
O Brasil voltou a ocupar um lugar de destaque no cenário do cinema mundial. Na última quarta-feira (5), o ator Wagner Moura (Tropa de Elite, Narcos e Guerra Civil) foi consagrado com o prêmio de Melhor Performance por sua atuação em O Agente Secreto, durante o Newport Beach Film Festival, realizado anualmente na Califórnia. As informações são do Omelete.
Entre produções de Hollywood e nomes consagrados da indústria, ver um ator brasileiro subir ao pódio em um festival americano é motivo de orgulho. Wagner foi homenageado na categoria de Honrarias do Festival, e sua premiação simboliza o alcance global de um cinema que fala sobre o Brasil — mas emociona o mundo inteiro.

O filme que conquistou Cannes e agora a Califórnia
O longa-metragem vem acumulando conquistas desde sua estreia mundial no Festival de Cannes 2025, onde foi ovacionado por mais de 10 minutos e saiu com quatro prêmios — incluindo Melhor Ator (Wagner Moura) e Melhor Diretor (Kleber Mendonça Filho). A produção também levou o Prêmio FIPRESCI, concedido pela crítica internacional, e o Prix des Cinémas d’Art et Essai, da Associação Francesa de Cinemas de Arte (AFCAE).
Agora, o longa repete o sucesso nos Estados Unidos, reforçando o nome de Kleber Mendonça Filho como um dos diretores mais respeitados da atualidade. Produzido pela CinemaScópio, o filme teve estreia nos cinemas brasileiros em 6 de novembro de 2025 e foi escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar 2026 — a terceira vez que uma obra do diretor representa o país.
Um thriller político com alma brasileira
Ambientado no Recife de 1977, o filme mistura drama, suspense e crítica política para contar a história de Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário e especialista em tecnologia que retorna à cidade natal após anos afastado. Carregando um passado misterioso e perigoso, ele tenta se reconectar com o filho pequeno e reconstruir a vida, mas encontra um país em plena ditadura militar, marcado pela repressão, pela vigilância e pelo medo.
Marcelo passa a viver como fugitivo, tentando escapar de um conflito antigo com um poderoso industrial ligado ao regime. Em sua fuga, encontra abrigo com dissidentes políticos e refugiados angolanos, liderados por Dona Sebastiana, uma mulher que simboliza resistência e coragem.
Um elenco de peso e uma produção meticulosa
Além de Wagner Moura, o elenco de O Agente Secreto reúne nomes que reforçam a força dramática e simbólica da obra. Tânia Maria (Bacurau), Maria Fernanda Cândido (Através da Janela), Gabriel Leone (Ferrari), Alice Carvalho (Cangaço Novo), Udo Kier (Melancholia) e Thomás Aquino (Bacurau) compõem um conjunto de atuações que traduzem o mosaico político, emocional e humano que o roteiro desenha com precisão.
A fotografia é assinada por Dion Beebe (Memórias de uma Gueixa), vencedor do Oscar, que transforma a luz do Recife em mais do que um pano de fundo — ela se torna uma linguagem. A luz quente e vibrante do dia contrasta com o frio das sombras noturnas, revelando o clima de constante ameaça que paira sobre os personagens.
De Pernambuco para o mundo
Com cada nova exibição, O Agente Secreto reafirma a força do cinema brasileiro como instrumento de resistência, memória e expressão artística. A conquista de Wagner Moura na Califórnia representa mais do que um prêmio individual — é o reconhecimento de um cinema que encara suas próprias feridas e as transforma em arte, emoção e reflexão. E talvez seja justamente essa coragem de olhar para dentro que faz o filme tocar o público onde quer que esteja. O filme segue em cartaz nas principais redes de cinema de todo o Brasil.
Quem é Wagner Moura?
Nascido em Rodelas, uma pequena cidade do sertão da Bahia, o ator cresceu longe dos holofotes — mas com uma inquietude que o empurrava para o palco desde cedo. Em Salvador, quando começou no teatro, já chamava atenção pelo olhar curioso, quase investigativo, com que observava o comportamento humano. Nada nele parecia superficial. Wagner se interessava pelo que há de mais real nas pessoas: as contradições, os medos, as dores e as pequenas grandezas do cotidiano.
Não demorou para o cinema brasileiro perceber que ali havia algo diferente. Seu nome começou a ganhar força com Carandiru (2003), mas foi com Tropa de Elite (2007) que o país inteiro entendeu quem era Wagner. O Capitão Nascimento virou ícone — um personagem que dividiu opiniões, despertou discussões sobre ética, violência e poder, e colocou o ator no centro de um dos maiores fenômenos culturais do Brasil. Sua atuação era crua, intensa, quase física. A cada cena, parecia que ele estava disposto a ir até o limite — e talvez por isso o público tenha se identificado tanto.
Com Tropa de Elite 2 (2010), reafirmou seu talento e se consolidou como um dos grandes nomes do cinema nacional. Mas parar ali seria pouco para alguém movido por curiosidade. A carreira de Moura tomou rumos ousados, atravessando fronteiras. Ele mergulhou em produções autorais, encarou o desafio de Hollywood e mostrou que talento brasileiro não conhece limites. Em Elysium (2013), contracenou com Matt Damon como um vilão cheio de nuances — prova de que sua intensidade não se perde nem quando o idioma muda.
E então veio Narcos (2015–2017), a série da Netflix que mudaria o rumo da carreira de Wagner Moura — e, de certa forma, também a forma como o mundo o enxergava. Para viver Pablo Escobar, ele fez o improvável: aprendeu espanhol do zero em poucos meses, mudou-se para a Colômbia e se jogou de cabeça na pele de um dos homens mais temidos e fascinantes da história. O desafio era imenso, mas o ator não é do tipo que recua diante do impossível. Sua entrega foi tamanha que o público mal conseguia separar o ator do personagem. O resultado foi uma performance intensa, quase hipnótica, que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro e o colocou definitivamente no mapa do cinema mundial.





