GOAT, dirigido por Justin Tipping, não é apenas mais um filme sobre esportes: é um mergulho profundo nas contradições do universo que transforma jovens atletas em ídolos e, muitas vezes, os destrói. Com uma narrativa que mistura drama psicológico e crítica social, o longa explora o preço da excelência, o culto à performance e os dilemas de identidade que assolam o atleta moderno.

O filme acompanha Cameron Cade (Tyriq Withers), um quarterback talentoso prestes a viver o momento mais importante de sua carreira: o recrutamento da NFL. Sua vida perfeita muda de forma abrupta após um acidente provocado por um fã obcecado, ameaçando não apenas seu futuro profissional, mas sua própria identidade.

Em busca de uma segunda chance, Cade encontra Isaiah White (Marlon Wayans), ídolo nacional e lenda do esporte, e sua esposa Elsie (Julia Fox), influenciadora digital. O que parecia um recomeço se transforma em um labirinto de manipulação psicológica, humilhação e pressão extrema. O mentor idolatrado se revela controlador e tóxico, expondo o lado sombrio do universo esportivo.

Idolatria e simbologia: o preço de ser o “maior de todos os tempos”

O título GOAT — acrônimo de Greatest of All Time — é uma provocação. O filme desconstrói a ideia de glória e poder, mostrando que ser o “maior de todos os tempos” também pode significar solidão, exploração e desumanização. Treinos extenuantes, câmeras lentas e planos claustrofóbicos transformam o corpo em instrumento de sofrimento, enquanto a trilha sonora de Jean Dawson mistura hip-hop, eletrônico e gospel para traduzir tensão física e espiritual.

Sequências simbólicas, como a “Última Ceia esportiva”, reforçam a ideia de que o culto à performance substituiu antigas formas de devoção, tornando o esporte quase uma religião moderna.

Personagens: humanidade e vulnerabilidade

Marlon Wayans surpreende ao interpretar Isaiah White, um mentor que alterna charme e crueldade, criando uma figura inquietante e memorável. Tyriq Withers transmite a fragilidade e força de Cade, mostrando a tensão entre a ambição e a necessidade de autoafirmação. Julia Fox, como Elsie, representa a pressão das aparências e a vigilância constante das redes sociais. Juntos, formam um microcosmo da cultura contemporânea: ídolo, aspirante e espectador, todos em busca de validação.

Crítica social: além do esporte

O longa-metragem levanta questões fundamentais: até que ponto o atleta pertence a si mesmo? Como lidar com o corpo que falha, a mídia que pressiona e a sociedade que idolatra resultados? Drogas, racismo institucional e masculinidade tóxica são tratados sem moralismos, de forma clínica e incômoda. O filme não glorifica o esporte; ele o disseca, expondo o sistema que fabrica e destrói heróis.

Pontos fracos e limites

Apesar da força narrativa, algumas fragilidades se destacam. O relacionamento de Cade com o pai é pouco explorado, o que poderia humanizar ainda mais o protagonista. Algumas resoluções do terceiro ato priorizam o simbolismo sobre a emoção, tornando certos momentos abruptos. Ainda assim, o saldo é positivo: o filme provoca reflexão, desconforto e envolvimento emocional.

Um olhar sobre a era da performance

No fim, GOAT vai além do futebol americano: é sobre o custo de ser excepcional e a pressão de um mundo que valoriza resultados acima da humanidade. Com direção ousada, performances memoráveis e estética impactante, o filme questiona o mito do herói e revela que, por trás de cada “maior de todos os tempos”, existe um ser humano lutando para sobreviver ao peso de seu próprio mito. É um drama que desafia clichês e merece ser assistido com atenção.

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