Quatro anos após escapar do cativeiro aterrorizante d’O Pegador, Finney tenta reconstruir sua vida, mas a sequência O Telefone Preto 2, dirigida por Scott Derrickson, deixa claro que fugir do mal não significa superá-lo. O filme se aprofunda no terror psicológico, misturando sustos clássicos com drama familiar, e oferece uma experiência que vai muito além do entretenimento leve, exigindo do espectador atenção, sensibilidade e nervos de aço.

A história acompanha Finney e sua irmã Gwen, que continua assombrada por pesadelos premonitórios e misteriosas chamadas do telefone preto. A trama os leva a Alpine Lake, um acampamento isolado, onde descobrem conexões perturbadoras entre a violência de The Grabber e segredos da própria família. Derrickson constrói um labirinto narrativo, alternando realidade e sonho, passado e presente, mantendo a tensão constante.

No entanto, essa densidade narrativa pode ser um desafio para alguns espectadores. Os saltos temporais e a interligação de múltiplos elementos exigem atenção máxima. Para quem busca apenas sustos imediatos e lineares, o filme pode parecer confuso ou até cansativo, mas para os fãs de horror psicológico, cada detalhe da construção da trama é recompensador.

Ethan Hawke: presença inquietante, mas com nuances controversas

Ethan Hawke retorna como The Grabber e continua sendo o grande destaque do filme. Sua interpretação combina obsessão, crueldade e uma aura quase sobrenatural, transformando o vilão em uma figura memorável cuja presença domina a tela, mesmo em silêncio.

No entanto, o longa tenta explorar as motivações e o passado de The Grabber, humanizando o antagonista de forma mais explícita do que no primeiro filme. Esse esforço de aprofundamento psicológico é ambicioso, mas, em alguns momentos, dilui o terror puro, criando um equilíbrio instável entre horror e drama psicológico. Ainda assim, a performance de Hawke é intensa e oferece ao público momentos de pura tensão.

Criatividade visual e estética do terror

As sequências oníricas são, sem dúvida, o ponto alto visual do filme. Cada sonho é meticulosamente elaborado, evocando clássicos do gênero como A Hora do Pesadelo, mas com uma linguagem moderna e original. A alternância entre pesadelo e realidade é executada com precisão, deixando o espectador em constante dúvida sobre o que é real.

É nesse aspecto que O Telefone Preto 2 realmente se destaca: a estética é ousada, inventiva e, em muitas cenas, genuinamente aterrorizante. A cinematografia, os efeitos visuais e o design de produção criam um clima de constante inquietação, reforçando a sensação de perigo que paira sobre cada personagem.

Drama familiar: profundidade ou excesso?

Além do terror, o filme investe no drama familiar, explorando a relação entre Finney, Gwen e sua mãe. Essa humanização adiciona camadas emocionais à história, tornando os personagens mais próximos e realistas.

Porém, o foco no trauma e no sofrimento pode pesar em meio ao suspense, especialmente para espectadores que preferem uma experiência de terror mais direta. Sustos e tensão se entrelaçam com sofrimento e relações familiares complexas, exigindo que o público equilibre medo e empatia. Para quem aceita essa mistura, a experiência é enriquecedora; para outros, pode gerar sensação de ritmo lento ou sobrecarga emocional.

Vale a pena assistir?

Se a expectativa é apenas por sustos rápidos e diversão passageira, O Telefone Preto 2 pode decepcionar. Mas para aqueles que apreciam terror psicológico, antagonistas complexos e uma narrativa densa e intricada, o filme oferece uma experiência intensa e memorável. Ele não apenas expande o universo do primeiro longa, mas aprofunda os traumas, explora a psicologia dos personagens e mantém uma sensação constante de perigo que acompanha cada aparição de The Grabber.

Em resumo, O Telefone Preto 2 desafia o espectador: é sombrio, perturbador e emocionalmente carregado. Não é um filme de terror fácil, mas quem aceitar essa complexidade encontrará uma sequência que impressiona pelo suspense psicológico, criatividade visual e intensidade dramática. É uma obra que permanece na memória — e nos pesadelos — muito depois dos créditos finais.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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