Vale a pena assistir A Grande Viagem Da Sua Vida? Um filme bonito, mas nem sempre funciona

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O cinema de fantasia romântica nos presenteou em 2025 com A Grande Viagem Da Sua Vida, dirigido por Kogonada e escrito por Seth Reiss. O filme reúne nomes de peso como Margot Robbie, Colin Farrell, Kevin Kline e Phoebe Waller-Bridge, e chegou aos cinemas do Brasil e Portugal em 18 de setembro pela Sony Pictures. Mas, apesar do elenco talentoso e da premissa intrigante, será que a obra realmente vale a pena?

A história é, à primeira vista, curiosa: David (Colin Farrell) tem seu carro guinchado e acaba em uma misteriosa “Companhia de Aluguel de Carros”, recebendo um Saturn SL 1994 com um GPS especial que o leva a uma sequência de viagens que misturam fantasia e introspecção. Ao longo do caminho, ele conhece Sarah (Margot Robbie), uma mulher cética sobre amor e relacionamentos, e juntos embarcam numa jornada que desafia a lógica, explorando memórias e arrependimentos.

A ideia é original, mas a execução nem sempre acompanha a ambição. A narrativa salta de uma fantasia para outra com tanta frequência que, em alguns momentos, o espectador se perde entre portas misteriosas, faróis no Canadá e estufas que remetem à infância de David. O roteiro de Seth Reiss aposta muito na metáfora e na emoção, mas deixa lacunas que podem irritar quem prefere uma história mais coesa e linear.

Atuação que salva a experiência

O ponto forte do filme é, sem dúvida, o elenco. Colin Farrell dá vida a David com vulnerabilidade e charme, equilibrando nostalgia e arrependimento. Margot Robbie brilha como Sarah, transmitindo ao mesmo tempo força, fragilidade e ceticismo emocional. A química entre os dois funciona como o fio condutor da narrativa, mantendo o público engajado mesmo quando a história se torna confusa.

Kevin Kline e Phoebe Waller-Bridge têm papéis menores, mas importantes para equilibrar o tom do filme. Kline oferece momentos de ternura paternal, enquanto Waller-Bridge adiciona humor sutil em meio à intensidade dramática. Sem essas atuações, o filme correria ainda mais risco de se perder em sua própria ambição.

Fantasia ou exagero?

O GPS mágico do carro é a principal ferramenta narrativa e, ao mesmo tempo, seu maior desafio. Ele conduz os protagonistas por locais surreais e emocionalmente carregados, desde portas misteriosas em florestas até reencontros com o passado. A ideia de usar um objeto cotidiano como catalisador para reflexões profundas é interessante, mas o filme exagera na quantidade de eventos fantasiosos, tornando-se, por vezes, cansativo.

A beleza visual é indiscutível: a fotografia, os cenários e o design de produção criam uma experiência estética de primeira linha. Mas quando a fantasia se sobrepõe à narrativa, perde-se o equilíbrio entre emoção e coerência, deixando o público mais confuso do que inspirado.

Romance com nuances reais

Apesar disso, A Grande Viagem Da Sua Vida acerta ao tratar do amor de forma honesta. David e Sarah não são personagens perfeitos; ambos têm falhas, arrependimentos e medos, o que os torna humanos. A jornada deles questiona expectativas irreais sobre relacionamentos e destaca a importância do perdão e da compreensão — tanto de si mesmo quanto do outro.

No entanto, o filme se torna indulgente com o sentimentalismo. Muitas cenas parecem calculadas para emocionar, e a combinação de flashbacks, viagens surreais e confrontos emocionais pode cansar. É um romance bonito, mas que exige paciência e disposição do público para aceitar o que, em outras mãos, poderia parecer excessivo ou desconexo.

Ousadia que nem sempre compensa

O maior mérito de Kogonada é a ousadia. Ele tenta algo diferente, combinando fantasia, romance e introspecção de forma quase poética. Mas essa ambição também é sua maior fraqueza. A história às vezes se perde em simbolismos e sequência de eventos sem muita lógica interna, e alguns momentos de emoção intensa não têm o mesmo impacto porque a narrativa exige demais do espectador.

O filme, em muitos momentos, se parece com uma série de vinhetas ligadas por um carro e um GPS, em vez de um arco coeso. Isso não significa que não haja momentos de brilho — existem, e são intensos — mas eles estão espalhados em um mar de experimentações que nem todos apreciarão.

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