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Crítica | Faça Ela Voltar é um terror devastador sobre luto, obsessão e amor doentio

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Foto: Reprodução/ Internet

Quando descobri que Traga Ela de Volta era dirigido pelos irmãos Philippou — os mesmos responsáveis pelo impactante Fale Comigo (Talk to Me) — e vi as críticas extremamente positivas, soube imediatamente que precisava assistir ao filme assim que fosse lançado. E posso afirmar com segurança: foi uma das decisões mais certeiras que já tomei como fã de terror.

Sou apaixonado pelo gênero há anos, embora reconheça suas inconsistências. É comum ver produções que se apoiam em sustos fáceis e clichês visuais, esvaziando a verdadeira essência do horror. Justamente por isso, encontrar uma obra realmente bem executada é raro — e, quando acontece, é simplesmente eletrizante. Traga Ela de Volta é um exemplo excepcional: assustador, impactante, emocionalmente denso e perverso. Vai além do que se espera de um filme de terror. É tenso, visceral e, acima de tudo, real — dolorosamente real.

Ao final da sessão, uma certeza se impôs: os irmãos Philippou não apenas evitaram a temida “maldição do segundo filme”, como superaram todas as expectativas com uma obra mais ousada, brutal e emocionalmente devastadora. Se Fale Comigo já havia sido uma estreia marcante, o filme é um salto criativo em todos os sentidos. É mais ambicioso, mais maduro e infinitamente mais angustiante — não só pelo que acontece em tela, mas pelo que exige emocionalmente de quem assiste. E o mais surpreendente: essa brutalidade nunca soa gratuita. Cada momento de dor e violência nasce de um lugar profundamente humano, de um amor distorcido pela perda, de uma dor tão sufocante que se torna monstruosa.

Terror com propósito: trauma, luto e consequências

O filme não se esquiva de temas delicados — como abuso infantil, capacitismo e negligência social — e os aborda com uma honestidade desconcertante. Alguns momentos são genuinamente difíceis de assistir, mas é exatamente essa coragem que confere força e autenticidade à narrativa. O diferencial do terror americano está na maneira como representa o trauma: não apenas como uma lembrança do passado, mas como algo ativo, presente, corrosivo.

A trama é, em essência, sobre luto. Sobre o desejo desesperado de consertar o que não pode mais ser consertado. Sobre como esse desejo pode se transformar em obsessão, e essa obsessão, em algo monstruoso. O filme mergulha na dor de quem perdeu e de quem não consegue seguir em frente. Esse luto não é romântico, nem redentor: é destrutivo. Ele seca tudo ao redor, até restar apenas um eco vazio — e é exatamente aí que mora o verdadeiro terror.

Sally Hawkins: entrega visceral e memorável

Sally Hawkins está simplesmente brilhante. Sua atuação como a mãe adotiva é uma das mais potentes de sua carreira. Ela mistura fragilidade e ameaça com uma naturalidade desconcertante. Em certos momentos, sentimos pena de sua personagem, comovidos pela dor que carrega. Em outros, ficamos horrorizados com as medidas extremas que toma para realizar seu desejo. É um desempenho visceral, que comprova a amplitude de uma atriz capaz de transitar do charme leve de Paddington para as profundezas sombrias do desespero absoluto.

Um amadurecimento dos irmãos Philippou

É nítido o quanto os irmãos Philippou cresceram como cineastas. Há mais controle de cena, mais segurança na direção e uma clareza artística admirável. O filme não se perde em firulas visuais, nem em reviravoltas baratas: é direto, duro e consciente de sua proposta. Traga Ela de Volta não é perfeito — há quem possa considerá-lo excessivo ou difícil de digerir — mas isso jamais compromete sua potência. É um terror que entra na pele, não apenas pelo que mostra, mas pelo que sugere, pelo que deixa implícito, e principalmente pelo que compreende sobre a natureza humana.

Porque, no fim, este não é apenas um filme de terror. É um estudo sobre o luto, sobre a culpa, sobre o amor distorcido pelo sofrimento e até onde uma pessoa é capaz de ir quando não encontra mais saídas para a dor.

Obrigatório e inesquecível

Se você gostou de Fale Comigo, ou se simplesmente é apaixonado pelo gênero de terror em sua forma mais crua e emocional, o longa-metragem é obrigatório. É o tipo de filme que te prende, te desmonta e te deixa pensando muito tempo depois que os créditos sobem. Eu senti medo. Eu chorei. Eu fiquei em choque.

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Avaliação geral
Nota do crítico
Apaixonado por cinema, sempre pronto para debater desde os clássicos até as produções mais questionáveis. Para cada história, uma nova viagem!
critica-traga-ela-de-volta-e-um-terror-devastador-sobre-luto-obsessao-e-amor-doentioTraga Ela de Volta confirma o talento dos irmãos Philippou como uma das forças mais originais do terror contemporâneo. Mais maduro e brutal que Fale Comigo, o novo filme mergulha profundamente em temas como luto, obsessão e trauma com uma abordagem corajosa e emocionalmente devastadora. Com direção precisa, narrativa densa e uma atuação visceral de Sally Hawkins, o longa assusta tanto pelo que mostra quanto pelo que sugere. Um terror perturbador, honesto e inesquecível, que desafia as convenções do gênero e permanece com o espectador muito além da última cena.

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