Crítica – Pequenas Coisas Como Estas é um drama intenso sobre segredos, moralidade e justiça

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Às vésperas do Natal, Bill, um homem de vida aparentemente comum, faz uma descoberta inquietante em um convento próximo ao seu trabalho. O segredo que vem à tona desperta nele um profundo senso de justiça, forçando-o a enfrentar uma realidade silenciada por anos. Conforme se aprofunda na verdade oculta, Bill se vê diante de dilemas morais que desafiam suas crenças e o levam a uma jornada de coragem e autoconhecimento.

O longa Pequenas Coisas Como Estas se destaca pela forma sensível com que transmite as emoções dos personagens, criando uma atmosfera densa e introspectiva. No entanto, a narrativa apresenta um ritmo desigual. O roteiro, embora bem estruturado, inicia-se de maneira arrastada, exigindo paciência do espectador até que o mistério central ganhe força. A segunda metade do filme intensifica a tensão, mas algumas subtramas acabam subaproveitadas, deixando a sensação de que certos aspectos poderiam ter sido melhor explorados.

O elenco é um dos pontos altos da produção, com Cillian Murphy entregando uma atuação impecável. Seu protagonista exibe com profundidade os dilemas internos de um homem dividido entre a omissão e a necessidade de agir. Além disso, o filme insere uma crítica social sutil, porém impactante, ao abordar temas como abuso de poder e moralidade institucionalizada.

Apesar de algumas falhas na execução, “Pequenas Coisas Como Estas” se firma como um drama reflexivo e emocionalmente poderoso. Com questionamentos relevantes sobre ética e a busca pela verdade, o longa provoca no espectador uma inquietação persistente, mostrando que, muitas vezes, são as pequenas coisas que carregam os maiores significados.

Crítica – Presença é um drama de terror emocionante com uma reviravolta surpreendente

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Presença se apresenta inicialmente como uma obra do gênero “horror”, mas logo se afasta desse rótulo de maneira surpreendente. A trama, que se desenrola sob a perspectiva de um fantasma, acaba se revelando um drama familiar profundo, explorando emoções e dilemas pessoais, o que pode deixar o espectador confuso, especialmente aqueles que entram na sala de cinema esperando uma experiência de terror tradicional.

A proposta, ao que parece, poderia despertar curiosidade, mas os primeiros minutos falham em capturar a atenção do público. Em vez de mergulharem em uma narrativa tensa e envolvente, os espectadores se veem apenas curiosos, aguardando algo mais que os prendesse de fato à história. A expectativa é mantida pela promessa de uma reviravolta — uma reviravolta que, de fato, acontece nos minutos finais, fazendo com que o filme escape da superficialidade e ganhe um impulso inesperado.

E que reviravolta! O clímax final do longa-metragem é inesperadamente impactante, especialmente a cena conclusiva, que é repleta de tensão e emoção, provocando arrepios nos mais atentos. Essa reviravolta faz com que a proposta inicial, que parecia falha, encontre uma redenção momentânea, oferecendo uma experiência marcante ao público.

No entanto, ao refletir sobre a experiência como um todo, fica claro que a proposta original, vendida como um filme de horror, acabou gerando expectativas equivocadas. Se Presença fosse rotulado de maneira mais honesta como um “suspense dramático”, talvez os cinéfilos que buscavam momentos de genuíno terror tivessem uma experiência menos frustrante e mais satisfatória.

Em suma, a ideia central do filme tem grande potencial, mas sua execução não é capaz de cumprir totalmente o que foi prometido ao público. A reviravolta final, apesar de não salvar completamente o filme, certamente o torna memorável, ao deixar uma impressão duradoura nos espectadores.

Crítica – Acompanhante Perfeita é uma fusão instigante de humor, brutalidade e reflexões existenciais

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O longa Acompanhante Perfeita surpreende ao equilibrar habilmente esboços cômicos com momentos de violência brutal e discussões existenciais provocadoras. No cerne da narrativa, está a reflexão sobre a fronteira cada vez mais tênue entre humanos e robôs: será que as máquinas são realmente capazes de sentir emoções genuínas? E, em última instância, o que define a essência humana em contraste com algoritmos sofisticados?

A direção de Drew Hancock se destaca ao criar um ambiente narrativo que ora diverte, ora inquieta. O humor surge de forma precisa, quebrando a tensão em momentos oportunos, sem comprometer a seriedade das discussões propostas. O elenco entrega performances marcantes: Harvey Guillén traz leveza ao papel de Eli, um personagem vibrante e imprevisível, enquanto Jack Quaid interpreta Josh com uma combinação de ingenuidade e egoísmo que rende cenas memoráveis. A química cômica entre os dois adiciona uma dinâmica envolvente ao filme.

Sophie Thatcher, consolidada como um talento em ascensão nos gêneros de terror e ficção científica, oferece uma atuação visceral e cheia de nuances. Sua personagem enigmática se torna um dos pilares emocionais da trama. Jack Quaid, por sua vez, diverte ao ser deliciosamente detestável, enquanto Harvey Guillén conquista com uma atuação cativante. Rupert Friend merece destaque especial: sua encarnação de um soviético peculiar, cuja senha de cofre é a data de nascimento de Stalin, é uma sacada cômica inteligente que reflete o tom irreverente da produção.

Embora a clássica dicotomia entre homem e máquina possa parecer um tema saturado, Hancock reinventa a discussão com uma abordagem criativa. Sua narrativa presta homenagem a clássicos do gênero sem se tornar derivativa, trazendo frescor ao apresentar questões filosóficas relevantes em um mundo dominado pela inteligência artificial.

Acompanhante Perfeita marca uma estreia promissora para Hancock como diretor, demonstrando uma visão clara e segura. Mais do que um entretenimento leve, o filme provoca reflexões profundas e desafiadoras sobre o significado da humanidade em uma era tecnológica. Com uma execução inteligente e atuações cativantes, a obra se posiciona como uma experiência cinematográfica imperdível.

Crítica | Os Estranhos: Capítulo 2 entrega suspense eficiente, mas reserva poucas surpresas

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Os Estranhos: Capítulo 2 chega às telonas mantendo a essência do terror que consagrou o primeiro filme da franquia. Dirigido por Renny Harlin, o longa se propõe a continuar a narrativa de suspense e medo, apostando na familiar combinação de perseguições implacáveis, vilões mascarados e uma atmosfera opressiva que prende o espectador desde os primeiros minutos. A trama retoma diretamente os eventos do primeiro filme, permitindo que os fãs da série se conectem imediatamente com a história e com o destino de Maya, a protagonista interpretada de maneira convincente.

O ponto alto do filme está justamente na construção do suspense. Harlin consegue explorar a tensão de maneira consistente, utilizando planos fechados, iluminação estratégica e momentos de silêncio perturbador que antecedem os ataques dos antagonistas. As perseguições de Maya são intensas e, em muitos momentos, sufocantes, fazendo com que o público sinta quase fisicamente a urgência e o medo da personagem. Esse cuidado na direção contribui para que Os Estranhos: Capítulo 2 mantenha a mesma fórmula de sucesso do primeiro filme, demonstrando que a continuidade da trilogia pode ser coesa e bem estruturada, especialmente considerando que Harlin filmou simultaneamente os três filmes planejados.

No entanto, nem tudo é novidade. A narrativa segue uma fórmula relativamente previsível: a protagonista sendo caçada por vilões mascarados em cenários confinados. Para espectadores mais atentos ou familiarizados com o gênero, certos momentos podem parecer repetitivos ou clichês. Ainda assim, a execução é o que salva a experiência. A tensão é construída de forma gradual e eficaz, e a atmosfera de terror é reforçada por efeitos sonoros e pela trilha que acentua a sensação de perigo iminente. Maya, ao enfrentar não apenas os vilões, mas também as consequências traumáticas dos eventos anteriores, adiciona uma camada psicológica à trama, tornando a história mais envolvente e emocionalmente carregada do que poderia parecer à primeira vista.

Outro ponto relevante é o trabalho técnico do filme. A fotografia contribui significativamente para a imersão, utilizando sombras e ângulos oblíquos para criar um clima constante de inquietação. A montagem mantém o ritmo adequado, alternando momentos de calma inquietante com picos de tensão que garantem sustos precisos, sem recorrer a exageros gratuitos. A direção de arte e os cenários reforçam a sensação de isolamento e vulnerabilidade, elementos centrais da narrativa de horror que o público já esperava.

Em termos de atuação, Maya se destaca como uma protagonista resiliente, que transmite de forma convincente medo, angústia e determinação. O elenco de apoio cumpre bem seu papel, embora os antagonistas mascarados permaneçam como figuras misteriosas, mais funcionais para o terror do que desenvolvidos como personagens. Essa escolha mantém o foco na experiência sensorial do terror, mas limita a profundidade narrativa.

Os Estranhos: Capítulo 2 é um filme de terror sólido e eficiente. Ele pode não revolucionar o gênero, mas oferece exatamente o que promete: uma sequência cheia de suspense, tensão e momentos de puro medo. Para os fãs da franquia, o filme cumpre sua função de dar continuidade à história de Maya de maneira coesa e emocionante. Já para os espectadores casuais, é uma experiência intensa, que garante sustos e mantém a atenção do início ao fim. A previsibilidade da trama é compensada pela execução primorosa do suspense, provando que, no terror, a maneira de contar a história muitas vezes vale tanto quanto a própria novidade narrativa.

Crítica – Jurassic World: Recomeço é um espetáculo visual que honra a franquia

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Quando a franquia Jurassic Park estreou nos anos 90, ela redefiniu o conceito de espetáculo cinematográfico. Trinta anos depois, Jurassic World: Recomeço tenta equilibrar respeito ao passado com ambições de um novo começo. E embora não revolucione a fórmula, entrega uma produção visualmente deslumbrante, com momentos de pura adrenalina.

Dirigido por Gareth Edwards (Godzilla, Rogue One), o filme impressiona desde os primeiros minutos com sua escala grandiosa e direção segura. O cineasta tem um olhar aguçado para criar tensão e impacto visual, e sabe exatamente como construir a sensação de que o ser humano voltou a ser minúsculo diante das forças da natureza.

🧬 Scarlett Johansson lidera com força e sutileza

Scarlett Johansson estreia com brilho na franquia como Zora, uma cientista marcada por decisões do passado. A atriz traz intensidade emocional e presença magnética, conseguindo transmitir complexidade mesmo quando o roteiro não aprofunda tanto suas motivações. Sua atuação é um dos grandes destaques e confere credibilidade a uma trama que poderia facilmente escorregar para o exagero.

O elenco de apoio também se sai bem, com boas performances e química em cena. Embora falte espaço para desenvolvimentos mais robustos, todos entregam o necessário para manter a história em movimento — com empatia, leveza e ritmo.

🦕 Dinossauros imponentes, ação na medida certa

Se há uma promessa que Recomeço cumpre com louvor, é a de oferecer um verdadeiro show de criaturas pré-históricas. Os efeitos visuais são excepcionais, e as sequências de ação têm energia e coreografia bem resolvidas. Há dinossauros novos, mutações intrigantes e até um toque de terror em certos momentos. O design sonoro e a trilha também ajudam a construir a atmosfera de aventura com tensão constante.

Mais do que sustos e perseguições, o filme também acerta ao apresentar uma ambientação que mistura o tecnológico e o selvagem, refletindo o caos gerado por décadas de manipulação genética. Essa fusão entre passado e futuro é um dos temas que Recomeço aborda com mais consistência.

🔄 Um recomeço cauteloso, mas promissor

Apesar do título ambicioso, o roteiro ainda se prende a estruturas familiares. Elementos como a corporação vilanesca, a criatura que escapa do controle e o embate final grandioso já são conhecidos do público. Mas, diferentemente dos últimos filmes da trilogia World, aqui há mais equilíbrio entre nostalgia e avanço. O filme não tenta apagar o passado, mas dialoga com ele — e isso já representa um progresso.

Há, sim, espaço para mais ousadia em filmes futuros, principalmente em termos temáticos e dramáticos. Mas Recomeço serve como uma ponte bem construída entre o que foi e o que pode vir. Ele planta sementes para uma nova fase — mais sombria, mais reflexiva e, quem sabe, mais surpreendente.

🎬 Uma aventura digna, com alma blockbuster e coração clássico

Jurassic World: Recomeço talvez não seja o capítulo mais inovador da saga, mas é um dos mais bem executados da era moderna. Com visual arrebatador, ritmo eficiente e uma protagonista forte, o longa cumpre seu papel de entretenimento com qualidade.

É o tipo de filme que vale ser visto na tela grande — não apenas pelos dinossauros, mas pelo esforço sincero de entregar algo relevante dentro de uma franquia marcada por altos e baixos. Um recomeço que pode, com os ajustes certos, levar a um novo auge.

Crítica | Ao Seu Lado é um romance que fala mais de solidão do que de amor

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Dirigido por Matt Carter, Ao Seu Lado é um filme que começa com a promessa de algo diferente no cinema LGBTQIA+: um olhar sobre afetos masculinos no ambiente esportivo, longe dos estereótipos clássicos. A ambientação num clube de rúgbi gay, os South London Stags, já sinaliza que o longa deseja mostrar um recorte mais autêntico e menos idealizado das relações entre homens gays. No entanto, apesar de alguns acertos estéticos e dramáticos, o filme tropeça na própria hesitação em ir mais fundo nos sentimentos que tenta retratar.

O enredo acompanha o envolvimento secreto entre dois jogadores do time, Mark (Alexander Lincoln) e Warren (Alexander King), ambos em relacionamentos comprometidos — e, em algum nível, estagnados. O desejo entre eles nasce rápido, quase impulsivo, e se sustenta ao longo do filme por encontros furtivos, olhares cúmplices e silêncios incômodos. Mas Ao Seu Lado não é sobre paixão arrebatadora. É sobre carência. Sobre duas pessoas tentando se agarrar uma à outra para escapar da própria solidão.

Nesse ponto, o filme é honesto, mas também frustrante. O romance nunca ganha a força necessária para nos fazer torcer por ele de verdade. E talvez esse seja justamente o maior acerto e também o maior problema da obra: Carter não quer contar uma história de amor idealizado. Ele quer expor as contradições de um relacionamento construído na sombra, nas ausências, na falta de coragem. Só que o roteiro parece preso em uma indecisão constante — entre o drama íntimo e o romance tóxico — e essa hesitação transparece em cenas longas demais, diálogos repetitivos e uma certa apatia emocional que contamina a narrativa.

A construção visual do filme é cuidadosa, a fotografia é elegante e a trilha sonora discreta, o que reforça o tom mais contemplativo. Mas o ritmo lento cobra seu preço. Em alguns momentos, o longa parece girar em círculos, insistindo em dilemas que não avançam e em personagens que evitam qualquer real transformação. Falta conflito interno mais elaborado, falta coragem narrativa. Quando o clímax chega, já estamos emocionalmente distantes.

Ainda assim, Ao Seu Lado tem seu valor. Ele retrata a fragilidade dos vínculos humanos com sensibilidade. Mostra que, mesmo dentro de um espaço seguro e acolhedor como um time gay, ainda carregamos nossos medos, vícios emocionais e a tendência a repetir velhos erros. O filme fala sobre infidelidade, sim, mas mais do que isso, fala sobre a dificuldade de sermos inteiros diante do outro — e de nós mesmos.

Crítica | Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025) renova o clássico com suspense e emoção

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Mais de 25 anos após o lançamento do clássico que definiu o slasher para uma geração inteira, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado retorna em 2025 com um novo olhar, novas vítimas e a mesma sombra aterrorizante do passado. A produção dirigida por Jennifer Kaytin Robinson — conhecida por sua abordagem sensível e moderna sobre juventude e culpa — não é apenas uma releitura do original, mas uma extensão sombria e emocional da mitologia que se iniciou em 1997.

Com roteiro de Leah McKendrick, baseado no romance homônimo de Lois Duncan, o filme traz um elenco jovem liderado por Madelyn Cline, Chase Sui Wonders e Jonah Hauer-King, que vivem cinco amigos marcados por um segredo mortal. A nova versão mescla tensão psicológica, violência gráfica e uma forte carga emocional, que explora não só o trauma coletivo, mas também a herança de uma cidade ainda marcada pelo chamado Massacre de Southport — evento ocorrido na linha do tempo do filme original.

A nova trama: fantasmas do passado em corpos jovens

Logo nos primeiros minutos, o filme estabelece a atmosfera densa e moralmente ambígua que vai permear toda a narrativa. Em uma noite aparentemente comum de verão, cinco amigos celebram o fim do ensino médio. A embriaguez, a euforia e uma série de escolhas impulsivas culminam em um trágico acidente: um pedestre é atropelado e morre na hora. O grupo, tomado pelo pânico, decide esconder o corpo e jurar segredo.

O que parecia um pacto entre amigos se transforma em um pesadelo meses depois, quando todos passam a receber mensagens ameaçadoras: “Eu sei o que vocês fizeram.” O que começa como uma brincadeira mórbida vira terror absoluto quando um misterioso assassino com um gancho começa a persegui-los. Cada membro do grupo é confrontado não apenas com a morte iminente, mas com a culpa que os consome desde aquela noite. No entanto, à medida que investigam os ataques, descobrem que não são os primeiros a viver esse inferno: o passado do massacre de 1997 ainda ecoa.

Em uma virada engenhosa, o roteiro conecta os novos protagonistas aos sobreviventes originais do primeiro filme. Eles buscam a ajuda dos únicos que enfrentaram e sobreviveram ao maníaco há mais de duas décadas. O que parecia apenas um reboot se transforma em um capítulo adicional e sombrio de uma saga sobre culpa, arrependimento e vingança.

Direção afiada e tensão contínua

Jennifer Kaytin Robinson, que já havia demonstrado domínio sobre dilemas juvenis em Alguém Avisa? e Do Revenge, aqui se mostra à vontade no campo do terror, trazendo profundidade emocional sem sacrificar o suspense. Ela entende que o verdadeiro horror não está apenas no monstro com gancho — mas no que somos capazes de fazer uns com os outros para sobreviver ou esconder nossas falhas.

A cineasta também acerta ao utilizar um ritmo cadenciado que equilibra sustos brutais com momentos mais introspectivos. A violência é gráfica, mas nunca gratuita. Ela serve como extensão da dor interna dos personagens, um reflexo físico da culpa que carregam.

A fotografia é escura e opressiva, com uso frequente de névoa e sombras para esconder (e, por vezes, revelar) os perigos que se aproximam. Southport, a cidade fictícia que retorna como cenário, é mostrada como um lugar corroído por tragédias antigas, onde o tempo não apaga os pecados — apenas os esconde melhor.

O elenco: juventude à beira do abismo

Madelyn Cline, conhecida por Outer Banks, entrega uma performance tensa e cativante como a jovem líder do grupo, Emma. Sua personagem oscila entre o desespero e a tentativa de controle, encarnando uma figura que tenta manter todos unidos enquanto o medo os fragmenta. Já Chase Sui Wonders e Jonah Hauer-King interpretam, respectivamente, a melhor amiga de Emma e seu ex-namorado — ambos com segredos próprios que aumentam a tensão interna.

O filme também se destaca ao trazer de volta — em participações especiais e significativas — personagens ligados ao longa original. Embora a produção tenha mantido em sigilo a identidade dos veteranos que retornam, o impacto da conexão é profundo, reforçando que o mal em Southport não tem prazo de validade.

Temas profundos: culpa, juventude e o preço do silêncio

Mais do que um simples filme de terror, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025) é um estudo sobre juventude, responsabilidade e as consequências dos atos impensados. Ele reflete sobre o pacto do silêncio, frequentemente feito por medo ou vergonha, e como isso afeta toda uma comunidade.

Há uma discussão sutil sobre redes sociais, cancelamento e a nova forma de punição pública na era digital — algo impensável na época do filme original. O assassino, neste contexto, não é apenas um justiceiro mascarado: ele é a encarnação da vergonha e da verdade que sempre vem à tona, mesmo após anos de negação.

Além disso, a obra propõe uma reflexão sobre o trauma geracional. Ao revisitar os sobreviventes de 1997, o roteiro aponta para um ciclo de violência e omissão que se repete, mostrando que lidar com o passado é o único caminho para evitar novas tragédias.

Um novo fôlego para o horror teen

Enquanto muitos reboots se contentam em reciclar fórmulas, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025) surpreende ao não temer caminhar por novas rotas, mesmo que arriscadas. A produção aposta em um tom mais sombrio, psicológico e maduro, abraçando o slasher com mais consistência e menos dependência de sustos fáceis.

Ao introduzir uma mitologia própria — com pistas de que há algo maior, quase sobrenatural, por trás dos eventos de Southport — o filme abre caminho para possíveis continuações ou até uma minissérie. Em tempos em que o horror teen parecia esgotado, esta produção mostra que ainda há espaço para histórias bem contadas, com emoção e crítica social.

Um dos grandes filmes de terror do ano

Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025) cumpre a difícil missão de reviver um clássico cult e, ao mesmo tempo, se estabelecer como uma obra relevante, independente e emocionalmente forte. É uma história de culpa e redenção, de erros que não podem ser apagados e de como o medo — quando nutrido em silêncio — pode virar um monstro real.

Para os fãs do original, é um retorno ao lar (assustador, mas necessário). Para os novos espectadores, é um convite ao pesadelo moderno, onde o horror não está apenas no escuro — mas no espelho.

Crítica – Os Radley apresenta humor leve e diversão com vampiros nada convencionais

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À primeira vista, os Radley parecem uma família absolutamente comum. Eles levam uma vida regrada no subúrbio, participam de clubes do livro, trabalham em carreiras bem estabelecidas e criam dois filhos adolescentes que seguem a rotina escolar sem grandes sobressaltos. São vizinhos respeitáveis, discretos e aparentemente perfeitos em sua normalidade. Mas essa imagem impecável é apenas um disfarce: por trás das cortinas fechadas e das refeições aparentemente inofensivas, eles escondem um segredo sombrio—são vampiros que decidiram reprimir sua verdadeira natureza para viver em sociedade sem despertar suspeitas.

Esse autocontrole, no entanto, é colocado à prova quando a jovem Clara se vê envolvida em uma situação inesperada e violenta, despertando um instinto adormecido que ela sequer sabia que existia. A partir desse momento, a família é arrastada para um turbilhão de caos e confusão, tentando desesperadamente restaurar a aparência de normalidade. Mas, como qualquer segredo bem guardado, a verdade não demora a se espalhar, trazendo à tona segredos do passado, paixões proibidas e um jogo de aparências que se torna cada vez mais difícil de sustentar.

Apesar da premissa sobrenatural, Os Radley não se propõe a ser um terror denso ou assustador. Em vez disso, aposta em um tom leve, flertando com a comédia britânica e equilibrando momentos cômicos com uma crítica sutil às convenções sociais. O enredo, embora simples e sem grandes reviravoltas, funciona dentro do que se propõe: entreter sem exigir muito do espectador. Os diálogos podem não ser marcantes, mas o roteiro entrega situações absurdas e engraçadas que garantem boas risadas.

Com a direção segura de Euros Lyn e um elenco carismático que se encaixa bem nos papéis, o filme adapta o livro homônimo de Matt Haig para o cinema sem grandes pretensões, mas com um charme que torna a experiência agradável. Estreando nos cinemas brasileiros em 27 de fevereiro pela Paris Filmes, Os Radley pode não ser um marco no gênero, mas é uma escolha certeira para quem busca um entretenimento descomplicado, divertido e repleto de vampiros pouco convencionais.

Crítica – Família de Aluguel observa afetos terceirizados e a solidão em uma cidade estrangeira

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Família de Aluguel acompanha Phillip, interpretado por Brendan Fraser, um ator americano vivendo em Tóquio que tenta reorganizar a própria trajetória profissional enquanto lida com a frustração de uma vida que não se concretizou como imaginava. Estrangeiro em múltiplos sentidos, ele carrega o peso do deslocamento cultural, do fracasso artístico e de uma solidão que se impõe de forma constante e silenciosa.

Para sobreviver financeiramente, Phillip passa a trabalhar para uma agência especializada em serviços de substituição afetiva. Seu ofício consiste em ocupar lugares simbólicos na vida de desconhecidos. Ele atua como pai de uma menina, finge ser um jornalista interessado na obra de um escritor esquecido pela mídia e assume outros papéis que exigem escuta, empatia e encenação emocional. São vínculos temporários, rigidamente regulados por contratos, horários e pagamentos, nos quais a presença é real, mas a relação tem prazo de validade.

A partir dessa premissa, o filme constrói uma reflexão delicada sobre a solidão contemporânea e a mercantilização dos afetos. Ao transformar cuidado, companhia e atenção em serviço, a narrativa expõe um mundo onde até a intimidade pode ser organizada como produto. A abordagem evita julgamentos diretos e prefere observar os pequenos gestos, os silêncios constrangedores e as tensões que emergem desses encontros provisórios, deixando que o desconforto fale por si.

A solidão retratada não se limita à ausência de companhia física. Ela surge como um estado permanente de observação do outro, de tentativas frustradas de conexão e de vínculos que nascem já condenados à interrupção. Mesmo quando o filme empurra seus personagens para o isolamento, preserva um fio invisível de desejo, memória e necessidade de pertencimento. É nesse espaço ambíguo que a obra encontra sua camada mais melancólica.

Brendan Fraser entrega uma atuação contida e precisa, equilibrando humor sutil e dramaticidade sem recorrer a excessos. Seu Phillip é um homem marcado por expectativas interrompidas e por uma identidade profissional que nunca se consolidou plenamente. Ainda assim, o filme opta por não aprofundar de forma mais incisiva as relações construídas durante os serviços prestados, o que reduz o impacto emocional de situações que se anunciam potentes, mas acabam resolvidas de maneira rápida ou superficial.

Dirigido por Hikari, cineasta reconhecida também por seu trabalho na série Tapa, da Netflix, o longa adota uma mise en scène discreta e contemplativa. Visualmente, constrói se como uma espécie de retrato melancólico de Tóquio, apresentada não apenas como cenário, mas como extensão emocional do protagonista. A cidade surge organizada, silenciosa, pulsante e, ao mesmo tempo, profundamente solitária, refletindo o estado interno de Phillip.

Família de Aluguel é um filme sobre a importância da presença, da memória e dos afetos, mesmo quando mediadas por contratos e performances. Um retrato delicado e triste sobre a tentativa de conexão em um mundo que transforma até o sentir em serviço. Embora nem sempre alcance a profundidade emocional que sua proposta sugere, o longa se sustenta pela sensibilidade do olhar e pela melancolia discreta que atravessa toda a narrativa.

Crítica – Nascido para Vencer é uma jornada de redenção com coração, lutas e clichês

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Nascido para Vencer apresenta uma trama que, embora siga o caminho familiar de filmes sobre luta e superação, se destaca por um toque humano capaz de manter o espectador envolvido do começo ao fim. A história gira em torno de Mickey Kelley (interpretado por Sean Patrick Flanery), um homem que busca redenção após se afastar do mundo das artes marciais, tentando reconstruir sua vida e encontrar equilíbrio com sua família. O enredo, com sua abordagem sobre a luta interna contra as adversidades da vida, é um clássico exemplo de superação, um tema sempre emocionante e profundo. A transição de Mickey de um campeão de jiu-jitsu para um homem em busca de uma vida mais pacífica é retratada de forma eficaz, equilibrando cenas de ação intensas com momentos de introspecção, que revelam suas vulnerabilidades e dilemas pessoais.

Porém, como é comum no gênero, a narrativa peca ao cair em alguns clichês e padrões previsíveis, o que tira um pouco da originalidade da trama. Mesmo assim, o filme consegue manter o interesse do público com seu ritmo envolvente e as atuações sólidas do elenco. Sean Patrick Flanery faz um trabalho convincente ao interpretar Mickey, conseguindo transmitir tanto a vulnerabilidade quanto a força interior de seu personagem, o que faz com que o público se conecte emocionalmente com sua jornada. Dennis Quaid, como o mentor de Mickey, traz uma performance emocionalmente rica, com uma sensibilidade que complementa bem o papel de guia do protagonista. No entanto, o filme não se aprofunda tanto nos personagens secundários, que, embora bem interpretados, acabam sendo bastante superficiais, não deixando um impacto duradouro.

A química entre Flanery e Katrina Bowden, que interpreta a esposa de Mickey, é um dos pontos positivos, e embora o roteiro ofereça uma boa dinâmica entre o casal, há uma sensação de que esse relacionamento poderia ter sido mais explorado, revelando mais sobre as complexidades dessa parceria e os desafios que ela enfrenta. A relação deles, que é uma parte central da jornada de Mickey, se sente um pouco negligenciada, o que impede o filme de atingir seu potencial máximo de profundidade emocional.

No que diz respeito à ação, o filme não decepciona. As cenas de luta são bem executadas, intensas e realistas, com coreografias de MMA e jiu-jitsu que agradam os fãs do esporte. A energia das lutas é bem capturada, e isso mantém a tensão alta, mesmo nas cenas mais calmas. No entanto, a ausência de um grande conflito ou de uma reviravolta impactante no enredo faz com que o filme não se destaque tanto entre outros do mesmo gênero. Apesar disso, Nascido para Vencer ainda oferece uma história inspiradora de superação, honra e redenção pessoal, tocando em temas universais de luta, perda e recomeço.

Em resumo, embora o filme tenha seus méritos, como uma execução técnica eficiente, atuações consistentes e uma mensagem positiva, ele peca pela previsibilidade e pela falta de um elemento surpreendente que o faça se destacar no gênero. Para quem busca uma trama simples, porém emocionante, pode ser uma boa escolha de entretenimento, mas aqueles que esperam algo mais inovador e imprevisível podem achar a experiência um pouco aquém das expectativas.

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