Minha Vida com a Família Walter está de volta — e promete abalar corações na 2ª temporada

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A Netflix acaba de atiçar nossos sentimentos adolescentes com o primeiro teaser da 2ª temporada de Minha Vida com a Família Walter, que estreia no catálogo no dia 28 de agosto. Se você riu, chorou e se apegou aos Walter na temporada passada, prepare-se: vem aí mais intensidade, mais dilemas e aquela avalanche de emoções que só uma casa cheia de irmãos (do coração ou não) pode proporcionar.

Relembrando a história: do caos à reconstrução

Jackie Howard (interpretada pela carismática Nikki RodriguezOn My Block, My Life with the Walter Boys) teve sua vida virada do avesso. De adolescente sofisticada em Manhattan, viu-se órfã de uma hora pra outra e foi enviada para viver no interior do Colorado — com um tutor que ela mal conhecia e oito garotos completamente diferentes dela.

Mas foi entre o caos da nova rotina e a confusão emocional do luto que Jackie começou a encontrar algo que nem sabia que estava procurando: um tipo de família completamente inesperado, cheia de barulho, tropeços e amor em construção.

O que esperar da nova temporada?

Se a primeira temporada tratou da dor da perda e da adaptação forçada, os novos episódios parecem mergulhar nos dilemas do coração, amadurecimento e pertencimento real. Afinal, agora Jackie já não é mais apenas a menina nova da casa: ela criou laços, viveu atritos, e talvez… esteja começando a se sentir em casa?

O teaser dá pistas de reencontros intensos, decisões difíceis e uma Jackie mais segura — mas ainda em busca de quem realmente é. O clima é de transição: dos lutos silenciosos para os gritos (e beijos) adolescentes.

Um elenco jovem que amadureceu com seus personagens

Além de Nikki Rodriguez, o elenco da nova temporada conta com Sarah Rafferty (Suits, Grey’s Anatomy), Marc Blucas (Buffy, a Caça-Vampiros), Noah LaLonde (Criminal Minds), Ashby Gentry (Wild Indian), Connor Stanhope (Smallville), Johnny Link (Dear Evan Hansen), Corey Fogelmanis (Girl Meets World, Ma), Jaylan Evans (The Resident), Zoë Soul (The Purge: Anarchy), Isaac Arellanes (Ghostwriter), Myles Perez (One Day at a Time) e Alex Quijano (Station 19, The Good Doctor). Um time afiado, que equilibra emoção, carisma e presença de tela — dando ainda mais vida a esse universo caótico e cheio de afeto.

Família a gente encontra nos lugares mais improváveis

Minha Vida com a Família Walter é daquelas séries que a gente começa achando que vai ser só mais um drama teen, mas acaba sendo surpreendido por afetos sinceros, personagens com alma e reflexões que ficam ecoando mesmo depois dos créditos.

E por mais que oito garotos barulhentos sejam um pesadelo para alguns, para Jackie (e para quem assiste), eles se tornaram algo precioso: uma nova chance de amar — e ser amada.

📅 Anota aí: a 2ª temporada estreia 28 de agosto na Netflix. Até lá, vale maratonar a primeira e preparar o coração para o reencontro com os Walter.

A Graça de Sorrentino chega a Veneza com estreia mundial — e distribuição global pela MUBI

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A elegância cinematográfica de Paolo Sorrentino está de volta às telonas — e ao coração da crítica internacional. Seu mais novo trabalho, La Grazia, foi anunciado como filme de abertura da Competição Oficial do prestigiado 82º Festival Internacional de Cinema de Veneza, um feito que já o coloca sob os holofotes antes mesmo do primeiro aplauso.

Mas as boas novas não param por aí: a MUBI, que tem se consolidado como mais do que um serviço de streaming — atuando também como distribuidora e produtora — adquiriu os direitos globais de distribuição (exceto na Itália), reforçando seu compromisso em levar cinema de autor ao público mundial. A plataforma ficou responsável pelos territórios da América Latina, América do Norte, Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Áustria, Benelux, Espanha, Turquia, Índia, Austrália e Nova Zelândia. Já os direitos da Itália permanecem com a PiperFilm, enquanto a The Match Factory cuidará da venda para os demais mercados.

La Grazia — título que, como já se especula, pode dialogar tanto com o sagrado quanto com o profano — marca mais uma colaboração entre Sorrentino e o ator Toni Servillo, dupla responsável por obras aclamadas como A Grande Beleza (vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) e A Mão de Deus. A atriz Anna Ferzetti também integra o elenco principal, prometendo ampliar as camadas sensoriais e emocionais que Sorrentino tão bem sabe explorar.

O longa foi escrito e dirigido pelo próprio Sorrentino e nasce de uma co-produção entre The Apartment Pictures (empresa da Fremantle), Numero 10 e a já citada PiperFilm. A Fremantle, aliás, assina a produção como um todo, dando um selo de sofisticação e consistência internacional ao projeto.

Pouco foi revelado sobre o enredo — como é de costume nos projetos do cineasta napolitano — mas, se o título serve de pista, podemos esperar um mergulho existencial sobre a beleza (ou talvez a angústia) da redenção, da fé ou da própria arte. Com Sorrentino, sabemos: a estética é sempre um caminho para algo mais profundo.

A escolha de Veneza como palco de estreia mundial é simbólica. Além da tradicional relação entre o festival e os grandes nomes do cinema europeu, a cidade flutuante oferece a moldura ideal para o estilo visual barroco.

O Deserto de Akin estreia em 31 de julho e ganha cartaz oficial, imagens inéditas e nova versão do trailer

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Com estreia marcada para 31 de julho, o novo filme de Bernard Lessa mistura política, afeto e pertencimento ao contar a jornada de um médico cubano deslocado no Brasil. O longa teve sua estreia na abertura do Festival de Vitória e já deixou claro: é um daqueles filmes que ficam ecoando depois dos créditos finais.

Por trás de cada deserto existe uma travessia — geográfica, emocional ou política. Em O Deserto de Akin, o que se atravessa é o Brasil, mas também os afetos, os silêncios e as fronteiras entre quem chega e quem já está à deriva. Com direção do capixaba Bernard Lessa, o filme chega aos cinemas em 31 de julho, depois de uma estreia de prestígio na abertura do 32º Festival de Vitória, onde concorre na categoria de Melhor Longa Nacional.

A história acompanha Akin, médico cubano vivido pelo premiado Reynier Morales (vencedor de Melhor Ator no Festival do Rio 2024), que desembarca em uma comunidade indígena no Espírito Santo como parte do (agora extinto) programa Mais Médicos. Mas o filme não se limita à função profissional. Akin é um estrangeiro num país à beira do colapso político e afetivo — e o que ele encontra aqui não são só pacientes, mas um espelho: do próprio deslocamento, da solidão e do desejo de se enraizar.O Deserto de Akin

Um filme sobre acolhimento — e suas rachaduras

Durante sua permanência, Akin é acolhido por Érica (Ana Flavia Cavalcanti) e Sérgio (Guga Patriota), dois brasileiros que também carregam suas próprias lacunas, memórias partidas e zonas de silêncio. Não é romance, necessariamente. É algo mais tênue, mais humano. Talvez amizade, talvez afeto suspenso, talvez uma tentativa de pertencimento compartilhado entre quem já não sabe onde — ou com quem — está.

O filme, no fundo, é sobre isso: sobre encontros possíveis em tempos difíceis. E sobre como, às vezes, o gesto de permanecer é um ato de resistência. Entre consultas médicas, caminhadas na mata e conversas atravessadas pelo idioma e pela hesitação, O Deserto de Akin constrói um retrato silencioso e delicado de uma experiência real vivida por centenas de profissionais estrangeiros que atuaram no Brasil — e que, com a mudança de governo em 2018, viram seus contratos encerrados de forma abrupta, em um cenário que flertava com xenofobia institucional.

Do Espírito Santo para o mundo: paisagens, corpos e política

Rodado entre Nova Almeida, Aracruz, Vitória e Vila Velha, o filme valoriza os cenários capixabas com uma fotografia que mistura rusticidade e lirismo. Mas, acima de tudo, valoriza os rostos. Os corpos em trânsito. As vozes contidas. A atuação de Morales impressiona justamente pela contenção — ele diz muito com o olhar, com a hesitação no português, com o desconforto de quem precisa se adaptar sem ser convidado.

Ana Flavia Cavalcanti entrega mais uma performance potente e ao mesmo tempo terna. Érica é uma mulher com dores acumuladas, mas que oferece espaço. E esse gesto, no filme, tem um peso enorme: acolher alguém, mesmo com medo, é também se permitir ser transformado.

No elenco ainda estão Welket Bungué (A Viagem de Pedro) e Patricia Galleto, ampliando a dimensão humana da narrativa com presenças igualmente marcantes.

A estética de um cinema que observa mais do que grita

Bernard Lessa já vinha se destacando por filmes como A Mulher e o Rio (2019) e A Matéria Noturna (2021), premiado no Festival de Brasília. Mas em O Deserto de Akin, ele talvez tenha encontrado seu filme mais maduro. Há uma calma no olhar — mas uma calma inquieta, que observa as rachaduras das instituições, a falência das promessas políticas, e a força dos pequenos gestos de cuidado.

3ª temporada de Alice in Borderland estreia em setembro e promete mergulho mais sombrio na alma dos sobreviventes

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Depois de tudo o que viveram — mortes, perdas, jogos cruéis, dor e superação —, parecia que Arisu e Usagi finalmente tinham alcançado aquilo que qualquer sobrevivente deseja: um pouco de paz. Mas se Alice in Borderland nos ensinou algo ao longo de suas duas temporadas, é que a tranquilidade sempre vem com prazo de validade.

A Netflix acaba de anunciar a estreia da 3ª temporada da série japonesa para o dia 25 de setembro, e trouxe também uma prévia que deixou os fãs em alerta: Usagi desapareceu. E o passado que eles acreditavam ter deixado para trás pode não ter acabado.

Amor, trauma e uma nova travessia

Diferente das temporadas anteriores, a nova fase de Alice in Borderland começa com Arisu e Usagi vivendo juntos, agora como casal. Eles construíram uma vida, mas ainda carregam consigo os traumas do que enfrentaram na Terra da Fronteira — aquele universo entre o sonho e o pesadelo, onde a sobrevivência dependia de lógica, coragem e, muitas vezes, sacrifícios impossíveis.

Mas tudo muda quando Usagi desaparece, supostamente guiada por Ryuji (Kento Kaku), um enigmático estudioso da vida após a morte. Abalado, Arisu se vê forçado a voltar ao lugar que quase o destruiu. E é justamente lá que ele reencontra Banda, um rosto conhecido — e perigoso — que traz revelações sobre o paradeiro de Usagi. Para salvá-la, Arisu terá que se reconectar com uma parte dele que tentou enterrar: o jogador, o estrategista, o sobrevivente.

A Terra da Fronteira muda, mas continua viva

Os jogos podem ter acabado, mas a Terra da Fronteira continua existindo. E talvez ela nunca tenha sido apenas um lugar — mas um estado de alma. A nova temporada promete mergulhar em questões mais densas: o que significa realmente voltar à vida depois de um trauma? O que acontece quando sobrevivemos ao impossível, mas seguimos presos ao que perdemos?

Mais do que novas provas físicas, a temporada deve explorar o jogo interno — aquele que se trava dentro dos personagens. A série, que sempre flertou com elementos psicológicos e existenciais, agora parece disposta a encarar de frente o que ficou mal resolvido. E, se conhecemos bem esse universo, sabemos que nada volta igual.

Um fenômeno global com alma japonesa

Lançada em 2020 e baseada no mangá de Haro Aso, Alice in Borderland começou como uma surpresa e se consolidou como um fenômeno de alcance mundial. Misturando ficção científica, ação, filosofia e emoção crua, a série conquistou não apenas pelo espetáculo visual, mas pela profundidade de seus personagens.

No centro da história, Arisu e Usagi formaram um elo raro: duas pessoas marcadas pela dor que encontraram uma espécie de redenção mútua. Agora, com o novo arco dramático, o público poderá vê-los enfrentando uma travessia ainda mais íntima — onde não há cartas na mesa, apenas o coração exposto.

Dica no MUBI: A Substância – Um corpo, duas versões e o preço da perfeição

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Já parou pra pensar no que faria se pudesse criar uma nova versão de si mesmo? Uma cópia fiel, só que mais jovem, mais bonita, mais “aprimorada”? Em A Substância, essa fantasia vira realidade — mas o preço, como sempre, é mais alto do que parece.

Dirigido e roteirizado pela francesa Coralie Fargeat (Revenge), o filme é uma bomba estética e emocional, com uma performance corajosa de Demi Moore, que entrega aqui um dos papéis mais impactantes (e autoficcionais) da carreira. Ela vive Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela do mundo fitness que, depois de décadas sendo símbolo de juventude e disciplina, é descartada pela TV como quem joga fora um pote de creme vencido.

Humilhada, esquecida e à beira de um colapso, Elisabeth aceita experimentar uma droga experimental — uma substância misteriosa que promete “regenerar” sua juventude. Mas essa não é uma fórmula mágica de rejuvenescimento. É outra coisa. A substância cria outra você. Literalmente.

É aí que entra Margaret Qualley, vivendo a nova Elisabeth — mais nova, mais confiante, mais livre. Por contrato, as duas precisam dividir o mesmo corpo em turnos semanais: sete dias para a original, sete dias para a nova. Simples na teoria. Mas no fundo, quem vai querer abrir mão da própria existência assim, tão facilmente?

Um thriller de identidade com sangue, brilho e crítica social

A Substância é grotesco, estiloso, dolorido e brilhante — tudo ao mesmo tempo. Um terror corporal que conversa com filmes como A Mosca ou Cisne Negro, mas com uma linguagem muito própria. É uma fábula feminista sobre envelhecer sob os holofotes, ser descartada pelo sistema, e sobre o desejo desesperado de continuar sendo vista.

Entre cenas que beiram o absurdo e outras que apertam o peito, o longa constrói uma metáfora visceral sobre fama, vaidade, autoimagem e o terror de ser esquecida. E o mais interessante é que nada disso é pregado com discurso — tudo vem pelo corpo, pela imagem, pelo desconforto que a câmera imprime.

Demi Moore se entrega de corpo e alma. Literalmente. Ao lado de Margaret Qualley (em mais uma atuação física e vibrante), as duas constroem um embate tenso, emocional e até melancólico entre a mulher que tenta manter sua identidade e a outra que só quer existir — custe o que custar.

E no meio disso tudo, o espectador assiste à guerra silenciosa (e às vezes sangrenta) entre essas duas versões de uma mesma mulher. Quem vence, afinal? A que já viveu ou a que promete durar para sempre?

🎬 A Substância (The Substance)
Direção e roteiro: Coralie Fargeat
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid
Duração:
Classificação: 18 anos
Disponível agora na MUBI
Também para aluguel no Prime Video

O Silêncio das Ostras: Filme mineiro emociona e denuncia os impactos humanos da mineração

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Foto: Reprodução/ Cred Olhar Filmes

Na tela, a poeira parece não assentar. A lama não seca. As palavras quase não saem — e talvez por isso o silêncio diga tanto. Em O Silêncio das Ostras, primeiro longa de ficção do premiado documentarista Marcos Pimentel, a tragédia de Brumadinho deixa de ser manchete e se transforma em carne, memória e ferida aberta. O filme estreou com aclamação no 26º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro e chega agora aos cinemas de todo o Brasil como uma das obras mais urgentes, sensíveis e necessárias do nosso tempo.

Narrado pelos olhos da pequena Kaylane (vivida com delicadeza por Lavínia Castelari), o filme não traz heróis nem respostas fáceis. Apenas sobreviventes. Gente comum, como tantas que vivem (ou sobrevivem) nas sombras da mineração em Minas Gerais. Kaylane nasceu e cresceu em um vilarejo de operários onde a paisagem é seca, o tempo é pesado e os sonhos… enterrados. À sua volta, o pai, silenciado por anos de trabalho insalubre; a mãe Cleude (Sinara Telles), exausta de carregar nas costas os cacos de uma vida que a mineração não poupou.

Entre perdas sucessivas, Kaylane aprende cedo a conviver com a despedida. Cresce sozinha, cercada por irmãos que seguem o mesmo destino dos pais, e encontra nos insetos e na natureza — o que ainda resta dela — sua forma de entender o mundo. Há um lirismo estranho e profundo nisso tudo. O filme nos convida a ver pelos olhos dela, a sentir por dentro aquilo que a terra parece gritar, mas ninguém escuta.

“O filme nasceu do desejo de revisitar lugares que foram esvaziados. A mineração não extraiu só o minério — arrancou também a alma dessas comunidades”, conta o diretor Marcos Pimentel. A ficção ganha ainda mais força quando entrelaçada a imagens reais dos rompimentos de barragens, como os de Fundão (2015) e Brumadinho (2019), tragédias que mataram centenas, destruíram ecossistemas e deixaram marcas que seguem pulsando — invisíveis para muitos, mas ainda muito vivas para quem ficou.

O Silêncio das Ostras não é um filme sobre o passado. É sobre o presente que insiste em não mudar. É sobre o cotidiano de quem viu a água virar lama, os vizinhos virarem nomes em placas e os sonhos virarem silêncio. “Retratamos uma dor que ainda é real”, reforça Pimentel.

Mais do que denúncia, o longa é um manifesto poético. Uma tentativa de reocupar os vazios — geográficos e afetivos — deixados pelas mineradoras. A trilha é o silêncio, mas a imagem fala. E como fala.

Foto: Reprodução/ Cred Olhar Filmes

A beleza que resiste

A fotografia do filme aposta em tons ocres, quase sem vida, que contrastam com a imaginação fértil de Kaylane. Ali onde tudo parece morto, ela encontra beleza. Onde muitos já não enxergam saída, ela ainda procura caminhos. Há uma doçura trágica nisso. Uma força que emociona.

Com atuações marcantes de Bárbara Colen, Lavínia Castelari, Sinara Telles e um elenco profundamente comprometido com a verdade da história, o filme transforma um cenário devastado em palco de resistência emocional. É sobre crescer no meio do fim do mundo. E, ainda assim, sonhar.

Estreia nacional

Além de Belo Horizonte, O Silêncio das Ostras entra em cartaz esta semana em diversas capitais e cidades brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Curitiba, Brasília, Manaus, Belém, Vitória, Londrina e Sorocaba.

Entre a batina e o amor proibido: O romance A Voz do Tempo revela escândalo envolvendo ex-padre nos anos 40

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Por trás de muitas histórias de família repousam segredos silenciados por décadas. Às vezes, eles estão escondidos em cartas antigas, fotografias desbotadas ou em peças de roupa guardadas em baús. No caso da escritora Lenah Oswaldo Cruz, o segredo estava em uma batina branca com detalhes dourados e em três cadernos manuscritos encontrados entre os pertences do pai. A descoberta, ao mesmo tempo íntima e perturbadora, deu origem ao romance A Voz do Tempo (Leitura Coletiva), que narra o amor proibido entre um padre beneditino e uma jovem da elite carioca, nos anos 1930 e 40.

Misturando memória pessoal, pesquisa histórica e reconstrução ficcional, o livro parte da trajetória real de Dom Xavier, um respeitado professor de filosofia e sacerdote da ordem beneditina que, em determinado momento de sua vida, decide abandonar o sacerdócio ao se apaixonar por Dora, uma jovem de beleza marcante, pertencente a uma família tradicional do Rio de Janeiro. O relacionamento, vivido em segredo até a ruptura definitiva com a Igreja, logo se tornaria público — e escandaloso.

“Quando encontrei os diários, percebi que precisava contar essa história. Não só pela minha família, mas pelo que ela dizia sobre fé, desejo e o peso das escolhas em tempos mais duros”, conta a autora, em entrevista.

Amor, culpa e silêncio: as consequências de uma decisão radical

A união entre Xavier e Dora, selada sob o impulso de um sentimento arrebatador, não trouxe apenas o alívio da libertação. A renúncia de Xavier à vida religiosa foi duramente julgada pela comunidade católica e pela própria família, e o casamento, idealizado como fuga e recomeço, logo revelou rachaduras profundas.

“Eles pagaram um preço alto por terem escolhido o amor. Só que o amor, às vezes, não basta.” Essa é uma das frases recorrentes no romance, que acompanha a evolução da relação do casal ao longo das décadas — da paixão inicial aos conflitos conjugais, das expectativas frustradas à violência doméstica, do sonho romântico à dor cotidiana.

Ao contar a história de seus pais, Lenah não tenta redimi-los. O que ela oferece ao leitor é uma narrativa profundamente humana, em que a coragem de romper com as estruturas tradicionais também abre espaço para o desencanto. Dora, antes musa inspiradora de uma mudança de vida radical, torna-se uma mulher ressentida e melancólica. Xavier, por sua vez, vê-se prisioneiro de uma decisão que o distancia da fé e da vocação, mas não lhe oferece a paz que imaginava encontrar fora da batina.

A memória como reconstrução do que foi (e do que poderia ter sido)

Escrito em primeira pessoa, o romance oscila entre o relato memorialístico e a ficção histórica. Ao longo das páginas, Lenah costura trechos dos diários paternos com lembranças da infância, cenas reconstruídas a partir de relatos familiares e referências ao contexto político e cultural da época. A narrativa atravessa cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Washington e Lisboa, acompanhando os deslocamentos e transformações do casal e de seus descendentes.

Eventos históricos como a Revolução Constitucionalista de 1932, o surgimento de movimentos intelectuais católicos no Brasil e a vida universitária nos anos 50 servem de pano de fundo para a trama. Mas é na dimensão afetiva que o livro encontra sua força. Ao relatar os impactos do casamento conturbado dos pais em sua própria formação emocional, Lenah revela também o esforço de reconstrução — da memória, da identidade e, sobretudo, da escuta.

“Durante anos, essa história foi tratada como tabu na minha família. Escrevê-la foi uma forma de escavar não só o passado, mas o silêncio que ele impôs.”

O poder do romance como lugar de revelação

A Voz do Tempo chega aos leitores não apenas como uma história de amor impossível, mas como um retrato sensível das consequências emocionais de decisões radicais em uma sociedade ainda profundamente marcada pela moral religiosa. Ao dar voz a personagens reais — com todas as suas imperfeições, falhas e contradições —, Lenah Oswaldo Cruz propõe uma reflexão sobre os limites entre vocação e desejo, fé e liberdade, família e ferida.

Amalia Ulman estreia Magic Farm com exclusividade na MUBI: uma sátira alucinada sobre mídia, autenticidade e o olhar colonial contemporâneo

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A partir desta sexta-feira, 11 de julho, a MUBI — plataforma de streaming, distribuidora e produtora reconhecida por sua curadoria ousada e autoral — disponibiliza com exclusividade o aguardado Magic Farm, novo longa da artista visual e cineasta Amalia Ulman, que explora com humor ácido, estética experimental e um olhar provocativo os bastidores da construção de narrativas na era das mídias performativas.

Mais do que um filme, Magic Farm é uma desconstrução — do olhar branco, da indústria de conteúdo, da fronteira entre ficção e realidade. Inspirado pelo jornalismo “semi-gonzo” popularizado pela Vice News na década de 2010, o filme propõe uma reflexão sobre como o suposto olhar alternativo sobre o “terceiro mundo” muitas vezes perpetua estereótipos sob uma nova roupagem, cool e desencanada.

Satirizando a sede por narrativas exóticas

Na trama, acompanhamos uma equipe de documentaristas outsiders em busca da próxima grande “história estranha” em um país latino-americano não especificado. O grupo, formado por personalidades que flertam com o narcisismo, a ignorância cultural e a falsa empatia, embarca numa jornada que começa como cobertura jornalística e rapidamente se transforma em espetáculo grotesco — uma crítica clara à exploração midiática travestida de engajamento.

O roteiro, escrito pela própria Ulman, é afiado ao expor os mecanismos contemporâneos de criação de conteúdo e de produção de personagens. Magic Farm desmonta o fetiche ocidental por experiências “autênticas” em territórios que são vistos mais como cenário do que como realidade. É um retrato inquietante — e muitas vezes cômico — do privilégio de quem pode entrar, gravar e sair, sem se comprometer com as consequências.

Elenco potente, ironia visual e camadas de desconforto

O filme conta com um elenco de destaque, reunindo Chloë Sevigny (ícone do cinema indie norte-americano), Alex Wolff (Oppenheimer, Um Lugar Silencioso: Dia Um), Simon Rex (Red Rocket), Joe Apollonio, Camila del Campo e a própria Amalia Ulman, que também assume papel central na narrativa. Juntos, eles habitam um universo onde o real e o encenado se misturam em um jogo cínico e escancaradamente desconfortável.

Visualmente, Magic Farm é vibrante, fragmentado e instável — como um feed de rede social em colapso. A montagem brinca com texturas documentais, vídeos de bastidores, cenas encenadas e imagens de arquivo manipuladas. Tudo se costura como num pesadelo digital, onde nada é confiável e tudo pode ser conteúdo.

De “El Planeta” à crítica da indústria cultural

Ulman, que já havia se destacado com El Planeta (2021), filme sobre sobrevivência feminina na Espanha pós-crise, mostra aqui uma maturidade autoral ainda mais afiada. Enquanto El Planeta era introspectivo e delicado, Magic Farm é expansivo, debochado e profundamente incômodo — um ataque direto à estética do “cool consciente”, ao jornalismo superficial e à fome ocidental por histórias que misturem tragédia e pitadas de exotismo.

Para a diretora, a lógica do “Fake it ‘til you make it” (finja até conseguir) é mais do que uma crítica — é uma lente para compreender como subjetividades são criadas e comercializadas hoje, tanto na arte quanto no jornalismo, na política ou nas redes sociais.

Dica na Netflix: Te Espero no Fim da Jornada — Um filme sobre encontros improváveis, feridas abertas e o poder transformador da conexão

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Algumas histórias não precisam de grandes reviravoltas para emocionar. Elas só precisam ser honestas. Te Espero no Fim da Jornada é assim: um filme que fala baixinho, mas que vai fundo. Não grita, não pressiona, não tenta ser o que não é — e talvez por isso mesmo, acabe tocando de um jeito inesperado.

Na trama, conhecemos Tian Yu, um escritor de Hong Kong que já teve seus dias de brilho, mas hoje caminha à beira do próprio abismo. Assombrado por uma acusação de plágio e por lembranças que ainda doem, ele carrega um vazio difícil de explicar. Em meio ao caos interno, decide embarcar numa viagem até Taipei — uma fuga, talvez. Ou um último suspiro antes de desistir de tudo.

É lá que ele conhece Xiang, um jovem que vive à margem, entre becos e riscos, mas que tem no olhar uma certa inquietude bonita de se ver. Xiang não pergunta muito, não invade. Apenas oferece companhia, abrigo e uma promessa: levar Tian Yu até a tal Baía das Baleias, um lugar escondido no mapa, que dizem ser passagem para algo maior — um tipo de paraíso, quem sabe.

O que começa como uma jornada geográfica logo se transforma numa viagem interna. E o que parecia apenas um roteiro improvável entre um escritor melancólico e um quase-gângster, vai revelando um vínculo que não se encaixa em definições fáceis. Há silêncio, mas também afeto. Há mágoa, mas também esperança. E, acima de tudo, há o reconhecimento de que, às vezes, tudo o que a gente precisa é encontrar alguém que nos veja de verdade.

Dirigido por Angel Ihan Teng, o longa taiwanês é puro lirismo. A câmera passeia com calma, permitindo que a relação entre os protagonistas floresça com tempo, com verdade, com espaço para respirar. Nada é forçado — nem o drama, nem a emoção. O filme entende que as grandes mudanças acontecem no detalhe: num toque, num desabafo tímido, num gesto de cuidado que salva sem alarde.

🎬 Ficha Técnica
Título: Te Espero no Fim da Jornada
Direção: Angel Ihan Teng
Elenco: Terrance Lau Chun-him, Fandy Fan, Chan Tzu-hsuan
Duração: 1h43min
Gênero: Drama romântico / Taiwanês
Na Netflix
Classificação indicativa: 16 anos

Dica no Reserva Imovision: Sebastian — Um retrato cru e poético da identidade e desejo

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Alguns filmes chegam de mansinho, mas deixam marcas profundas. Sebastian, dirigido por Mikko Mäkelä, é exatamente assim. Disponível no catálogo do Reserva Imovision, o longa é um mergulho sensível, corajoso e inquietante na vida de um jovem que tenta se entender em meio às próprias contradições.

A história acompanha Max, um escritor de 25 anos que vive em Londres. À primeira vista, ele parece um jovem comum — introspectivo, criativo, em busca de espaço no mundo literário. Mas, quando a noite cai, Max assume uma identidade paralela: ele se torna Sebastian, um trabalhador do sexo que atende homens por aplicativos, motéis e quartos alugados. O que começa como uma forma de sobreviver — e talvez até buscar inspiração — logo se transforma em algo mais complexo. Max começa a se perder na fronteira entre o personagem que criou e quem ele realmente é.

É difícil assistir a Sebastian e sair ileso. Não porque o filme é gráfico ou provocador à força, mas porque ele se entrega com uma honestidade rara. O diretor Mikko Mäkelä opta por uma narrativa íntima, quase confessional, em que tudo é sentido à flor da pele — do toque ao silêncio, da vulnerabilidade à tensão. Nada é gratuito: cada cena parece carregada de um peso emocional que se reconhece mesmo nos gestos mais sutis.

Mais do que falar sobre sexo, o longa fala sobre solidão, pertencimento, performance. Fala sobre o que acontece quando usamos máscaras por tanto tempo que esquecemos como era o rosto por trás delas. Max/Sebastian não é um herói, nem uma vítima — ele é humano. E é justamente isso que torna o filme tão tocante.

Indicado ao British Independent Film Awards e exibido no Sundance Film Festival, Sebastian é um daqueles filmes que não fazem concessões. É um retrato delicado da juventude queer, das rotas de fuga, das tentativas desesperadas de se conectar com o outro (ou consigo mesmo). É sobre a arte como forma de sobrevivência — mas também como armadilha. Sobre amar, desejar, se expor e, no fim, tentar juntar os pedaços da própria identidade.

🎧 Para quem é esse filme?

Pra quem já se sentiu dividido. Pra quem viveu (ou vive) tentando agradar todos, menos a si mesmo. Pra quem carrega dúvidas que não se encaixam em frases prontas. Pra quem entende que crescer, às vezes, significa perder um pouco o chão. E também pra quem acredita que cinema pode ser lugar de cura, de encontro, de verdade.


🎬 Ficha Técnica
Título original: Sebastian
Direção: Mikko Mäkelä
Duração: 110 minutos
Ano de lançamento: 2024
Classificação indicativa: 18 anos
Contém: Conteúdo sexual, uso de drogas ilícitas e cenas de violência

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