra um quadro falso e, anos depois, se torna o primeiro fornecedor de vacinas para o Brasil. “Tudo começou a fazer sentido. Precisava digerir não só a perda da minha família, mas também a realidade de um mundo em crise, com milhares de mortes diariamente. O livro tornou-se um tributo aos meus mortos”, afirma.

Apesar da intensidade do tema, Diogo enfatiza que o processo criativo também traz leveza e prazer. “É saudável. Divirto-me escrevendo, porque não sei trabalhar de outra forma. A criação me salva, mesmo nos momentos mais difíceis.”

A influência da mãe, Julia Mainardi, falecida em 2021, é profunda. Publicitária e escritora, ela introduziu Diogo ao universo da arte e da reflexão. “Minha mãe me levava à Europa, aos museus. A arte é uma ferramenta para entender o que não consigo compreender sobre mim e o mundo. Escolhi Ticiano, pintor veneziano do século XVI, que morreu de peste em 1576. A arte oferece prazer estético e, ao mesmo tempo, ajuda a investigar perguntas que parecem sem resposta”, conta.

A relação com Julia é, para Diogo, também literária e intelectual. “Ela foi minha grande interlocutora. Em casa, tinha dois exemplos distintos: meu pai, carismático e exuberante, que atraía atenção; e minha mãe, cerebral, racional, que buscava compreender tudo. Foi ela que me transmitiu amor pelos livros, pela arte, pelas viagens e pela racionalização quase obsessiva do mundo.”

No programa, Diogo revisita ainda sua trajetória na imprensa, incluindo a coluna que assinou na revista VEJA entre 1999 e 2012, sua saída da publicação e o lançamento do livro A Queda, que narra a história de Tito, seu filho mais velho, vítima de paralisia cerebral após erro médico. Ele comenta também sobre a criação de O Antagonista, projeto que considera seu espaço de expressão mais completo.

Quando questionado sobre rótulos políticos, Mainardi é direto. “Sou uma pessoa livre, que não se associa. Este livro é, acima de tudo, um manifesto sobre liberdade artística e intelectual. Para mim, e para quem trabalha nesse campo, isso é o que importa.” Sua postura reforça a defesa da autonomia de pensamento e da independência criativa, pilares de toda a sua obra.

Ao refletir sobre o papel da arte frente à perda e à tragédia, Diogo afirma: “A arte ajuda a compreender o incompreensível. Quando a morte se aproxima e sentimos o caos do mundo, ela dá estrutura e sentido. Ticiano, que viveu em tempos de peste e sofrimento, mostra que mesmo no meio da tragédia é possível criar beleza. Isso me inspira e me fortalece.”

O formato de fotonovela escolhido pelo autor tem um significado profundo. Ele destaca que as imagens não servem apenas para ilustrar, mas condicionam a narrativa e transformam o leitor em participante ativo da história. “As imagens falam onde a palavra não alcança. Por isso escolho essa forma narrativa: ela conecta passado e presente, dor e beleza, memória e imaginação”, explica.

Durante a conversa no The Noite, Mainardi demonstra como Meus Mortos une memória, história da arte e narrativa pessoal. O livro transforma-se em um diálogo íntimo entre o autor e aqueles que já partiram, uma forma de preservar lembranças e compreender a vida através da criação artística. “Escrever sobre meus mortos me permite manter viva a memória, entender o que acontece e aceitar a morte como parte do ciclo da vida”, reflete.

O programa vai além do entretenimento, oferecendo ao público a oportunidade de mergulhar em reflexões sobre luto, memória, liberdade criativa e resiliência. Ele conecta os espectadores com questões universais, mostrando como a dor pessoal pode se transformar em narrativa de grande impacto e beleza.

Diogo Mainardi é apresentado como um contador de histórias que alia experiência jornalística, sensibilidade artística e reflexão pessoal. Ao abordar a morte e a memória, cria um espaço de diálogo que envolve, emociona e provoca o público, abrindo novas perspectivas sobre o papel da arte, da literatura e da liberdade intelectual na sociedade contemporânea.

O encontro é mais do que uma entrevista; é uma verdadeira aula sobre vida, arte e pensamento crítico. Com transmissão ao vivo e disponibilidade em plataformas de streaming, o The Noite amplia seu alcance, permitindo que pessoas de todo o país acompanhem a trajetória de um autor que transforma experiências pessoais em reflexões universais.

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