
O que é que faz a vida valer a pena quando tudo ao redor parece ruir? É essa a pergunta que paira como névoa sobre as páginas de Vidas Efêmeras: Parte I, romance de estreia do escritor Luiz Gustavo Oliveira da Cunha, que chega ao cenário literário com uma proposta ousada: cruzar o épico e o íntimo, a brutalidade da guerra e a delicadeza da memória.
Ambientado em Proélia — um país fictício devastado por pragas, guerras e segredos enterrados — o livro acompanha a trajetória de Elena, uma comandante mercenária que herda a liderança da Irmandade dos Corvos após a morte do pai. Mas o que começa como uma missão pragmática para conter o avanço da chamada “praga vermelha” logo se transforma em um mergulho existencial nos limites da alma humana.
“Não é só uma história de vingança”, diz o autor Luiz Gustavo em entrevista. “É também sobre entender o que fazer com o que herdamos — da nossa família, do nosso povo, da nossa dor.”
Um mundo corroído pela doença… e pelas memórias
A tal praga, longe de ser apenas um elemento típico da fantasia medieval, ganha contornos quase filosóficos: transforma suas vítimas em criaturas desfiguradas, sedentas de sangue, mas sobretudo, despidas de memória — uma metáfora clara sobre o apagamento histórico e espiritual. O que está em jogo, afinal, não é apenas a vida dos corpos, mas a continuidade de um povo e suas crenças.
Nesse cenário apocalíptico, Elena se vê diante de um dilema que ecoa os clássicos dilemas morais de Dostoiévski: matar o Duque Consumido de Aveiro — homem que supostamente matou seu pai — resolverá o passado, ou a devorará por dentro? É a partir dessa tensão que o enredo se expande: a vingança é motor, mas o que move a obra é a busca por sentido.
Ecos de Lovecraft e Dostoiévski num épico visceral
Luiz Gustavo não esconde suas influências: há ecos evidentes do horror cósmico de Lovecraft — com seres antigos, mistérios celestes e terrores indizíveis — mas também uma estrutura narrativa mais densa, repleta de introspecção, dilemas morais e devaneios metafísicos à Dostoiévski. Essa fusão dá ao livro um ritmo incomum: ao invés da fantasia baseada em combates e glória, o que vemos são dúvidas, silêncios, confrontos internos.
💥 OFERTA IMPERDÍVEL NA SOLDIERS! 💥
🏋️♂️ Creatina por apenas R$36,00
⚡ Pré-treino por apenas R$43,00
Use o cupom 'EUESDRAS' e garanta o seu! 🛒💪
Elena não é uma heroína tradicional. Ela é fraturada, violenta, reflexiva e muitas vezes perdida dentro de si. A cada avanço físico no território corrompido pela praga, há um retrocesso mental, uma volta à infância, às crenças do pai, às profecias do misterioso “profeta sem-nome” que fundou a estaca sagrada de Proélia.
Um tratado poético sobre a efemeridade
Apesar de suas criaturas sombrias, assassinatos e conspirações palacianas, Vidas Efêmeras é, no fundo, uma meditação sobre o tempo. “Temos pouco tempo”, diz uma das personagens enigmáticas do livro, “mas ainda assim, desejamos eternidade.”
A prosa de Luiz Gustavo acompanha esse espírito. Em meio a sequências de ação, surgem parágrafos quase líricos, repletos de imagens poéticas, onde a narrativa se desdobra em lembranças, visões e sonhos. A ancestralidade — tanto mística quanto biográfica — é o fio que costura tudo. O leitor se vê confrontado com um universo onde a fé é tanto uma arma quanto um consolo, e onde cada escolha reverbera através das gerações.
Do papel para as rodas de leitores
Desde seu lançamento independente, Vidas Efêmeras: Parte I vem chamando atenção em clubes de leitura, fóruns de fantasia sombria e redes sociais. Parte do sucesso vem justamente dessa complexidade rara em obras do gênero: o livro não entrega respostas fáceis. Ele convida o leitor a habitar um mundo quebrado — e, como Elena, tentar compreendê-lo aos pedaços.
A Parte II já está sendo escrita, e promete expandir o universo de Proélia, explorar novas camadas de mitologia e mergulhar ainda mais fundo na alma de seus personagens. Mas, por ora, o que fica é a lembrança de um mundo onde tudo é efêmero — exceto o impacto que certas histórias deixam.